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Mendonça de Barros diz que momento econômico pode beneficiar Temer

Veículo: Valor Economico

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O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros vê com otimismo as perspectivas para o provável governo de Michel Temer, apostando que ele vai se beneficiar da recuperação cíclica da atividade. Se Temer fizer uma gestão bem feita dessa retomada, a economia poderá crescer mais do que a maior parte dos analistas imagina, diz o expresidente do BNDES, observando que ele deverá assumir a presidência num momento de reversão de uma bolha de consumo, marcado por grande capacidade ociosa, em que o Banco Central (BC) terá espaço para reduzir os juros. 

Mendonça de Barros diz, porém, que são necessários alguns cuidados para não “matar” essa recuperação cíclica. Medidas “heróicas” na área fiscal, por exemplo, podem abortar a retomada. Além disso, é importante acertar a renegociação da dívida com os Estados e encontrar uma solução para o endividamento das empresas, especialmente as de médio porte, afirma ele, também ex­ministro das Comunicações. 

Para Mendonça de Barros, o Brasil vive desde o ano passado o estouro de uma bolha de consumo, alimentada no primeiro mandato de Dilma Rousseff. Ela foi formada por várias medidas, como a redução forçada dos juros, o aumento do crédito público e a concessão de incentivos fiscais para muitos setores, por meio de amplas desonerações tributárias. 

Essa bolha, contudo, explodiu no ano passado, quando a economia encolheu 3,8%. Para este ano, os analistas projetam um tombo de magnitude semelhante. Hoje, a atividade está muito fraca, com “uma dinâmica de demanda muito abaixo do crescimento potencial”, de acordo com Mendonça de Barros.

Nesse cenário, a atividade pode se recuperar mais rápido do que muitos analistas esperam, diz ele, destacando o impacto positivo que uma retomada da confiança produz sobre o crescimento. Com a inflação em queda, num ambiente de forte recessão, o BC deverá começar em breve a reduzir os juros.

Mendonça de Barros acredita que o ex­presidente do BC Henrique Meirelles é o nome adequado para assumir a Fazenda, devendo ter “jogo de cintura” para fazer a gestão da recuperação cíclica sem comprometê­la. Na área fiscal, ele afirma ser necessário “ir devagar com o andor”. O novo governo precisa adotar medidas que apontem para a melhora das contas públicas, indicando uma trajetória sustentável para a dívida bruta, mas Temer não tem mandato para promover mudanças drásticas, diz Mendonça de Barros. 

Incorporar a Previdência ao Ministério da Fazenda, como deve ocorrer, é uma boa ideia, segundo ele. Não deverá haver espaço, contudo, para mudanças muito ambiciosas. “Temer não tem mandato para fazer coisas radicais”, afirma Mendonça de Barros, para quem Meirelles terá de buscar um equilíbrio difícil — não pode ser duro demais no campo fiscal, mas tampouco pode mostrar fraqueza. 

O ex­presidente do BNDES diz que o novo governo também precisa fazer a renegociação da dívida dos Estados. Como muitos governadores estão em situação financeira muito difícil, há a oportunidade de trocar uma folga no restante do mandato dos atuais mandatários por compromissos importantes no longo prazo. É o caso da implementação de fundos de pensão complementares para os funcionários estaduais, uma das contrapartidas que o Tesouro quer dos governadores. 

Para Mendonça de Barros, a renegociação com os Estados não é negativa, diferentemente do que apontam alguns especialistas em contas públicas, que veem aí um risco à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). “Esse pessoal mora na Finlândia”, diz ele. A situação financeira de alguns Estados é muito grave e, se não houver algum alívio, poderá ocorrer uma solução pior, avalia. O momento é de aproveitar para acertar compromissos de longo prazo. 

Outro ponto a ser enfrentado é o do endividamento das empresas. Muitas companhias acumularam débitos excessivos, num cenário de juros elevados e economia em recessão, diz ele. Para Mendonça de Barros, é importante encontrar algum mecanismo de alongamento das dívidas, o que pode ser feito com os recursos dos depósitos compulsórios dos bancos. 

Ao resolver a questão da dívida dos Estados e das empresas, o novo governo enfrentará dois dos problemas acumulados nos últimos dois ou três anos, segundo o ex­ministro do governo Fernando Henrique Cardoso. Com uma gestão inteligente da recuperação cíclica e a solução desses imbróglios, a economia poderá ter uma retomada razoável. 

Hoje presidente do conselho da Foton Brasil, que fabrica caminhões, Mendonça de Barros também considera importante evitar a valorização exagerada do câmbio. Para ele, uma taxa na casa de R$ 3,50 indica que a moeda brasileira segue desvalorizada, num nível competitivo. Para que não haja uma apreciação indesejada do câmbio, o BC pode primeiro continuar a reduzir o estoque de swaps cambiais, os instrumentos ofertados a partir de agosto de 2013 para dar proteção contra as oscilações da moeda e evitar uma desvalorização exagerada, segundo Mendonça de Barros. Reduzir os juros é outra opção para impedir uma valorização excessiva do real, diz ele, para quem a combinação de retomada da confiança com taxas elevadas pode atrair muitos recursos para o país. Uma apreciação muito forte do real pode minar a competitividade das exportações brasileiras, além de baratear em demasia as importações. 

 



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