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Mesmo com recuperação, resultados ainda são negativos

Veículo: Valor

Seção: Economia

A produção industrial fechou o primeiro trimestre de 2016 com resultados ainda bastante negativos. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, a contração de 11,7 % foi semelhante à registrada nos três últimos meses de 2015, 11,9%.

Em 12 meses, o setor acumula baixa de 9,7 %, o maior recuo nessa comparação desde outubro de 2009. Entre os números ruins, contudo, há segmentos, especialmente aqueles mais sensíveis às oscilações cambiais - têxtil e calçadista, por exemplo -, que conseguiram reverter nestes primeiros três meses o desempenho negativo dos trimestres anteriores. Outros, como o automotivo, atenuaram significativamente a queda. Projeções de consultorias e instituições financeiras indicam que o primeiro deve ser o pior trimestre para a indústria em 2016.

Diante da continuidade dos efeitos positivos da desvalorização cambial sobre as exportações e sobre o processo de substituição de importações, além do próprio efeito estatístico da base fraca dos períodos anteriores, a tendência é que a produção registre quedas menores e até estabilize no segundo semestre. Depois de recuar 2,7 % em fevereiro, na comparação com o mês imediatamente anterior, na série livre de influências sazonais, o dado da Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF) indicou aumento de 1,4% no mês passado.

Com altas em janeiro (0,3%), fevereiro (0,5%) e março (2,2%) - também na comparação com o mês anterior e na série ajustada -, o desempenho recente da produção de bens de capital estaria, para o coordenador do Grupo de Indústria e Competitividade (GIC-IE) da UFRJ, David Kupfer, entre os indícios de que o nível de contração da indústria se aproxima do piso.

Na comparação com o mesmo período do ano anterior, a categoria ainda registra forte retração no primeiro trimestre, de 28,9% - queda mais suave, entretanto, do que as observadas no quarto (-31,9%) e no terceiro (-30,5%) trimestres. "Pode ser que a indústria tenha chegado ao fundo do poço, mas o poço é bem fundo", comenta o economista, ressaltando que é preciso ter cautela ao interpretar os dados de curto prazo, muito voláteis. Para ele, a "virada"de segmentos como o têxtil, o de calçados e o de mobiliário neste início de ano pode ser consequência dos efeitos do real mais competitivo sobre a produção. "Não há elementos da demanda interna que expliquem essas altas", argumenta.

No primeiro trimestre, esses ramos cresceram 3,5%, 1,8% e 6,5%, nessa ordem, em relação aos três meses imediatamente anteriores, após quatro trimestres consecutivos de queda. A taxa de câmbio desvalorizada também está contribuindo para o ajuste mais rápido dos estoques da indústria de bens intermediários, lembra o economista da MCM Leandro Padulla, com base nos dados mais recentes da Sondagem da Indústria da Fundação Getulio Vargas (FGV). Assim, apesar de a categoria ter avançado apenas 0,1% em março - menor alta entre as cinco acompanhadas pelo IBGE -, ela pode dar contribuição importante para a estabilização da produção nos próximos meses, já que responde por 59,7 1% da PIM-PF. "O efeito da desvalorização cambial tem impulsionado alguns setores.

Isso tem ajudado a queda [na produção] a ser menos intensa e pode ajudar também na retomada do ciclo de crescimento, apesar de, por si só, não ser sustentável", diz Rafael Leão, da Parallaxis. Para ele, que espera retração de 5% da produção industrial em 2016, ante 8,3% no ano passado, o período entre janeiro e março deve ter sido o pior da indústria neste ano. "Os dados de produção industrial de março mostram finalmente o efeito do câmbio na produção industrial, seja via exportação ou substituição de importações", diz Rafael Fagundes Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Esse impacto aparece de forma ainda mais clara nos números de comércio exterior, que têm desenhado uma trajetória ascendente nos embarques em volume de manufaturados. Em março, conforme os dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), a quantidade exportada do segmento cresceu 6,2%, puxada por ramos como o de produtos têxteis, com alta de 26,5%, e vestuário, com 22,3%. No trimestre, o quantum exportado em manufaturados subiu 11,9%. No mesmo período, têxteis cresceram 41,9%, vestuário, 14,9% e calçados, também 14,9%. Os dados de março reforçam o contraste entre a evolução dos preços e da quantidade embarcada, ressalta André Leone Mitidieri, economista da Funcex.

Enquanto os volumes cresceram, os preços dos manufaturados vendidos ao exterior caíram 10,8% em março e 12,3% no primeiro trimestre, o que mantém a receita de exportação com variação negativa. Mesmo assim, diz Cagnin, do Iedi, os números da balança comercial divulgada na segunda-feira pelo Ministério do Desenvolvimento (Mdic) indicam que a desvalorização cambial mais acelerada a partir do ano passado está surtindo efeito nas exportações de manufaturados. "A boa notícia é a redução do patamar de queda das exportações diárias de manufaturados de 11,3% para 1,8% no acumulado até abril de 2015 para este ano".

Essa desaceleração foi influenciada principalmente, explica o economista, pelas maiores exportações de veículos de passageiros, aviões e etanol, entre outros. Os dados disponíveis pela Funcex até março mostram que o volume de automóveis e carrocerias exportados pelo Brasil aumentou 18% no trimestre, contra igual período de 2015. No boletim do Iedi, o economista diz que "é notória a transição das exportações de manufaturados para campo positivo". Pelos seus cálculos, a média de embarques diários no trimestre terminado em abril já atinge alta de 0,2% contra igual período de 2015. Uma recuperação considerada expressiva lembrando que, no mesmo critério, a contração no trimestre encerrado em setembro do ano passado a queda foi de 15,6%. "Só o fato de termos tido altas 'na margem'[na produção] em dois dos três últimos meses [janeiro e março], depois de sete quedas consecutivas, além da alta na margem de bens de capital - ainda que as retrações interanuais sejam muito grandes - ajudam nesta sinalização de que poderemos estar desacelerando o ritmo de queda", pondera Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados.

Assim, a expectativa da consultoria é de retração de 1,5% da produção no segundo trimestre, com "alguma estabilidade"no segundo semestre. Para o dado fechado de 2016, a estimativa de retração é de 8%.



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