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Dólar fraco alivia inflação e facilita corte de juro

Veículo: Valor Economico 

Seção: Brasil 

A valorização expressiva do câmbio terá um efeito favorável sobre a inflação, devendo abrir espaço para uma queda mais forte dos juros num segundo momento, um fator positivo para a atividade econômica. O dólar abaixo de R$ 3,30, porém, afetará em alguma medida o ajuste do setor externo, ao prejudicar empresas que exportam e as que competem com produtos importados. A recente queda do dólar não levou o Banco Central (BC) de Ilan Goldfajn a reagir até o momento, indicando que a instituição vê com bons olhos ­ ou pelo menos não se incomoda ­ com a apreciação do câmbio, segundo alguns analistas. 

Para o economista­chefe da MB Associados, Sérgio Vale, o BC de Ilan não provoca uma valorização intencional do câmbio, mas, dada a conjuntura interna e externa, a tendência é de apreciação significativa. "E isso ajuda na inflação", afirma ele, que projeta um IPCA de 7,1% neste ano e 5,5% no ano que vem. O número para 2017 pode ser revisto para perto de 5% ou até menos, a depender de fatores como a trajetória do câmbio. Ontem, Vale revisou para baixo as suas estimativas para a moeda americana, cortando a projeção para o fim de 2016 de R$ 3,50 para R$ 3,10 e de R$ 3,30 para R$ 3 a previsão para o fim do ano que vem, devido a uma combinação de fatores internos e externos. Em algumas semanas, o governo de Michel Temer conseguiu passar algumas medidas importantes no Congresso, indicando que tem uma certa força na Câmara dos Deputados e no Senado, destaca Vale. Isso aponta a possibilidade de aprovação de propostas como a que limita o crescimento de gastos públicos. 

Além disso, Ilan ressaltou o compromisso do BC de levar a inflação para 4,5% em 2017, indicando que os juros ficarão nos atuais níveis por mais tempo do que esperava boa parte do mercado, diz Vale. No front externo, a liquidez deve continuar abundante, uma vez que, com a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), a expectativa é de uma política monetária mais frouxa por parte do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco da Inglaterra (o BC britânico) e de um adiamento da alta dos juros nos EUA. Para Vale, a tendência de valorização do real é avassaladora, e o BC tem pouco a fazer nesse cenário. Reduzir o estoque de swaps cambiais pode ajudar a suavizar a apreciação do câmbio, mas tende a não ser suficiente, avalia ele. A partir de agosto de 2013, o BC ofertou um volume elevado de swaps, para dar proteção cambial e moderar a alta do dólar. 

Sócia e diretora de macroeconomia da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro nota que o BC nada fez em relação aos swaps, mesmo com o dólar tendo recuado abaixo de R$ 3,30. É um sinal de que o movimento não desagradaria ao BC. Alessandra vê o movimento recente da moeda como exagerado, por considerar que os fundamentos não justificam uma cotação inferior a R$ 3,30. Ainda assim ela deve rever para baixo as suas projeções, reduzindo a estimativa para o fim deste ano de R$ 3,72 para a casa de R$ 3,50. 

Para Alessandra, o câmbio mais valorizado pode ajudar na convergência da inflação para a meta no que vem, o que permitiria uma redução mais rápida dos juros. O primeiro corte da Selic, contudo, só deve ocorrer em novembro deste ano, ou em janeiro do ano que vem, acredita ela, dado o compromisso do BC de tentar fazer a inflação cair para 4,5% em 2017. Vale, por sua vez, aposta que o BC vai começar a cortar os juros em outubro, levando a Selic a terminar o ano em 13,25% ­ hoje, está em 14,25%. No fim de 2017, a taxa poderia alcançar 11,25%, ou até menos. Para deter a valorização do câmbio, seria necessário um corte de juros muito forte, que tenderia a colocar em risco a convergência da inflação para 4,5%, diz Vale. 

O real mais apreciado pode contrabalançar os efeitos da alta dos preços de alimentos, como lembra a economista­chefe da Rosenberg Associados, Thaís Marzola Zara. A valorização do câmbio ajuda o BC nesse cenário, sendo um efeito colateral de um quadro formado por juros internos elevados e taxas externas no chão. Segundo ela, modelos indicam que a taxa pode ficar em R$ 3,20 ou menos no curto prazo. O câmbio mais valorizado, porém, terá impacto sobre a competitividade de exportadores e de quem concorre com importações. "Isso limita a ajuda do setor externo à recuperação", diz Alessandra, observando que o efeito não deve ser grande, porque ele é pequeno em relação ao tamanho da economia. Thaís pondera que, embora prejudique as exportadoras, o câmbio mais valorizado dará um alívio para as companhias endividadas em dólar, que já sofrem com dificuldades de crédito. Além disso, o real forte ajuda empresas que usam insumos importados. 

Vale acredita numa recuperação mais forte da economia do que boa parte dos analistas, estimando que o PIB encolherá 3,3% neste ano e crescerá 2% no ano que vem. Ele vê, contudo, um impacto bastante negativo do câmbio para os exportadores. O dólar na casa de R$ 3 é muito ruim para as exportações, diz Vale, para quem uma taxa de R$ 3,20 já é preocupante. Uma cotação de R$ 3,50 a R$ 3,60 não causaria reclamações, mas esse nível está distante. 



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