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Demissões desaceleram, mas busca de vaga eleva desemprego

Veículo: Valor Economico 

Seção: Brasil 

A desaceleração no ritmo de corte de vagas no país em maio mostrada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, a primeira dos últimos oito meses, deve se repetir, ainda que com oscilações, ao longo deste segundo semestre. Em paralelo ao processo de estabilização da atividade que se desenha para os próximos meses, avaliam economistas, as empresas devem demitir menos do que no mesmo período de 2015, especialmente a indústria. A taxa de desemprego, por sua vez, tende a continuar subindo, pressionada por uma demanda por novas vagas que se mantém aquecida diante da continuidade do ciclo de redução de salários. Apesar da perspectiva de moderação no ritmo de fechamento de postos, a avaliação de consultorias e instituições financeiras é que o mercado de trabalho segue enfraquecido, com um horizonte de recuperação apenas em meados de 2017, quando o total de ocupados no país voltaria a crescer. 

Nos três meses até maio, o volume de empregados recuou 1,4% em relação ao mesmo período de 2015, depois de encolher 1,7% no trimestre até abril e 1,5% em março. O resultado, para o economista Bruno Campos, da LCA Consultores, foi puxado pelo desempenho da indústria, mais próxima de concluir seu ajuste de pessoal. O setor tirou 1,5 ponto percentual da ocupação em maio, ele calcula, na comparação com o mesmo trimestre de 2015, contra 1,7 ponto no trimestre de fevereiro a abril. "Estamos vendo uma aderência forte entre a dinâmica de contratações da indústria e os índices de confiança", diz Campos, ao explicar porque a redução do pessimismo no setor desde o início do ano calibra um cenário em que ele corta menos vagas. 

O caminho até a recuperação, entretanto, é longo. De março a maio, a indústria foi o setor que mais fechou postos de trabalho no país, 1,4 milhão sobre igual período de 2015, contração de 10,7% no total de contratados no segmento. Assim, a expectativa é que ocupação como um todo siga negativa nos próximos meses, com inversão do sinal apenas em 2017. Com uma demanda por vagas que tende a se manter aquecida ­ e que levou a força de trabalho a avançar 2% sobre abril­maio do ano passado, maior alta deste ano ­, a taxa média de desemprego, por sua vez, seguirá avançando. 

Na comparação com fevereiro­abril, a taxa de desemprego manteve­se estável em 11,2%, mas 3,1 pontos percentuais acima do registrado pelo IBGE em igual intervalo de 2015. O total de desempregados chegou a 11,4 milhões. 

A pesquisa mostrou ainda que o processo de precarização do emprego continua, observa Gabriel Ulyssea, do departamento de economia da PUCRio. Em maio, as vagas sem carteira assinada cresceram pelo segundo mês consecutivo, 1,1% sobre o trimestre encerrado em abril, enquanto o trabalho formal encolheu pelo quinto mês seguido, na mesma comparação, 0,2%. Em relação a maio de 2015, o volume de emprego com carteira assinada cedeu 4,2%, com perda de 1,5 milhão de postos. O economista Igor Velecico, do Bradesco, também chama atenção para o aumento da informalidade. A média de avanço nos últimos três meses, de 1,1% na série com ajuste sazonal, ele calcula, corresponde a um avanço anualizado de 13,4%, ritmo mais intenso do que o incremento de 3,6% da média dos últimos seis meses. 

Além da perda de qualidade do emprego, a oitava queda da renda real, de 2,7%, e a nona da massa de rendimentos, 3,3%, mostram que o mercado de trabalho segue enfraquecido, destacou Cimar Azeredo, coordenador das pesquisas de trabalho e rendimento do IBGE, com reflexo direto sobre o consumo e sobre a velocidade de recuperação da economia. 



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