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Marcas populares de calçados sofrem mais na crise

Veículo: Valor Econômico

Seção: Empresas 

As indústrias de calçados com operação na BM&FBovespa ­ Alpargatas, Arezzo e Grendene ­ fecharam o ano passado com queda no volume total de vendas de calçados. Ao mesmo tempo, apresentaram melhora no desempenho do mercado externo, por conta da desvalorização do real, que tornou o produto nacional mais competitivo em comparação a rivais da Índia, China e Turquia. Entre as companhias, a Grendene registrou a maior queda no volume de pares vendidos, de 12% em 2015, chegando a 180,4 milhões de pares. A retração superou a média do mercado, que encerrou o ano passado com uma queda de 4,1% no país, totalizando 840,4 milhões de pares. 

Outra empresa que apresentou queda acima da média foi a Alpargatas, com retração de 6,2% no total de pares vendidos no ano, chegando a 237,2 milhões de pares. A Arezzo teve uma retração de 1,9% no volume de vendas, para 10,4 milhões de pares.

A diferença no desempenho de vendas está relacionado ao foco de atuação das companhias. Tanto Alpargatas quanto Grendene trabalham no país com marcas populares e que atendem a públicos de todas as classes sociais ­ Havaianas e Dupé, no caso da Alpargatas; Ipanema, Grendha, Rider, Grendene e Cartago, no caso da Grendene. A Arezzo, com as marcas Arezzo, Alexandre Birmann, Schutz e Anacapri, tem como público alvo as classes A e B, que sofreram menos o impacto da queda na renda familiar. 

"Na crise, a competição das linhas mais populares fica mais concentrada em preço. As indústrias ou perdem margem com preços menores ou seguram o preço e perdem vendas", avalia Marcelo Prado, diretor da consultoria Iemi Inteligência de Mercado. 

O Iemi estima que as indústrias de calçados movimentaram no ano passado R$ 28,4 bilhões, com incremento nominal de 2,4% em comparação ao ano anterior. Descontando a inflação do ano, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor ­ Amplo (IPCA), houve perda real de 8,3% em 2015. Para 2016, a consultoria projeta para as indústrias de calçados um incremento marginal nas vendas, entre 0,5% e 1% no volume, com o mercado interno ainda retraído e melhora nas vendas no mercado externo. Em valor, a consultoria projeta um aumento nominal de 9% nas vendas, para R$ 46,5 bilhões, o que dá um ganho real pouco maior que 2%, considerando a projeção de IPCA para o ano de 6,67%.

No mercado brasileiro, a Alpargatas apresentou uma queda de 7% no volume de pares vendidos em 2015, chegando a 202,9 milhões de pares. Em receita, houve incremento de 2%, para R$ 2,44 bilhões. No ano, a Alpargatas reajustou em 13,8% o preço médio de sandálias no Brasil e em 24,3% o preço de calçados esportivos, o que contribuiu para redução da demanda, segundo a companhia. 

Esse desempenho foi compensado pelas exportações, que tiveram ganhos expressivos de receita relacionados à desvalorização do real em relação a outras moedas. Em 2015, as vendas da Alpargatas no mercado externo (incluindo Argentina) caíram 1,5% em volume, para 34,8 milhões de pares, mas em receita avançaram 47,2%, para R$ 1,69 bilhão. No total, a receita da Alpargatas cresceu 16,6%, para R$ 4,13 bilhão. Sem citar números, a Alpargatas informou que baixou os preços de sandálias no mercado externo em dólares para tornar o produto mais competitivo e elevar o volume de vendas. 

A Grendene registrou queda de 12% no volume vendido no mercado interno no ano, chegando a 134,5 milhões de pares. Em receita, a companhia fechou 2015 com retração de 8,6% nas vendas domésticas, chegando a R$ 1,9 bilhão. 

No mercado externo, a Grendene também reduziu o volume vendido em 12%, para 45,9 milhões de pares. Esse recuo foi mais que compensado com a variação cambial e a receita em reais de exportações avançou 13,9%, para R$ 730,8 milhões. Francisco Schmitt, diretor de relações com investidores da Grendene, disse recentemente que a companhia decidiu não baixar o preço médio em dólares dos calçados que exporta, como fizeram concorrentes, e isso provocou a queda no volume exportado. 

O diretor do Iemi acrescentou que no último ano, fabricantes de calçados mais sofisticados, linhas feitas com couro ou com algum tipo de inovação ainda conseguiram encantar consumidores. Dessa forma, conseguiram garantir melhor resultado em vendas.

Esse foi o caso da Arezzo. Em 2015, a companhia elevou as exportações em 67,4%, para R$ 127,6 milhões. No Brasil, apresentou incremento de 2% na receita, chegando a R$ 1,31 bilhão. Ao todo, a receita líquida da companhia avançou 6,4%, para R$ 1,12 bilhão. O volume de vendas ficou 1,9% menor, chegando a 10,4 milhões de pares vendidos. O volume de bolsas vendidas aumentou 8,4%, para 897 mil unidades. 

Prado ponderou que, apesar do crescimento na receita da Alpargatas e da Arezzo, as companhias ainda apresentam crescimento abaixo da inflação e inferior ao aumento médio nos custos de produção do setor, que foi de 10% em 2015. No ano, a Alpargatas atingiu queda de 2,8% no lucro líquido, para R$ 272,3 milhões. Arezzo registrou alta de 6,1% no lucro, para R$ 119,7 milhões, e Grendene, aumento de 22,1%, para R$ 603 milhões. 



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