Notícias

Recessão reduz ganhos em 40% no quarto trimestre

Veículo: Valor Econômico

Seção: Empresas 

Um ano desastroso para a economia brasileira, com diversos indicadores atingindo seus piores patamares em anos, ganha materialidade nos resultados das companhias nacionais de capital aberto em 2015. No ano passado, o lucro das empresas com ações negociadas na bolsa encolheu 29%, para R$ 36,2 bilhões.

No quarto trimestre, que para muitos setores representa o período mais forte em resultados no ano, a queda foi ainda mais acentuada: de 40%. Se de julho a setembro o dólar foi o grande vilão, causando piora marcante no resultado financeiro das empresas, nos últimos três meses de 2015, a deterioração operacional pesou mais sobre os resultados.

No ano, fatores como a queda de 3,8% do produto interno bruto (PIB), a alta de 47% do dólar e uma inflação acima dos 10%, além do nível de confiança de empresários e consumidores em patamares historicamente baixos, deixaram marcas nas receitas em queda e custos e despesas em elevação, num momento em que a dívida subiu às alturas. O levantamento do Valor Data leva em conta os resultados de 242 companhias não financeiras.

Os números consolidados excluem os dados de Petrobras, Vale e Eletrobras, para facilitar a análise do restante da amostra. Considerando as três gigantes, chega­se a um prejuízo das empresas listadas de R$ 57,3 bilhões ao fim de 2015, revertendo lucro líquido de R$ 27,4 bilhões no ano anterior, num resultado negativo sem precedentes na história empresarial brasileira. Mas não foram apenas as gigantes que sofreram em 2015. Por setores, os destaques negativos no ano ficaram por conta da siderurgia, construção imobiliária e atividades ligadas ao consumo interno, como o varejo de alimentos e de eletrodomésticos. "A receita está caindo na maioria dos setores, por causa do PIB e da queda nas commodities, mas as empresas estão fazendo o dever de casa.

A maioria das companhias está adotando política de redução de custos, de melhora operacional", diz o estrategista do Itaú BBA, Lucas Tambellini. A siderúrgica Gerdau, por exemplo, com prejuízo de R$ 4,6 bilhões no ano passado, o maior de sua história, reduziu produção e planeja cortar investimentos em 35% em 2016. A Usiminas teve perdas líquidas de R$ 3,2 bilhões em 2015, após fechar capacidades em Ipatinga (MG) e Cubatão (SP), e aguarda agora injeção de capital de R$ 1 bilhão de seus acionistas, para manter a cabeça fora d'água, em meio à sobreoferta global de aço.

A exceção ficou por conta da CSN, que surpreendeu o mercado com lucro de R$ 1,26 bilhão em 2015, com receitas extraordinárias resultantes da reorganização societária em uma subsidiária de mineração. Com alavancagem (dívida sobre Ebitda) em 8,15 vezes, porém, a empresa prevê cortar despesas fixas e vender ativos, após rolar dívida. Já as incorporadoras imobiliárias não veem melhora no horizonte, num cenário de crédito imobiliário restrito, redução dos recursos da poupança e aumento dos distratos, como consequência da piora nos indicadores de emprego e renda.

As incorporadoras de capital aberto tiveram, no ano passado, prejuízo líquido de R$ 2,91 bilhão, mais de 16 vezes superior às perdas de 2014. (Ver mais em Prejuízo das incorporadoras sobe 16 vezes) "O ano foi marcado por um aumento da crise econômica e política e, pior do que isso, seu término é imprevisível", disse o copresidente da Cyrela, Raphael Horn, em teleconferência de resultados. "Em 2016, a situação será tão ou mais difícil ainda, com menor demanda e um crédito mais restrito", acrescentou o executivo. Embora o ano tenha feito mais vítimas do que vencedores, há quem tenha se beneficiado desses mesmos fatores macro que prejudicaram a maioria.

As produtoras de celulose, por exemplo, Fibria, Klabin e Suzano tiveram resultados operacionais robustos, com o empurrão do real em baixa. Não conseguiram escapar do prejuízo, porém, devido ao impacto inverso na dívida. Já a petroquímica Braskem fechou o ano com lucro de R$ 3,1 bilhões, na esteira da queda das commodities ­ o petróleo em baixa barateia a nafta, matéria­prima da produção de resinas. No varejo, em meio à piora generalizada de resultados, o ponto fora da curva continua sendo a Raia Drogasil, com alta de 53% no lucro no ano.

Apesar do bom desempenho, a varejista farmacêutica adotou tom de cautela em seus planos de expansão. "Podemos até ir para novos mercados, mas isso hoje é menos importante", disse Eugenio de Zagottis, vice­presidente de relações com investidores da companhia, em teleconferência. (Colaboraram Chiara Quintão e Renato Rostás)



Compartilhe:

<< Voltar

Nós usamos cookies em nosso site para oferecer a melhor experiência possível. Ao continuar a navegar no site, você concorda com esse uso. Para mais informações sobre como usamos cookies, veja nossa Política de Cookies.

Continuar