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Recessão no Brasil afetou países emergentes, diz Lagarde

Veículo: Valor

Seção: Notícias

WASHINGTON - A recessão no Brasil e na Rússia, a recuperação modesta nas economias avançadas e a exposição dos mercados ao reequilíbrio da China afetaram as economias dos países emergentes, avaliou a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, no texto de sua agenda global de políticas, apresentada nessa quinta-feira. “A atividade nas economias emergentes, que contribuíram para a maior parte do crescimento global desde a crise (de 2008 e 2009), continua a esfriar como resultado de profundas recessões no Brasil e na Rússia, recuperações modestas nas economias avançadas, exposição ao reequilíbrio na China e condições financeiras mais apertadas”, afirmou. 

Segundo Lagarde, as transições em curso vão continuar a desacelerar o crescimento chinês, particularmente no setor de manufaturados. A queda no preço das commodities afeta duramente os emergentes, enquanto as economias avançadas estão sendo contidas por fraca demanda e baixo potencial de crescimento. No caso da economia global, a diretora-gerente do FMI observa que há uma expansão moderada, mas o cenário geral se enfraqueceu nos últimos seis meses e os riscos aumentaram. “A economia global tem sido prejudicada pelo crescimento que tem sido muito lento por muito tempo”, afirmou Lagarde.

Segundo ela, a se continuar nesse ritmo, uma recuperação sustentada, com o aumento de padrão de vida, queda no desemprego e nos níveis de endividamento, pode não ser alcançada. Apesar da avaliação negativa sobre o desenvolvimento da economia mundial, ela reconheceu que houve ganhos nos últimos seis meses, como a maior estabilização nos preços do petróleo, que ainda estão em níveis baixos, a redução sobre as pressões de saídas de capital da China e a atuação de bancos centrais. A representante do FMI acredita que, se atuar em cima desses desenvolvimentos, a economia global poderá retomar um caminho mais forte e seguro. Ela enfatizou ainda que seria necessário ir além. “Países precisam reforçar os seus compromissos com um crescimento global duradouro e um conjunto de políticas potentes”, disse.

Para ela, são necessárias políticas monetárias, fiscais e estruturais para alavancar o potencial de crescimento. Lagarde deixou claro que o Fundo vai apoiar essas políticas e dará o suporte aos países que necessitarem assistência técnica. De acordo com a instituição, a volatilidade do mercado financeiro aumentou assim como a aversão ao risco. Essa situação reflete a menor confiança na efetividade das políticas. Nos mercados emergentes, há o aumento das vulnerabilidades. Nas economias avançadas, há legados da crise financeira global e o enfraquecimento sistêmico na liquidez do mercado. A estabilidade financeira global ainda não foi assegurada. O crescimento está sendo sugado por um desemprego persistentemente alto, pelo endividamento elevado e pelo baixo investimento em alguns países, constatou o FMI.

O investimento público está em níveis historicamente baixos em economias avançadas e os emergentes têm problemas consideráveis na infraestrutura. Para o Fundo, a eficiência no investimento público pode ser melhorada. Nas economias avançadas, a política monetária permanece apropriadamente acomodatícia apontou a instituição, ressaltando que é preciso que essa política seja acompanhada de outras para prover o apoio necessário a demandas. O FMI advertiu que a política monetária sozinha não seria capaz de solucionar todos os gargalos ao crescimento. A instituição verificou ainda que a adoção de políticas monetárias não convencionais para ajudar a suportar a demanda, como os juros negativos, estaria tendo efeitos diretos nos lucros dos bancos. Nas economias emergentes, as políticas monetárias precisam lidar com o impacto de moedas mais enfraquecidas na inflação e os balanços no setor privado, informou o Fundo.

A flexibilidade na taxa de câmbio deve ser utilizada para amortecer o impacto de choques de comércio. O Fundo concluiu que é o caso de adotar políticas coordenadas e que, em muitos casos, a atuação fiscal precisa ser mais aperfeiçoada do que as demais. Enquanto alguns países continuam a sofrer um alto endividamento, elevados spreads, baixa poupança no setor público e precisam implementar os seus planos de consolidação fiscal, outros, com espaço nessa área, devem ser mais beneficiados. Além da política fiscal, o FMI defende a implementação de reformas estruturais para aumentar a produtividade.

Cada país deve se comprometer com um conjunto de políticas determinadas pelo espaço que possuem para tanto de maneira a contribuir com um pacote global de reformas. Entre essas medidas o Fundo citou o fortalecimento de mecanismos de ajuste e de provisão de liquidez, aumentar o comércio global, atacar a corrupção e reformar a agenda regulatória. O Fundo ressaltou que vai apoiar a adoção dessas medidas e a adoção delas pelos países.



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