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Empresário diz que Dilma não tem mais como governar

Veículo: Valor Econômico

Por Graziella Valenti 

SÃO PAULO - "É como um vaso que quebrou em milhões de pedacinhos." Essa é avaliação que Josué Gomes da Silva, presidente da Springs Coteminas e filho do antigo vice-presidente José Alencar (1931-2011), faz do governo da presidente Dilma Rousseff. "A Dilma perdeu as condições de governar o Brasil." Para ele, por um conjunto de circunstâncias, o governo não será capaz de restabelecer "a autoridade, a confiança e o respeito indispensáveis para aprovar as medidas necessárias para tirar o país da paralisia. E, na opinião do empresário, a economia não chegou ao fundo do poço.
Gomes da Silva só entrou para a política após a morte do pai. Filiou-se ao PMDB em outubro de 2013 e foi candidato ao Senado por Minas Gerais. Teve 42% dos votos e perdeu para o ex-governador Antonio Anastasia (PSDB), que ficou com 53%. O empresário apoiou Dilma abertamente na reeleição, em 2014.
A despeito de julgar que sua incursão na política tenha sido bem sucedida, apesar da derrota, Gomes da Silva disse que seu lugar é no "empresariado, na indústria". Para ele, o atual modelo político oferece pouco espaço para renovações. Mas, se houver reformas importantes, aposta na atração de nomes interessantes para o quadro político. "É urgente reduzir o custo das campanhas", apontou.
Na opinião de Gomes da Silva, o melhor caminho para levar o Brasil até 2018 de forma organizada é o fim do governo Dilma e uma nova eleição. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) analisa processo que pode cassar a chapa eleita no ano retrasado, o que pode levar a uma eleição presidencial direta, se a chapa for condenada este ano, ou indireta, em 2017. Na sua opinião, o judiciário e as demais instituições "saberão tomar as medidas corretas" e precisam sair desse processo fortalecidas.
Outro caminho seria uma renúncia coletiva, como sugerida pelo senador Ronaldo Caiado (DEM-GO). Na opinião de Gomes da Silva, Dilma não entrega a gestão por ver o processo como uma briga política "tremendamente" injusta.
Sem recobrar a confiança, aponta que dificilmente quadro econômico negativo se reverte - ao contrário, se aprofunda. "Não tem bala de prata." Aprovar a reforma da previdência, por exemplo, seria uma forma de dar um sinal de solvência fiscal para o futuro e que os mercados poderiam antecipar.
Quando Nelson Barbosa assumiu o Ministério da Fazenda, na opinião de Gomes da Silva, o discurso estava na direção correta. Mas, era preciso cortes rígidos.
O empresário argumenta que há consciência sobre o que é necessário, mesmo dentro da atual base política. Ele destacou o programa do PMDB, "Ponte para o Futuro", que teve como mentor o vice-presidente Michel Temer, como um conjunto de medidas para reverter a desconfiança dos agentes econômicos, mas de viabilidade política duvidosa.
"Há consenso quanto às medidas indispensáveis para reversão do quadro. O que o falta é um ambiente político que propicie a implementação destas medidas", enfatiza. Por isso, acredita que só uma solução rápida para o agravado quadro político tenha o "condão" de mudar os rumos da economia. "O momento é sério demais. Há muita indignação e uma descrença generalizada na classe política do país." O receio do empresário é que nem mesmo o impeachment aplacaria a população. Ele não vê o processo como golpe, mas vê risco de produzir apenas efeitos de curto prazo.
O empresário é cético em relação ao impeachment, por entender que as pedaladas fiscais não justificaria o fim da mandato. A gestão de Dilma pode ter exagerado nas ditas "pedaladas", mas não as inventou, argumenta. Sem contar que, para Gomes da Silva, a população não entende o tema. "Não é por isso que o povo está nas ruas."
Segundo ele, sem uma solução rápida para o quadro político, a dívida pública poderá alcançar 75%/80% do PIB. Nesse caso, diz ele, " estaremos transformando o quadro adverso conjuntural em um quadro estrutural complicadíssimo que exigirá muitos anos para consertar". Gomes da Silva prevê piora na inflação, o que teria efeito negativo sobre o ambiente social. "Temos de ter coragem de começar a falar para a população que esse ajuste não será fácil."
"Há empresas que terão mais capacidade de reação. Mas a média da economia vai piorar e disso não tenho dúvida." Ele não vê perspectiva de crescimento, pelo menos, nos próximos dois a três anos.
Gomes da Silva afirma que a Springs Coteminas tem conseguido passar bem pela crise, inclusive no mercado doméstico, onde a alta do dólar tirou competitividade de importados. Sem contar que para as exportações, a desvalorização do real traz margem de rentabilidade. "Vamos superar nossas metas com facilidade", disse. A companhia teve receita líquida de R$ 2, 27 bilhões no ano passado e espera crescer até 20% neste ano.
Atualmente, contou que perde o sono como empresário na hora de decidir como gerir o crédito ao varejo. "Esse setor costumeiramente trabalha com ciclos longos, de 90 dias, para recebimento. Tudo isso, nos deixa mais conservadores e isso é ruim. Estamos perdendo energia empreendedora no Brasil."
Do restante, defende soluções simples. O governo tem que se preocupar, na opinião dele, apenas com os grandes temas macroeconômicos e não interferir muito. "Estou me tornando um grande liberal. Pero no mucho, né?!", diverte-se um pouco. O limite do liberalismo, defendeu, é a garantia de condições isonômicas de competição do empresário nacional - seja para proteger o mercado interno ou para estimular exportação.
Gomes da Silva, que foi por alguns meses membro do conselho de administração da Petrobras, faz um "mea culpa" por ter defendido a política do conteúdo nacional. "Hoje eu estou convencido de que quase tudo que o governo põe a mão estraga. E isso não é só no Brasil, não."



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