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Perfil: Ilan, um presidente “direto” no Banco Central

Veículo: Valor Economico

Seção: Finanças 

Treze anos depois de deixar o Banco Central (BC), Ilan Goldfajn retorna à instituição, para o mesmo 20º andar do edifício­sede, em Brasília, um posto acima na hierarquia. A mobilização é mínima; a responsabilidade, máxima. O economista assume a presidência da instituição, em junho. Em julho de 2003, deixara a diretoria de Política Econômica. 

Alexandre Tombini, presidente atual da instituição, passará o bastão ao sucessor após a quarta reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Com essa reunião, marcada para os dias 7 e 8 de junho, o calendário das decisões do Copom chega à metade. Os quatro encontros restantes do ano ocorrerão sob novo comando e buscando solução para os mesmos desafios. Talvez não os mesmos problemas. 

Mantido o mandato único do BC do Brasil, o controle da inflação poderá ser feito com alguma colaboração da política fiscal. Essa expectativa, sem dúvida otimista, será calibrada pela brevidade do novo governo. 

Michel Temer é o presidente interino do Brasil por até 180 dias. Sem sustentar um projeto de extensão de governo para os próximos dois anos, a equipe econômica do governo Temer corre o risco de ser confinada em mais um labirinto de incertezas. 

Atentos à composição de um enxuto ministério de transição, o mercado prefere pensar curto. Evita alongar projeções de indicadores econômicos e financeiros porque neste momento ainda é grande a incerteza do futuro. 

“Ilan tem todas as condições técnicas e pessoais para tocar o barco”, avalia um experiente economista do governo na condição de anonimato. “Ele sempre tomará a melhor decisão possível para o momento e não precisará se defender de rótulos”, acrescenta a fonte do Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, que se diverte quando instigado a admitir que Ilan Goldfajn é “dovish” (em outras palavras, que o governo Temer vai pegar leve na condução da política monetária). “Isso é um mito. O mercado financeiro gosta de rotular autoridades e muitas vezes atrapalha o trabalho do governo porque algumas autoridades, por temerem rótulos, nem sempre são transparentes no que deveriam para evitar percalços”, diz o economista do governo. 

O novo presidente do BC é percebido como muito competente, bastante técnico, e rápido na percepção dos problemas. “Muito inteligente, despertou, várias vezes, o interesse de economistas de outros bancos centrais que manifestaram em momentos diferentes o desejo de conhecê­lo”, relata um ex­colega do BC, que garante não ser o titular do BC “arrogante no trato, embora seja direto”. Esse ex­colega repete a ponderação feita por outro: “Ilan é capaz de dizer o que precisa ser dito ou escrito, sem ser agressivo. Ele escuta muito e permite ser convencido quando discorda de algo. É bem quisto no Banco Central”. 

O reconhecimento de que o presidente do BC sabe dizer o necessário, sem rodeios, é interpretado por alguns economistas como “fonte de problema”. Articulista dos jornais O Estado de São Paulo e O Globo, Ilan Goldfajn desperta também críticas e queixas. Foi bombardeado em 2013 ao publicar “Combater a inflação, mexer no emprego”. No artigo, o economista avisa que “não há almoço grátis, o combate à inflação requer estar disposto a abrir mão de coisas valiosas”. Despertou a ira de sindicalistas com uma pergunta e sua própria resposta: “A sociedade está preparada para (temporariamente) reduzir o consumo e desaquecer o mercado de trabalho para reduzir a inflação? Ninguém gosta de fazer essa opção. Às vezes nem é necessário”. 

Ele comenta que a maioria dos países vizinhos na América Latina está crescendo forte, com inflação em queda. “Uma vez combatida a inflação, a estabilidade econômica e a melhora na produtividade favorecem crescimento forte com baixa inflação. Mas, no Brasil, as opções estão mais difíceis. Recentemente, tem ocorrido o inverso dos nossos vizinhos: inflação em alta e crescimento tímido”, escreve o economista. Ele lembra que o BC, em sua ata, havia chamado a atenção para as “limitações pelo lado da oferta”. E explica: “O problema não é a falta de consumo, que tem crescido de forma robusta. É necessário produzir a um custo menor (mais produtividade) para crescer sem pressionar a inflação. Nesse caso, estímulos ao consumo não resolvem, podem até exacerbar o problema, pois distanciam a demanda do que pode ser ofertado sem inflação crescente.” 

No mesmo artigo “Combater a inflação, mexer no emprego”, de 2013, Ilan incomodou o governo. “Muitas vezes, as soluções parecem caminhar na direção correta, mas podem não resolver o problema. Por exemplo, a desoneração de impostos na economia é um objetivo nobre a perseguir. Afinal, a alta e complexa carga tributária da economia brasileira é um gargalo ao crescimento. No curto prazo, os subsídios e corte de impostos de fato podem reduzir os preços e ajudar a combater a inflação. Mas, ao longo do tempo, se as desonerações e os menores preços estimularem ainda mais o consumo, sem correspondente aumento da oferta, o problema inflacionário persistirá.

“Pleno emprego, salários altos e consumo forte têm sido valiosos para a economia brasileira”, afirma o novo chefe do BC. “A inflação sob controle também é um valor. Não está claro se há consciência na sociedade de que, para manter a inflação sob controle, possa ser necessário temporariamente reduzir o consumo e desaquecer o mercado de trabalho. 

Entrevistada pelo Valor PRO, a economista Eliana Cardoso confessa ser “grande admiradora do Ilan”, que considera um economista de excepcional talento porque combina rara intuição econômica com conhecimento derivado de escolas como o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e a experiência adquirida na academia, em instituições multilaterais, no BC e em bancos privados. “Fomos colegas no FMI, fizemos e publicamos juntos pesquisa sobre controle de fluxos de capital. Como pessoa é grande amigo e pai dedicado. Suas crianças são encantadoras. É casado com uma psicanalista brilhante”, conta Eliana. Amigos há 25 anos, Eliana e Ilan compartilham a mesma formação econômica e os mesmos pontos de vista em matéria de política monetária. Questionada se o novo presidente do BC pode ser considerado mais “hawkish” ou “dovish”, a economista diz que Ilan seria “hawkish” se fosse preciso, “mas o vejo evitando extremos”. 

A economista Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics e professora da Johns Hopkins University hoje residente nos EUA, contemporânea de Ilan e diretora da Casa das Garças até o ano passado, não tem dúvida de que ele tem todas as condições técnicas para estar à frente do BC. “Ilan ajudou a desenhar o regime de metas para inflação no Brasil. E, embora hoje nosso desafio seja fiscal e não monetário, isso não quer dizer que aprimoramentos não devem ser feitos no regime brasileiro, inclusive, passando a considerar outras variáveis, como emprego e ritmo de atividade. A discussão sobre uma reforma do regime deverá ser travada e Ilan é a pessoa certa para levar essa discussão para dentro do Banco Central. Ilan tem projeção internacional. É o economista­chefe de um grande banco o trânsito que tem no mercado internacional, junto a investidores, certamente ajudará a mudar a imagem do Brasil que está desgastada.” 

“Ilan é um professor muito objetivo, não é de dar muitos ouvidos a contrapontos, sempre foi simpático, alguém com bons relacionamentos”, diz um ex­aluno ao Valor PRO. “Ele fez as melhores escolas de política econômica. MIT e PUC­Rio são uma ótima combinação! Formam economistas com técnica, mas também com realismo e ‘arte’ para fazer política econômica. O foco acadêmico do Ilan sempre foi macro, reg

 



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