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Ilan,avaliado no Senado,deve lembrar que Deus pode não ser brasileiro

Veículo: Valor Economico

Seção: Notícias 

Às 10 horas tem início a audiência da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) que vai deliberar sobre a indicação de Ilan Goldfajn para a presidência do Banco Central (BC). Após a sabatina, os senadores votam e, ainda hoje possivelmente, o Plenário do Senado dá sua aprovação definitiva à indicação do economista feita pelo presidente interino Michel Temer. Ilan não assume imediatamente. Sua nomeação tem de ser publicada oficialmente e o novo presidente do BC precisa assinar o temo de posse para efetivamente se tornar presidente do BC. Há 14 anos, Ilan Goldfajn cumpriu semelhante ritual para assumir a Diretoria de Política Econômica da instituição. Foi aprovado. Deixou o BC em 2003. 

Reconhecido acadêmico __ o melhor economista da sua geração, segundo Edmar Bacha, um dos mentores do Plano Real __ Ilan construiu sólida carreira no sistema financeiro privado. Foi economista­chefe da Gávea Investimentos, fundou a Ciano Consultoria e, nos últimos anos, desempenhou a função de economista­chefe do Itaú Unibanco __ do qual foi sócio. Para assumir o posto no BC do Brasil, Ilan teve de se desfazer de suas ações. Articulista de grandes jornais brasileiros, Ilan Goldfajn escreveu, em seu primeiro artigo publicado neste ano, que o ano de 2015 havia sido muito pior que o esperado. Afirmou que a expectativa para 2016 também era ruim. E decidiu fazer um rápido inventário de surpresas que o ano poderia trazer. 

No início de janeiro, não havia a menor indicação de que ele próprio seria surpreendido com um novo posto no governo. “No Brasil quase tudo poderia ser qualificado como surpresa, já que nada parece provável”, escreveu. “Uma surpresa positiva seria a capacidade de juntar forças para aprovar as medidas fiscais necessárias, assim como a reforma da Previdência (a idade mínima, por exemplo). Daria um choque de confiança, o que poderia retomar o crescimento.”

O núcleo do problema no Brasil, alertou aos leitores, é a “necessidade de ajuste fiscal e a fragmentação política (que impede a aprovação de reformas e ajustes)”. Em sua opinião, uma guinada para abandonar a necessidade do ajuste fiscal seria o “começo do fim, ou talvez o fim do fim”. “Gastar o que não se tem seria um verdadeiro ‘expancídio’. Por isso, uma guinada irracional (anunciada ou silenciosa) seria uma surpresa.”

Outra “surpresa” para 2016 seria a elevação bem mais rápida dos juros nos EUA, que poderia levar a uma reversão rápida dos fluxos de capital em direção àquele país. “A saída de recursos do Brasil fragilizaria o balanço de pagamentos, justamente o último alicerce de sustentação da economia brasileira. O governo reagiria vendendo dólares (via swaps ou à vista) para suavizar a situação. Mas a falta de financiamento externo e a depreciação do real aprofundariam a recessão e realimentariam a inflação”. 

Por sorte, diz Ilan, o Federal Reserve (Fed), o BC americano, está mais preocupado com o crescimento se consolidar nos EUA do que com a volta da inflação no futuro. O aumento do juro tende a ser muito gradual e benigna. Uma terceira surpresa que poderia estar reservada para 2016 seria uma desaceleração da China mais do que o esperado, uma nova queda forte das commodities poderá ocorrer, gerando uma nova perda de renda nas economias emergentes. “No Brasil, uma nova rodada de queda de commodities depreciaria o câmbio (mais inflação e juros) e tiraria renda da economia. A recessão se aprofundaria, piorando a crise atual. Seria difícil administrar uma nova perda significativa de renda externa na atual fragilidade local”. 

O futuro presidente do BC do Brasil reconheceu no artigo, porém, que a China tema administrado a desaceleração de sua economia de forma ainda ordenada, apesar das dificuldades e da necessidade de rebalancear a economia (para mais demanda interna, mais consumo), além dos receios do mercado. A surpresa inversa na China __ a volta do rápido crescimento de dois dígitos e um novo boom das commodities __ é difícil de enxergar, diz Ilan, mas seria a “salvação da crise no Brasil”, pelo menos no curto prazo. “O crescimento viria de fora e melhoraria a arrecadação, o controle sobre o déficit fiscal (e a dívida crescente) ganharia um poderoso aliado. Essa surpresa levaria muitos a acreditar que Deus é de fato brasileiro”, conclui o economista. 



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