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Cientista cria couro ecológico em laboratório sem precisar matar animais

Veículo: Stylo Urbano

Seção: Inovação

Imagine um mundo onde você pode andar por aí com roupas e acessórios feitos de couro ecológico sem a culpa de saber que você está vestindo a pele de um animal que esteve vivo e respirando antes de ser condenado a morte para se tornar a origem exclusiva da pele que está usando e a carne que come? Bem, esse é um futuro muito viável com as novas tecnologias que estão sendo desenvolvidas em laboratório.

Em 2050 quando a população mundial chegar aos 10 bilhões, vamos ter que criar 100 bilhões de animais em fazendas para prover toda carne, laticínios, ovos e couro que a população mundial precisar. Manter esse imenso rebanho vai ter um custo enorme e potencialmente insustentável em nosso planeta. E se houver outro jeito?

Segundo o cientista da engenharia de tecidos, Andras Forgacs, a biofabricação de carne e couro é um jeito mais racional e sustentável de eliminarmos as enormes áreas de terras, água, energia e alimentos necessários na criação e abatimento desses animais para fabricar hambúrgueres, roupas e acessórios. Andras Forgacs falou no TED Talks, explicando como a biofabricação será considerada uma nova indústria.

A produção de artigos de couro é um grande setor da indústria de moda e poderia ser completamente transformada pela tecnologia da biofabricação. Até agora, há poucos estilistas sustentáveis ​​na alta moda como é o caso de Stella McCartney. No entanto, a maioria dos estilistas não são corajosos o suficiente para evitar o uso de couro em seus projetos pois para muitas marcas do luxo, os artigos de couro são seu maior faturamento.

Apesar do aumento da qualidade do couro sintético, as grandes grifes de moda são relutantes em renunciar ao couro de animais, por causa de seu toque único e defeitos distintos, que tornam cada bolsa ou sapato absolutamente únicos. No entanto, apesar da devoção dos estilistas pelo couro legítimo, seus dias estão contados, ou pelo menos como o conhecemos. Andras Forgacs é um dos fundadores da Modern Meadow e pioneiro no campo da biofabricação, e através do seu trabalho inovador, ele e sua equipe desenvolveram um meio de cultivar couro e carne genuínos em laboratório.

Com uma única célula-tronco extraída a partir de uma única vaca, eles podem produzir couro e carne em larga escala. Num post anterior mostrei como as novas tecnologias de biofabricação e impressão 3D vão produzir carne artificial sem precisar matar animais.  A Modern Meadow ainda tem o poder de manipular a composição genética das células-tronco que eles cultivam para criar couros com quaisquer características que eles quiserem, que vai de cores variadas para intrincados desenhos na superfície, e até mesmo desenvolveram uma forma de criar couro transparente!

A inovadora tecnologia da Modern Meadow requer uma quantidade infinitesimal de terra e água em comparação com a indústria de curtumes tradicional e não exige o abate de animais.  A bióloga Suzanne Lee criadora da BioCouture que tem como pesquisa criar tecidos feitos inteiramente por bactérias, fungos e outros micro-organismos foi nomeada “Chief Creative Officer” da Modern Meadow.

As gerações Y e Z estão exigindo cada vez mais que as marcas de moda se tornem mais sustentáveis e éticas na escolha da matéria prima, fabricação e venda. Se este modelo de produção de couro sustentável fosse adotada em grande escala, iria revolucionar a indústria da moda de luxo completamente. No entanto, se os avanços bioquímicos de Modern Meadow forem mecanizados em massa através da impressão 3D, isso poderia também levar a democratização do couro sustentável para toda cadeia de produção.

O couro continua a ser um artigo de luxo, devido aos altos custos necessários para se criar espécimes superiores. Se conglomerados de luxo, como LVMH e Kering começarem a utilizar o couro feito em laboratório, isso diminuiria o valor das roupas e acessórios produzidos? A indústria da moda de luxo vive da ideia de que uma bolsa Birkin e uma Chanel 2.44 são itens sagrados, de modo que a matéria prima é fundamental.  Mas com as novas tecnologias sustentáveis, o próprio objeto de luxo já não teria a supremacia que goza hoje.


No futuro poderemos eliminar os terríveis e cruéis cortumes pela alta tecnologia da biofabricação.

Com os grandes saltos tecnológicos sendo feitos com a impressão 3D e a disponibilidade de scanners 3D, em breve será a propriedade intelectual do design criado por um estilista que vai vender em vez do objeto em si. No futuro será possível entrarmos numa loja de e-commerce ou numa loja conceito de uma grife de moda e escolher um dos itens em exposição na qual poderá personalizar e mandar fazer a impressão 3D de uma bolsa, sapato ou roupa.

Isso pode não parecer algo fácil agora, mas em poucos anos vai ser, e as marcas de luxo estão atentas a essa ameaça muito real de não poder se salvaguarda de tais práticas. Isso tudo pode soar como coisa de ficção científica mas são possibilidades muito reais e estão vindo mais cedo do que se imagina. Nas palavras do artista expressionista abstrato William de Kooning, “você tem que mudar para permanecer o mesmo” e a indústria da moda vai ter que se adaptar estando pronta ou não.



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