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Empresas demitem mais antigos para reduzir a folha de salários

Veículo: Valor Economico 

Seção: Brasil 

Cortando funcionários mais antigos e reduzindo a remuneração paga aos recém­contratados, o mercado formal continua fazendo um ajuste forte sobre os salários. Entre janeiro e maio, o volume de desligamentos entre os trabalhadores que estavam entre um e dois anos e há mais de dois anos no emprego avançou 5,8% e 7%, nessa ordem, sobre igual período de 2015, um total de 547 mil pessoas. Dentro do recorte, essas foram as únicas categorias em que o número de demissões cresceu neste início de ano. No total, elas caíram 17,3% em relação ao ano passado, somando 6,6 milhões. O saldo do Caged tem repetido resultados negativos porque o volume de admissões vem recuando ainda mais ­ 20,5% nos primeiros cinco meses do ano, 6,3 milhões ­ e, assim, não tem sido suficiente para repor as vagas que são fechadas. É essa combinação que tem feito o emprego com carteira assinada encolher desde o ano passado. Em maio, ele retrocedeu ao nível de 2012, 39,2 milhões. 

Nos cinco primeiros meses deste ano, o valor pago aos admitidos sob regime CLT recuou 1,7% em termos reais em relação ao mesmo período de 2015. Na mesma comparação, a remuneração daqueles que perderam o emprego era 1,1% maior do que no mesmo período do ano passado, também descontada a inflação. A desaceleração fica ainda mais clara quando se comparam as duas variáveis. A relação entre o salário de contratação e desligamento é usada por economistas como uma espécie de termômetro do mercado de trabalho ­ quanto mais próxima de 1, mais aquecido ele está, e vice­versa. Após ter atingido o pico de 0,937 em março de 2012, a relação entre as duas remunerações, levando­se em conta a média móvel em 12 meses, vem perdendo fôlego continuamente. Ela ultrapassou em fevereiro o nível de outubro de 2009, período da última grande desaceleração, e seguiu se deteriorando nos meses seguintes. 

"Muita gente que perdeu o emprego e conseguiu se recolocar acabou aceitando ganhar menos. Os novos entrantes também estão recebendo menos do que se pagava um ano atrás", diz o economista Fabio Romão, da LCA Consultores. A descompressão, observa, é disseminada entre os principais setores. A indústria, que reage mais rapidamente aos ciclos econômicos, tem visto a relação entre os salários se deteriorar há mais tempo. "Esse é o reflexo de um ajuste muito forte pelo qual o setor passou", afirma Romão. Os serviços, último segmento a sentir os impactos negativos da recessão, sofreram uma desaceleração maior recentemente. 

Os salários de contratação devem perder ainda maior fôlego nos próximos meses, na avaliação do economista Igor Velecico, do Bradesco. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que, segundo ele, têm conseguido antecipar a tendência da renda no Caged, apontam um nível entre 6% e 7% de avanço da remuneração, em termos nominais, contra os 8% observados atualmente. Esse cenário reforça a perspectiva de que os saldos do Caged devem ser cada vez menos negativos nos próximos meses. Do ponto de vista macroeconômico, afirma Velecico, quanto maior o aperto dos salários menor será o peso do ajuste sobre o estoque de vagas. "Essa virada já aconteceu." 

Para o economista do Bradesco, o ritmo de corte de postos de trabalho com carteira no país, dos atuais 100 mil observados nos últimos meses, segundo a série dessazonalizada pelo banco, deve diminuir paulatinamente até chegar próximo de zero em dezembro. A indústria, ele destaca, será a primeira a inverter o sinal. Assim, o saldo fechado do ano seria negativo em 840 mil empregos, quase metade das perdas apuradas em 2015, 1,6 milhão. Na projeção da LCA Consultores, um pouco mais pessimista, o resultado deste ano ainda é menos negativo, com 1,1 milhão de postos fechados. Helio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA­USP) afirma que, se houvesse alguma flexibilidade na legislação trabalhista ­ que estipulasse que uma parcela da remuneração poderia ser variável, uma espécie de participação mensal nos resultados, medida vigente em países como o Japão ­, o ritmo de demissões e de corte de salários nos períodos recessivos seria menos intenso. "O ajuste seria menos doloroso", diz. 

Ainda que a redução dos salários venha sendo expressiva, ele acrescenta, a situação das empresas está longe de ser confortável. Os reajustes fechados nas negociações coletivas deste ano, lembra Zylberstajn, que coordena o boletim "Salariômetro" da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), têm oscilado em torno da inflação acumulada em 12 meses, que roda em patamar elevado. "Mesmo sem aumento real, as empresas enfrentam uma alta de custos significativa e por vezes optam por cortar os salários mais altos para atender esse crescimento." O economista conta que recebeu recentemente um pedido da equipe brasileira de uma multinacional para que o boletim, que acompanha mensalmente os resultados de todos os acordos e convenções coletivas registrados pelo Ministério do Trabalho, fosse editado também em inglês. "Eles dizem que a matriz não consegue entender por que os salários ainda crescem em alguns setores." 



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