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Um bom passo modesto para elevar a produtividade

Veículo: Valor Econômico

Seção: Opinião 

Com o noticiário focado nas turbulências políticas, passou praticamente desapercebido o lançamento, na semana passada, do Brasil Mais Produtivo, programa do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) que pretende estimular a produtividade de pequenas e médias empresas. 

Os objetivos do Brasil Mais Produtivo são modestos, mas a iniciativa é bemvinda em um momento em que o país caminha para o terceiro ano seguido de queda da produtividade. Cálculos do pesquisador Samuel Pessôa, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas, indicam que a produtividade recuou 4,7% nos últimos dois anos, dos quais 2,7% apenas no ano passado (Valor 11/4). 

O investimento previsto no programa é de acanhados R$ 50 milhões. O volume investido será dividido entre o Mdic e o Senai, que vai responder pela consultoria técnica às companhias. O alvo são 3 mil pequenas e médias empresas dos setores metalomecânico, moveleiro, de alimentos e bebidas, vestuário e calçados, número bastante reduzido perto do universo de 16,8 milhões de companhias existentes no país em todos os ramos, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), das quais 14,8 milhões são micro e pequenas.

O Brasil Mais Produtivo busca melhorar a produtividade atacando sete focos de desperdício nem sempre visíveis para as empresas ­ superprodução, tempo de espera, transporte, defeitos de produção, excesso de processamento, estoques mal dimensionados e movimentação de materiais ­, buscando uma manufatura enxuta e com potencial para o mercado externo. Com correções muitas vezes óbvias de simples procedimentos, o Senai conseguiu no projeto piloto que inspirou o programa do Mdic aumentar em até 42% a produtividade de algumas empresas; em 41% a qualidade dos produtos e reduziu em 21% o custo de produção. Mas a meta do Brasil mais Produtivo é menos ambiciosa e pretende aumentar em 20% a produtividade das empresas atendidas pelos cerca de 400 consultores do Senai. 

O ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, é um dos primeiros a reconhecer as limitações do programa. Mas acrescenta que "ele representa uma forma objetiva de atuar sem ficarmos numa posição de apenas chorar pelo desequilíbrio macroeconômico. No ambiente que ainda vivemos e em um processo de estabilização incompleto, não dá para fazer planos que tenham macrometas associadas a novos pedidos de financiamentos ou a coeficientes de exportação, por exemplo", afirmou ao Valor. 

A produtividade das empresas está intrinsicamente ligada ao cenário macroeconômico, como frisa estudo do FMI publicado no seu Monitor Fiscal (Valor 6/4). O diagnóstico é compartilhado pelos especialistas locais. "Um dos grandes problemas está fora da empresa. Nós sabemos quais são as barreiras fora das fábricas: a burocracia e uma carga tributária irracional", disse o presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, que elogiou o programa, mas pediu o combate à tributação elevada.

O diagnóstico do que aconteceu nos últimos anos para a produtividade despencar no Brasil também ajuda a identificar o que não se deve fazer. Pessôa atribui às mudanças na política econômica implementadas pela presidente Dilma Rousseff, notadamente o abandono do rigor fiscal, a administração da taxa de câmbio, a redução precipitada dos juros e a intervenção na economia a queda média de 0,5% ao ano da produtividade desde que assumiu, em 2011. 

Há dois anos, o governo Dilma lançou o polêmico Brasil Maior, baseado em dezenas de bilhões de reais em renúncias tributárias como a desoneração da folha de pagamento e a devolução parcial de impostos pagos pelos exportadores pelo programa Reintegra. As medidas não produziram os efeitos desejados e aprofundaram os problemas fiscais do governo e acabaram sendo revertidas quase em sua totalidade. Por outro lado, entre as vantagens do Brasil Mais Produtivo estão o baixo custo, a rapidez da intervenção e da resposta e a possibilidade de aferição dos resultados com relativa precisão ­ sem promessas grandiloquentes que nunca são cumpridas. Contar com o Brasil Mais Produtivo não impede, porém, os empresários de acalentarem mudanças mais fundamentais e eficientes para a melhoria da produtividade.



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