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Crise e dólar alto acionam nova onda de empresas exportadoras

Veículo: Valor

Seção: Economia

Uma turista americana foi passar as férias em Cabo Frio (RJ) e entrou na loja de moda de praia feminina mais conhecida da rua dos Biquínis. Gostou tanto das peças de fabricação própria que resolveu fazer negócio. De volta aos Estados Unidos, fez sua primeira encomenda de confecções à Q-Art, uma das 1.088 empresas brasileiras que entraram na lista de exportadoras no ano passado.

Incentivado pelo câmbio favorável e em busca de alternativas para compensar a fragilidade do mercado doméstico, o setor privado se volta para o exterior numa intensidade jamais observada. Somente nos dois primeiros meses deste ano, a base exportadora ganhou um reforço equivalente ao de 2015 e ultrapassou o recorde verificado em meados da década passada. Mais 1.044 empresas começaram a vender para fora do país, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento.

O secretário de Comércio Exterior, Daniel Godinho, não poderia estar mais satisfeito com o perfil das novas exportadoras: são pequenas e médias companhias, produzem manufaturados, estão distribuídas por todo o país e 90% delas embarcaram menos de US$ 1 milhão no ano passado. "Não é um movimento concentrado", afirma. Calçados, têxteis e vestuário, máquinas, eletroeletrônicos, alimentos e bebidas são os setores que puxam essa onda. A primeira venda ao exterior pode ter sido uma casualidade, mas a Q-Art decidiu se profissionalizar. Além dos Estados Unidos, já mandou suas peças para o Chile e agora sonda clientes na Austrália.

Os embarques são feitos por meio do Exporta Fácil, um serviço de remessa internacional dos Correios que permite o envio de mercadorias até o limite de US$ 50 mil. Dependendo do mês, as exportações representam de 20% a 30% do faturamento da empresa. "É importante para fazermos a travessia da crise", diz a gerente-geral da empresa, Vanesa Wolff, lembrando que houve redução nas vendas das cinco lojas mantidas no litoral fluminense. Argentina radicada no Brasil, Vanesa garante ter experiência de sobra na crise. Ela tinha uma fábrica de bolsas de couro quando o país vizinho deu calote na dívida. Graças ao mercado externo, a empresa ainda teve sobrevida.

Por isso, Vanesa acredita que a saída para pequenas companhias é exportar mais: "Todo mundo acha que é um bicho de sete cabeças, mas aqui há muitas instituições que ajudam o empreendedor. Em um patamar maior, talvez seja preciso contratar um despachante aduaneiro." À frente de uma pequena indústria que fabrica máquinas de embalagens para alimentos e emprega 12 pessoas em Faxinal, no interior do Paraná, Luiz Alberto Picinin aponta o dólar mais alto como fator decisivo para sua competitividade no exterior.

Um equipamento produzido pela LPB Máquinas Industriais custa em torno de R$ 250 mil. O preço no mercado externo caiu de US$ 100 mil para US$ 7 0 mil após a desvalorização cambial. "Ainda fica acima do valor oferecido pelos chineses, mas temos que ganhar deles na qualidade", afirma. A fábrica paranaense fez sua primeira venda ao exterior em fevereiro do ano passado. O destino foi o Uruguai. Neste ano, o número de máquinas exportadas deve subir de uma para três.

A pequena Curaçau, no Caribe, já se somou às encomendas dos uruguaios. Picinin tem conversas adiantadas com potenciais clientes no Egito e em Cuba e já confirmou presença em missões da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) para Bogotá, Assunção e Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. Para o secretário de Comércio Exterior, as ações do governo têm sido fundamentais. Ele cita o Plano Nacional da Cultura Exportadora, que oferece a empresas de pequeno e médio porte o apoio de 21 órgãos oficiais e privados - como a própria Apex, Correios, BNDES e Sebrae.

Polos produtivos de todos os Estados serão visitados até o fim deste ano. "O nosso objetivo não é apenas trazer novas empresas para a base exportadora, mas mantê-las. Esse é o segredo do sucesso", diz Godinho.



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