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Varejo despenca em janeiro e fundo do poço ainda está por vir, dizem analistas

Veículo: Valor

Seção: Economia

Ao contrário da indústria, que, segundo economistas, tem dado sinais de já ter deixado o momento mais crítico para trás, o comércio deve registrar no primeiro trimestre o período mais fraco no ano. Divulgada ontem pelo IBGE, a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) mostrou que o volume de vendas no varejo restrito (exclui veículos e material de construção) caiu 1,5% de dezembro para janeiro, feitos os ajustes sazonais, abaixo do piso de ­1,2% das projeções de 19 analistas consultados pelo Valor Data.

O resultado vem após redução de 2,7% em dezembro e é o pior para meses de janeiro desde 2005, quando houve recuo de 1,9%. No conceito ampliado, com veículos e material de construção, a retração foi de 1,6%, também foi a maior no período desde 2005. Sobre janeiro de 2015, as vendas restritas diminuíram 10,3%, e as ampliadas, 13,3%. A queda em 12 meses foi mais intensa ao passar de 4,3% em dezembro para 5,2% em janeiro, no caso do varejo restrito, e de 8,6% para 9,3%, no ampliado.

Para economistas ouvidos pelo Valor, o dado reforçou a percepção de que, diante do desaquecimento mais forte do emprego e sem mudanças nos indicadores de crédito e confiança, a retração do consumo ainda pode aumentar. Na avaliação de Isabella Nunes, gerente da coordenação de serviços e comércio do IBGE, os elementos que afetaram as vendas em 2015 continuam presentes, reduzindo o poder de compra das famílias, que têm de substituir produtos por similares mais baratos.

Ela destacou o enfraquecimento do emprego, pressões inflacionárias, alta do juro e restrição ao crédito. Paulo Neves, da LCA Consultores, cita uma série de influências negativas sobre o comércio, que, em sua avaliação, explicam o desempenho aquém do esperado: a taxa de juros para compra de bens duráveis, segundo o BC, subiu de 93% para 94,1% ao ano entre dezembro e janeiro, a inflação de alimentos avançou de 1,5% para 2,3% em igual período, o saldo negativo mensal de empregos formais aumentou de 80 mil para 102 mil postos, de acordo com o ajuste sazonal da LCA, e, por fim, a confiança do consumidor está em patamar bastante deprimido há dois meses. "Não há nada ajudando."

Embora a queda de janeiro tenha sido generalizada, com participação tanto dos setores que respondem mais à renda quanto dos mais dependentes de crédito, a retração teve peso negativo maior sobre a venda a prazo no mês, diz Neves. O destaque foi o segmento de móveis e eletrodomésticos, cujas vendas caíram 4,3%, depois de recuo de 8,3% em dezembro. Tendo em vista o cenário adverso para o consumo, Neves avalia como pouco provável que a contração de janeiro seja devolvida no curto prazo. Nas projeções da LCA, as vendas restritas devem encolher 3% entre o quarto trimestre de 2015 e o primeiro de 2016, feitos os ajustes sazonais ­ retração mais significativa a ser observada, nessa comparação, no ano.

As previsões para o comércio ampliado estão sendo revistas. Após a última divulgação, a estimativa da consultoria para o desempenho anual do comércio restrito foi cortada, de queda de 3,6% para recuo de 4%. Diante da elevada volatilidade da PMC na série com ajuste sazonal, João Morais, da Tendências Consultoria, não descarta que as vendas subam em algum dos próximos meses, ainda que o resultado seja pautado mais por "argumentos estatísticos do que econômicos", diz. Para Morais, os primeiros três meses do ano devem ser os mais difíceis para o varejo.

Diferentemente da indústria, que parece já ter atingido seu ponto mínimo e tem dado sinais de estabilização em seu ritmo de queda, o "fundo do poço" para o comércio ainda não chegou, afirma Morais ­ o que é natural, uma vez que a atividade industrial entrou no atual ciclo recessivo bem antes do consumo. Além disso, o principal fundamento que tende a dar algum alento à produção é o setor externo, devido ao câmbio mais depreciado. Para a demanda, o dólar mais alto "só atrapalha", diz. Para 2016, o economista da Tendências prevê retração de 7,8% das vendas ampliadas, e de 4,6% no conceito restrito. Neste último segmento, a queda deve se acentuar em relação a 2015, destaca ele. Em sua visão, o varejo só deve atingir seu ponto mínimo no quarto trimestre.



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