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Para área econômica, alta ociosidade favorece retomada mais vigorosa

Veículo: Valor Economico

Seção: Brasil 

Integrantes da equipe econômica ouvidos pelo Valor estimam que a economia brasileira possa crescer em um percentual entre 3% e 4% por alguns anos sem gerar pressões inflacionárias, devido ao alto grau de ociosidade nos fatores de produção provocado pela severa recessão que atingiu o país. Um dos dados mais dramáticos das Contas Nacionais do primeiro trimestre, divulgadas nesta semana, foi a queda para 16,9% da taxa de investimento na economia, ante 19,5% em igual período de 2015. 

Isso significa que está sendo comprometida a capacidade futura de crescimento da economia, que tecnicamente os economistas chamam de Produto Interno Bruto (PIB) Potencial. Em geral, quando a economia avança por muito tempo acima do PIB potencial, começam a surgir pressões inflacionárias. Mas membros da equipe econômica ponderam que, hoje, o grau de ociosidade da economia ­ o chamado hiato do produto ­ é imenso e garante uma boa margem para o PIB crescer acima do potencial por alguns anos.

O PIB potencial é o que os economistas chamam de variável não observável, ou seja, conceito abstrato que não pode ser medido com exatidão, apenas estimado. Os números mudam de acordo com os modelos matemáticos e estatísticos usados em cada projeção. Por isso, dentro do governo há números que variam de perto de zero a mais de 2%. O que economistas oficiais têm chamado atenção é que, como há muitos recursos produtivos não utilizados, incluindo máquinas ociosas e um crescente contingente de desempregados, há espaço para a economia crescer acima do PIB potencial por algum tempo sem acelerar a inflação, que ainda está bem alta. 

"O PIB potencial tem caído devido à queda da produtividade e dos investimentos", afirma uma fonte da equipe econômica. "Mas, pressupondo normalização da conjuntura e alguma volta do investimento e a natureza pró­ cíclica da produtividade, daria para ficar tranquilo alguns anos com a demanda crescendo a taxas acima do potencial sem gerar pressão sobre a inflação." Mesmo os mais pessimistas dentro do governo acham que seria possível o PIB ter a capacidade de crescer 3%, pelo menos, em 2017 e 2018. Estimativas mais otimistas dizem que esse crescimento poderia ficar mais próximo de 4% ou crescer acima de 3% até 2019. No mercado, a mediana das estimativas é de crescimento de 0,55% em 2017, de acordo com o relatório Focus, do Banco Central. Algumas instituições veem um cenário mais benigno. O Bradesco, por exemplo, estima avanço de 1,7%. 

A alta capacidade ociosa da economia seria uma espécie de colchão que permitiria fazer a travessia com taxas de crescimento mais robustas até que uma eventual retomada dos investimentos daqui por diante possa levar a um aumento do PIB potencial. As estimativas oficiais são de que novos investimentos levam entre cinco e seis trimestres para maturar. O Banco Central tem lembrado, nos seus pronunciamentos recentes, que nas retomadas cíclicas da economia o primeiro passo é as empresas reduzirem os estoques. Os dados da Sondagem da Indústria de Transformação da FGV divulgados nesta semana mostram que quase metade dos setores industriais já ajustaram seus estoques no período de três meses até maio. 

O passo seguinte, lembra o BC, é as empresas voltarem a produzir, utilizando a capacidade ociosa. Segundo o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) da FGV, ela chega a 26% no caso da indústria, uma margem confortável o suficiente para permitir que uma eventual retomada dos investimentos amplie a capacidade produtiva desse setor. Um economista oficial ressalta que, embora seja bom saber que há espaço para a economia crescer, é preciso assegurar primeiro que o governo e o Congresso façam sua parte para garantir as bases da expansão. 

O diagnóstico consensual é que a chave para a retomada do crescimento é o fortalecimento da confiança de firmas e indivíduos, não medidas de estímulo de natureza fiscal, creditícia ou monetária. Para tanto, o caminho seria o ajuste das contas públicas, que, além de dar um impulso na atividade econômica, também criaria um ambiente mais favorável para ancorar a inflação na meta. 



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