Notícias

Com crise política e recessão, incertezas devem continuar

Veículo: Folha de S. Paulo

Seção: Economia

A guinada de atitude dos investidores em relação ao Brasil, nas últimas semanas, foi significativa.

A mudança de humor se traduz na queda da percepção de risco de calote do governo brasileiro.

Nas últimas três semanas, o instrumento que mede esse temor –chamado CDS (uma espécie de seguro contra calotes)– recuou 100 pontos, para 391 pontos. O risco brasileiro está próximo ao de países com igual classificação pelas agências de risco.

Nesse período, a crise política trouxe novidades como a delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e o depoimento do ex-presidente Lula à Polícia Federal, além do pedido de prisão do ex-mandatário.

"O Brasil está atrativo. Com o câmbio e preços favoráveis, vários fundos de private equity estão investindo aqui", diz Cláudio Haddad, fundador do Insper e ex-banqueiro.

A queda da percepção de risco–impulsionada por apostas na saída da presidente Dilma– beneficiou ironicamente até o governo, que, nesta quinta (10), captou, pela primeira vez desde 2014, dinheiro no exterior.

Mas não são só expectativas sobre a política que explicam a atual busca por Brasil.

O ajuste nas contas externas tem sido mais intenso e rápido do que o esperado. Isso tem levado a apostas de que a tendência de valorização do real pode continuar, pelo menos no curto prazo.

O aprofundamento da recessão alimenta a expectativa de queda da inflação, e a tradução disso para os investidores é que talvez haja espaço para um corte dos juros.

"O ajuste econômico que não depende do governo está sendo feito", diz Rodrigo Borges, da Templeton.

COMMODITIES

A recente mudança de sinal em relação ao Brasil é também explicada pelo anúncio da China de que vai expandir projetos de infraestrutura, o que ajuda os preços de commodities como o minério de ferro e o petróleo.

Isso aumentou o interesse por países emergentes de forma geral, mas o Brasil lidera.

O índice da Bloomberg que compara o valor de mercado dos títulos das dívidas soberanas subiu 11,2% no caso do Brasil, desde o início do ano. A segunda colocada entre os emergentes, Indonésia, teve valorização de 6,4%.

A alta do real em 2016 é o dobro da registrada pela moeda indonésia, também em segundo lugar. Nesta sexta (11), o dólar comercial fechou em R$ 3,59. Há duas semanas valia R$ 4. Já a Bolsa brasileira só sobe menos apenas do que a peruana no ano (14,3% e 15,8% respectivamente).

Apesar do otimismo recente, gestores e analistas ressaltam que a volatilidade nos preços de ativos brasileiros deve permanecer alta porque o cenário político ainda é incerto e a economia deve permanecer muito fraca.

O JPMorgan diz em relatório, por exemplo, que, no médio prazo, o real deve voltar a se depreciar.



Compartilhe:

<< Voltar

Nós usamos cookies em nosso site para oferecer a melhor experiência possível. Ao continuar a navegar no site, você concorda com esse uso. Para mais informações sobre como usamos cookies, veja nossa Política de Cookies.

Continuar