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Ata reafirma que corte de juro ainda demora

Veículo: Valor Economico 

Seção: Finanças 

A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou a mensagem de que, enquanto as expectativas de inflação não estiverem em linha com a meta de 4,5% e as medidas de ajuste fiscal não forem encaminhadas, não será possível iniciar o esperado ciclo de alívio monetário. Para analistas, isso significa que uma redução dos juros só pode ocorrer a partir de outubro ­ com risco, inclusive, de ser postergada. Mais curta e objetiva do que as anteriores, em linha com o novo estilo de comunicação da diretoria do BC comandada por Ilan Goldfajn, a ata elenca as variáveis que estão sendo observadas na definição da política monetária: inflação corrente, inércia inflacionária, ajuste fiscal e expectativas de inflação. A inflação corrente e a inércia podem ser equilibrar com a perspectiva de recuo nos preços dos alimentos e também com a ociosidade no mercado de trabalho. 

Os pontos que inspiram mais cautela, portanto, são as expectativas e a evolução fiscal. O Copom reafirma o que já havia dito no comunicado da decisão, de que a projeção para o IPCA em 2017 no cenário de referência ­ que considera a manutenção da Selic em 14,25% e um câmbio de R$ 3,25 ­ está ao redor de 4,5%. Mas que, no cenário de mercado, ainda está em 5,3%. Essa diferença, segundo o BC, indica que o processo de desinflação tem ocorrido em velocidade "aquém da almejada". O comitê enfatiza que o ajuste na economia, em especial as reformas fiscais, é necessário para facilitar e reduzir o custo do processo de desinflação. Ou seja, que sem a garantia dessas medidas ­ em especial a definição do teto de gastos, na leitura dos analistas ­ não é possível começar a cortar os juros. Sobre esse tema, o BC descreve a falta de consenso entre os diretores: embora todos considerem que o ajuste fiscal é "fundamental", há dúvidas sobre a velocidade em que essas medidas ocorrerão. E isso significa que a evolução da reforma fiscal representa tanto um "risco" quanto uma "oportunidade". 

Além disso, "os membros do Comitê ressaltaram que o ajuste das contas públicas pode envolver medidas com impactos diretos desfavoráveis sobre a inflação e que esse é um risco a ser monitorado". Um exemplo pode ser o aumento da Cide, o que encareceria os combustíveis e elevaria a inflação. "O Copom deixa claro aí que o que importa não é só o ajuste fiscal em si, o cumprimento de uma meta numérica, mas sim a qualidade desse ajuste. E esse ajuste precisa ocorrer via corte de despesas, não aumentos de receitas", diz o economista­chefe do banco, Haitong, Jankiel Santos. Ele revisou sua projeção e espera um corte de 0,25 ponto em outubro, e não mais de 0,5 ponto, com risco do corte ser adiado para novembro. No fim do ciclo, Santos espera que a Selic esteja em 11,25% ao ano.

Para o economista do Itaú Unibanco, Caio Megale, o Copom deve começar a cortar os juros em outubro, com uma dose de 0,25 ponto, e levará a taxa a 10% em 2017. "O risco é que o corte comece mais tarde, em novembro." Megale acredita que, até outubro, o cenário político estará definido, o que eleva a chance de implementação dos ajustes fiscais. Ele observa que, a partir de outubro, a política monetária passará a ter efeito direto sobre a inflação de 2018, e não mais de 2017. "A partir de outubro, o IPCA estar acima da meta em 2017 não poderá mais ser impedimento para que o BC comece a cortar os juros. Mas é fato que a ata confirma que ele não está com pressa." Gustavo Loyola, ex­presidente do BC e sócio da Tendências Consultoria, espera queda de juros somente em novembro. Seu cenário­base prevê que, após a confirmação do impeachment, o BC terá do Congresso e do governo sinais mais contundentes de que o ajuste fiscal avançará, algo que deve centrar em um primeiro momento a PEC que limita aumento de gastos. Dessa forma, "eventualmente" o BC pode começar a derrubar os juros mesmo com as expectativas de inflação para 2017 ainda acima de 4,5%. Diante disso, o BC tem aproveitado para fortalecer o uso de uma comunicação mais clara como arma para ancorar os preços. 

O estrategista­chefe do Mizuho Brasil, Luciano Rostagno, também vê espaço para corte de juro em outubro. Mas ressalta que "o avanço mais lento das medidas de ajuste fiscal pode postergar a redução", com risco, inclusive, de esse alívio não ocorrer este ano. "O tempo político está aquém do necessário porque o governo não está conseguindo entregar resultados", diz. O ex­presidente do BC Carlos Langoni acredita que os membros do Copom querem ver sinais "concretos" de que medidas fiscais serão aprovadas ainda este ano, o que indicaria evolução do ajuste das contas públicas. "Se houver um sinal claro de que o Congresso aprovará a mudança constitucional [PEC dos gastos], não abandono o cenário de que o juro comece a ser cortado em novembro", diz, acrescentando que o Copom sugere que o ajuste fiscal ideal é o que não contempla alta de imposto.



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