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Melhora do cenário externo favorece real

Veículo: Valor Economico

Seção: Finanças 

Em meio ao movimento de recuperação das moedas emergentes frente ao dólar, o real tem ganhado um impulso extra pelo fato de que o novo presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, tem evitado fazer intervenções no mercado, ao contrário de seu antecessor. Nesta semana, o dólar perdeu ainda mais terreno em relação às divisas emergentes por causa da aposta de que os estímulos monetários que hoje vigoram no mundo podem ser reforçados após a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia ("Brexit"). Ou seja, o evento que prometia gerar aversão a risco começa a alimentar a busca por rentabilidade, o que beneficia diretamente o real, dada a alta taxa de juros no Brasil. 

Para o economista­chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, o "Brexit" reforçou as apostas na postergação da alta dos juros nos EUA. O Safra trabalha com uma alta da taxa de juros americana neste ano, inferior à projeção do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) que apontava para duas elevações neste ano. Esse elemento se soma à melhora do cenário externo para emergentes que já se observava, diante da perspectiva da adoção de políticas monetárias acomodatícias pelos bancos centrais e justifica a redução da projeção do banco para o dólar para R$ 3,20 no fim de 2016 e R$ 3,30 em 2017.

"O menor crescimento esperado para o mundo desenvolvido, mais afrouxamento monetário e atraso na normalização das taxas de juros pelo Fed [Federal Reserve, banco central americano] podem levar o real a continuar tendo um desempenho melhor, sinalizando que a procura global por retornos continuará sendo uma importante variável para fluxos a emergentes no segundo semestre", dizem os economistas do J.P. Morgan em relatório. O banco revisou de R$ 3,90 para R$ 3,50 a projeção para o câmbio este ano. A gestora Quantitas alterou a projeção para câmbio de R$ 3,60 para R$ 3,50 para este ano e de R$ 3,80 a R$ 3,90 para R$ 3,60 e R$ 3,70 para 2017, também em função da expectativa de que o Fed não deve subir os juros este ano. 

O economista­chefe da gestora, Ivo Chermont, alerta, contudo, para o risco de uma desaceleração mais forte da economia americana provocar um movimento de aversão a risco mais à frente. "Se o Fed adiar a alta de juros pelo fato de a economia crescer abaixo de 1,5% a 2%, isso pode ser negativo." Mas há elementos domésticos contribuindo para os ganhos do real, que se destaca entre seus pares. Octávio de Barros, do Bradesco, destaca a nova orientação da política econômica e um conjunto de sinalizações que reforça a expectativa de equilíbrio fiscal no longo prazo, melhora as perspectivas de crescimento e de solvência. 

Kawall, do Safra, também vê um quadro doméstico mais benigno e chama a atenção para a sinalização do BC em buscar a convergência da inflação para a meta no ano que vem, o que implicará na manutenção dos juros em 14,25% por um período maior. O banco espera um corte de 0,5 ponto da Selic só em novembro. Além disso, segundo Kawall, a postura menos intervencionista do BC no câmbio tem levado investidores a reduzir posições em "hedge" cambial no mercado futuro que, por ser muito maior que o mercado à vista, acaba tendo mais influência sobre a formação da cotação. O economista do Safra também espera uma melhora do fluxo para Brasil com a alta dos preços das commodities, aprovação final do processo de impeachment e avanço da agenda de privatizações. 

Já a consultoria Rosenberg Associados mantém a projeção para câmbio em R$ 3,40 para 2016 e R$ 3,70 para 2017, vendo riscos tanto nos mercados doméstico e externo. Para o economista da Rosenberg, Rafael Bistafa, o Fed deve subir os juros em dezembro, o que pode pressionar as moedas emergentes. Do lado doméstico, a consultoria vê incerteza em relação à aprovação das medidas fiscais. 



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