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Varejo recua 1% em maio e mercado projeta pior desempenho desde 2001

Veículo: Valor Economico 

Seção: Brasil 

A comemoração do Dia das Mães, um dos eventos mais importantes do ano para o varejo, e a melhora nos índices de confiança do consumidor não foram suficientes para impedir mais um desempenho ruim do varejo em maio. A queda de 1% no conceito restrito, na comparação com abril, na série com ajuste sazonal, contrariou as expectativas do mercado, que previa, segundo média de 20 estimativas colhidas pelo Valor Data, uma alta de 0,4%. Mesmo as instituições que tinham projeções mais pessimistas avistavam recuo bem menor, de 0,2%. A surpresa negativa, na avaliação de economistas, veio de segmentos com menor peso na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) e que carecem de indicadores antecedentes, entre eles o ramo de artigos de uso especial e doméstico, cujas vendas em volume encolheram 2,4% em relação a abril, após avançarem 1,7% no mês anterior. Essa atividade inclui lojas de departamentos e de itens para casa, que geralmente têm bom desempenho em meses de maio. No mesmo período do ano passado, por exemplo, havia crescido 3,8% sobre abril. 

Apesar do número pior que o esperado, consultorias e instituições financeiras não mudaram o cenário para o consumo neste ano, que deve se manter fraco nos próximos meses e registrar o pior resultado desde 2001. A avaliação é que volatilidades observada desde o início do ano ­ a PMC tem alternado quedas e altas desde janeiro nas comparações mensais ­ é comum quando um indicador se aproxima da estabilização. Para especialistas, o fundo do poço do varejo deve ficar mais claro no terceiro trimestre. No confronto com abril, seis das oito atividades acompanhadas no segmento restrito tiveram desempenho negativo. Graças ao aumento de 1% das vendas de automóveis, movimento já sinalizado nas pesquisas realizadas pelas entidades que representam o setor, o varejo ampliado recuou 0,4%, contra quedas de 1,5% e de 1,3% em abril e março, nessa ordem. 

O economista Paulo Neves, da LCA Consultores, observa que os principais setores do varejo restrito ­supermercados, tecidos, vestuário e calçados e móveis e eletrodomésticos ­ mantêm um comportamento consistente com a atividade, afetada pelo aumento do desemprego, pela renda ainda em queda e pelas restrições de crédito. "Tivemos uma surpresa bastante negativa nesses itens menores, extremamente voláteis e difíceis de serem projetados com base nos dados de renda e crédito", diz. Em maio, afirma Neves, as taxas de juros para bens duráveis (exceto veículos) chegaram a subir mais uma vez, passando de 95,4% ao ano para 96%, de acordo com as informações do boletim de política monetária do Banco Central. A queda de 1,3% nas vendas em volume de móveis e eletrodomésticos em maio estão entre as principais contribuições para a retração do indicador na comparação com abril. Após o resultado de ontem, a LCA revisou sua estimativa para a queda do varejo restrito no ano, até então uma das menos pessimistas, de 4% para 5%. 

As apostas de que o comércio poderia repetir um resultado positivo como o observado em abril, afirma o economista da GO Associados, Luiz Fernando Castelli, estavam muito baseadas na inflexão dos indicadores de confiança, enquanto renda e acesso a crédito, os principais determinantes para o consumo, seguem bastante comprometidos. "Em abril, a PMC surpreendeu para cima [alta de 0,3%], agora, para baixo. É provável que essa volatilidade continue nos próximos meses, até que o fundamentos se recuperem", ele afirma. A avaliação da gerente da coordenação de serviços e comércio do IBGE, Isabella Nunes, para quem a melhora nos indicadores de confiança ainda não apareceu no desempenho do comércio, é semelhante. "Não há uma melhora efetiva, porque o mercado de trabalho ainda não se recuperou". O dado de maio foi o pior para o mês desde 2001, início da série histórica. Nesse período, as vendas em volume do varejo recuaram 12,2% em relação ao melhor momento, registrado em novembro de 2014, aproximando­se do nível de dezembro de 2011. 

Além do movimento mais fraco das vendas para o Dia das Mães, os dados da PMC indicam que aqueles que foram às compras optaram por presentes mais baratos, observa a economista­chefe da Rosenberg Associados, Thais Zara. As vendas de categorias como a de vestuário e calçados, ressalta, continuaram crescendo em maio ­ 1,5% no confronto com abril ­, enquanto as de material para escritório e comunicação, que inclui produtos como celulares, por exemplo, recuou 2%, já descontadas as influências sazonais. "Os indicadores antecedentes não captaram esse movimento", diz. A economista chama atenção ainda para o deflator da pesquisa, que, ao contrário da inflação oficial, segue acelerando no acumulado em 12 meses. A PMC é corrigida por uma reponderação de subitens do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), na qual os gêneros alimentícios, que se mantiveram bastante pressionados no segundo trimestre, têm peso importante. "Esse é mais um elemento que reduz a renda real", diz Thais, observando que o volume de vendas e o deflator costumam ter trajetórias contrárias ­ quando um acelera, o outro recua. 

A descompressão dos preços, segundo Thais, será determinante para a estabilização do consumo, à medida que aumenta a renda real disponível e permite uma política monetária mais frouxa por parte do BC. No cenário da Rosenberg, a PMC começa a se estabilizar no terceiro trimestre e fecha o ano com queda de 5,5%. Para 2017, a expectativa é de alta de 1,8%, uma estimativa ainda bastante dependente do desempenho do mercado de trabalho e da trajetória da taxa de juros nos próximos meses. A GO também enxerga o fundo do poço no terceiro trimestre, com resultados menos negativos da PMC na comparação anual no decorrer do segundo semestre. A queda esperada para 2016 é de 4,5%, com modesta recuperação no ano seguinte, alta de 1,5%.



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