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Apesar de rali, tendência para bolsa é de queda

Véiculo: Valor Econômico

Seção: Finanças 

A despeito dos ganhos acumulados recentemente, a tendência para o mercado de ações brasileiro ainda é de queda, segundo analistas. O Ibovespa acumula alta de 8,15% desde 11 de fevereiro ­ quando os preços do petróleo e do minério de ferro começaram a se recuperar. Mas, para especialistas, tratase de um ajuste nas cotações, já que as condições econômicas globais e locais não mudaram. Ontem, por exemplo, o cenário internacional mais adverso fez com que o Ibovespa recuasse 1,65%, para os 42.520 pontos. 

Will Landers, principal gestor de fundos para a América Latina da BlackRock, segue com posição defensiva em seus fundos. Ele diz acreditar que trata­se de uma recuperação momentânea, "a não ser que a Lava­Jato nos leve para outro nível de probabilidade de mudança".

Esta semana, a prisão do marqueteiro do PT João Santana fez o mercado voltar a apostar no impeachment da presidente Dilma Rousseff, o que deu ânimo extra aos investidores. Mas Landers diz que, como essas chances ainda são baixas, não acredita numa recuperação sustentada da bolsa. 

Alexandre Póvoa, sócio da gestora de recursos Canepa, também diz que é cedo para falar em impeachment e que o assunto pode estar sendo superestimado. Questões políticas têm mostrado força para adicionar volatilidade nos últimos meses na bolsa, mas sem necessariamente impor uma tendência nova. 

Em dólares, a alta de 8% do Ibovespa, acumulada desde o dia 11, está entre as mais expressivas considerando alguns dos principais mercados emergentes. A bolsa da Rússia é destaque, com 13,4% de ganho no período. A Argentina vem logo atrás, com 7,1%. 

De acordo com Landers, em meio a essa recuperação recente investidores globais se questionaram se não valeria a pena começar a aplicar de novo no Brasil. 

O saldo de capital externo vem melhorando em fevereiro e, até o dia 19, estava positivo em R$ 1,7 bilhão no mês. Em janeiro, o fluxo foi negativo em R$ 167 milhões. O volume negociado na Bovespa também melhorou. Passou de uma média diária de R$ 5,2 bilhões em janeiro para R$ 6,3 bilhões em fevereiro, até o momento. Apesar dessa recuperação, Landers diz que os fundamentos do país continuam fracos e tem posição defensiva em seus fundos. 

Segundo Póvoa, da Canepa, as recuperações do Ibovespa também encontraram um mercado brasileiro com investidores "sobrevendidos", o que gerou uma recuperação técnica. Ele diz que essa alta pode continuar no curto prazo, mas não mostra ainda forças para alterar a tendência do Ibovespa.

Mesma visão tem o estrategista­chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, para quem a busca por risco recente deve ter fôlego curto. A despeito da melhoria, o banco espera dólar acima dos R$ 4 e Ibovespa caindo abaixo de 40 mil pontos. De acordo com o especialista, o ambiente externo não traz gatilhos positivos, com a China desacelerando, a economia dos Estados Unidos dando sinais "erráticos" e a Europa também encontrando dificuldades para crescer. E esse cenário externo desfavorável encontra condições internas também difíceis. 

"O problema é estrutural", afirma. Segundo ele, o país precisa de um governo politicamente forte para superar os problemas, e essa não é uma realidade. "A recessão continua, temos inflação alta e o país não resolve seus problemas de produtividade", diz. "O governo não consegue fazer o ajuste fiscal necessário para colocar a dívida em uma trajetória sustentável, então o ajuste deve vir mais pela inflação", afirma. 

Na avaliação grafista, o analista Raphael Figueredo, da Clear Corretora, também comenta que "ainda não dá para falar de reversão de tendência". Segundo ele, o Ibovespa pode subir até os 43.900 pontos, sem mudar sua direção mais geral. "O mercado melhorou, mas o que mudou na economia ou expectativas? Nada", afirma. 

O Credit Suisse cortou na semana passada sua projeção para o Ibovespa no fim do ano, de 54 mil pontos para 50 mil pontos. A redução, diz o estrategista­chefe de análise de ações para a América Latina do banco, Andrew Campbell, reflete projeções piores da casa para os lucros das empresas listadas. E, a despeito de o novo nível embutir um potencial de alta de quase 18% para o índice, o banco mantém sua recomendação "underweight" (abaixo da média do mercado) para o Brasil, pois as perspectivas para os lucros podem cair ainda mais. 

Campbell afirma que o consenso de mercado para os lucros das empresas caiu nos últimos dois meses, mas ainda mostra uma expectativa de crescimento de 20% nos resultados. Ele também diz que o potencial de alta, na comparação com os altos retornos das aplicações em renda fixa ainda não compensa os riscos do posicionamento em ações. A taxa básica de juros da economia, a Selic, está atualmente em 14,25% ao ano. 



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