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Para Stiglitz, críticas à atuação do BNDES dificultam retomada

Veículo: Valor Econômico

Seção: Finanças 

Um dos vencedores do Nobel de 2001, Joseph Stiglitz vê nas críticas à atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) um dos problemas que atrapalham a economia brasileira neste momento. Os ataques ao banco, na visão de Stiglitz, parecem dificultar a capacidade da instituição de "cumprir sua missão" e estimular a atividade econômica, num país em que os juros cobrados pelo sistema financeiro são muito elevados. 

Para o professor da Universidade de Columbia, boa parte dos esforços de desenvolvimento no Brasil veio do banco. O elogio ao BNDES feito por Stiglitz contrasta com a opinião de muitos economistas brasileiros sobre a instituição, que recebeu nos últimos anos maciços empréstimos do Tesouro, na casa de R$ 500 bilhões. 

Para Stiglitz, num momento de forte retração da economia como o atual, é fundamental definir como estimular a economia de modo eficaz. "Nesse cenário, a austeridade fiscal quase certamente vai aprofundar o quadro recessivo", disse ele ao Valor, ao ser questionado se o Brasil deveria ter uma política fiscal austera, num ambiente em que o déficit nominal (que inclui gastos com juros) é de cerca de 10% do PIB e a dívida bruta está em trajetória de alta forte, mas o PIB está em queda livre. 

"A política monetária provavelmente precisa ser mais acomodativa", afirmou Stiglitz, indicando uma das estratégias para incentivar a atividade. "E parte do problema é que uma das instituições mais dinâmicas do Brasil tem ficado sob ataque, em alguma medida", disse ele, referindo­se ao BNDES. "Ele é uma das fontes reais de crescimento para o Brasil." 

Para Stiglitz, é essencial "entender que o Brasil tem um setor financeiro muito distorcido", em que as taxas de empréstimo ao setor privado são tão elevadas "que estrangulam a capacidade de funcionamento da economia". Nesse ambiente, o BNDES permite que o Brasil cresça na presença de juros altos, avalia o economista americano. 

Um dos argumentos dos críticos do BNDES, segundo ele, é que o banco cobra taxas abaixo das de mercado. "A questão é que as taxas de mercado são artificiais, monopolísticas e extorsivas." 

Mas o BNDES não cobrou taxas baixas demais, inferiores à inflação? "Em alguns casos, os EUA tiveram juros reais negativos e fizeram empréstimos a juros reais negativos", ponderou ele, afirmando que, em geral, os financiamentos do BNDES são feitos com juros reais positivos. 

Stiglitz também comentou os desafios da política monetária no Brasil. "Uma escolha difícil que a política monetária sempre tem que enfrentar é o equilíbrio entre inflação, emprego, crescimento e estabilidade financeira", disse ele. "A minha avaliação é que, dada a recessão, provavelmente o peso maior deve ser colocado no emprego e no crescimento." 

A situação requer julgamentos difíceis, sendo necessário analisar profundamente a fonte da inflação, se ela se deve a um choque de demanda ou de oferta. 

"Quando a economia está em recessão, tipicamente a inferência é que a inflação não é um choque de demanda", disse ele. "Se esse é o caso, deve se colocar mais ênfase em estimular a economia, ao mesmo tempo em que se tenta ancorar as expectativas, de modo que a inflação permaneça sob controle." Stiglitz falou rapidamente ao Valor ontem, sem tratar da crise política brasileira, depois de participar de um painel sobre o fortalecimento do sistema tributário global, um dos eventos do encontro de primavera do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. 



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