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CASA DAS CALDEIRAS: O câmbio, a balança, a inflação e a lua de mel
Veículo: Valor Econômico.
Seção: Valor Investe
Desde o começo do ano, os analistas consultados pelo Banco Central já aumentaram em US$ 8,5 bilhões (uma melhora de 24%) suas projeções para o saldo comercial de 2016, que agora estão em US$ 43,5 bilhões.
Infelizmente, a “melhora” decorre da expectativa de uma recessão maior, pois as previsões para a queda do PIB passaram de 2,95% para 3,66% no mesmo período. Enquanto reduziram em 4% suas projeções para as exportações de 2016, os economistas cortaram em 11% as estimativas para as importações.
Nas projeções, os analistas ainda não “compraram” um câmbio menor para o fim do ano, como as últimas semanas têm sugerido. Ele caiu muito pouco. Na primeira coleta de janeiro, a mediana dos consultados pelo BC projetava um dólar a R$ 4,22 no fim do ano. Hoje, essa projeção está em R$ 4,15.
O dólar mais baixo das últimas duas semanas hoje, de novo, ele opera abaixo de R$ 3,7 reflete tanto o cenário externo quanto o cenário político interno, onde o mercado vê crescerem as chances de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Mantida essa crença, esse movimento deve levar a uma revisão mais expressiva das cotações da taxa de câmbio para o fim do ano. Se isso ocorrer, talvez a queda seja acompanhada de um ajuste nas previsões para a balança e também nas taxas de inflação.
Os dados do IPCA15 de março mostraram que os preços afetados pelo câmbio aceleraram a alta neste começo de ano, mas já mostram acomodação. Desde dezembro, os aparelhos eletrônicos (um bom termômetro do repasse cambial) acumulam alta de 5%. Quando se olham os dados encadeados de IPCA15 e IPCA percebese, contudo, que os preços desse grupo subiram por sete quinzenas consecutivas, e o percentual de alta foi sempre superior ao anterior. Na passagem do IPCA fechado de fevereiro para o IPCA15 de março, esse movimento foi interrompido. Os preços dos eletroeletrônicos subiram 2,01% no IPCA de fevereiro e 1,98% no IPCA15 de março. Além da demanda fraca, essa interrupção pode estar relacionada ao patamar do câmbio, que após chegar a R$ 3,84 no último trimestre do ano passado, caminha para encerrar o terceiro trimestre perto de R$ 3,9. O repasse ao consumidor se dá com defasagem, mas talvez parte expressiva dos preços já tenham incorporado o dólar médio que vigora (entre altas e baixas) em um patamar próximo a R$ 3,90 há seis meses.
Se for por aí, a lua de mel do mercado com um eventual novo governo pode ganhar a ajuda real de um menor repasse cambial aos preços. O problema é a duração desse período idílico. Como bem mapeou o repórter do Valor Sergio Lamucci na coluna “A longa Travessia”, dar algum rumo consistente aos problemas fiscais vai demorar muito.
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