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Veículo: Valor

Seção: Economia

A cruzada nacional contra a epidemia de zika vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti e relacionado à microcefalia em recém­nascidos, virou uma oportunidade para a Megadose, marca de moda para gestantes, retomar o crescimento interrompido pela crise econômica. Também é uma chance de a Nanovetores, que produz insumos naturais para as indústrias têxteis e de cosméticos, acelerar sua expansão.

Em março, a Megadose, com sede em Cianorte (PR), lança uma linha de roupas com nanopartículas encapsuladas de citronela, que atuam como repelentes de insetos e foram criadas pela Nanovetores, de Florianópolis. A tecnologia da Nanovetores para repelir o mosquito, que também transmite a dengue e a febre chikungunya, é aplicada há quase três anos por fabricantes de cremes corporais e faciais. Em 2015, ela foi adaptada para o segmento de vestuário e atestada pela Axtiv3, empresa catarinense de pesquisa nas áreas farmacêutica, veterinária e cosmética. No mês passado, a GBaby, de Londrina (PR), apresentou uma coleção de roupas infantis com citronela.

Agora, é a vez de a Megadose apostar no novo nicho. Segundo o diretor­geral da Megadose, João Ricardo Esteves, a expectativa é que em seis a oito meses a produção atual de quase 35 mil peças mensais da marca seja ampliada em pelo menos 30% a 35%. O nível de expansão esperado corresponde à taxa média de crescimento anual dos negócios até 2014, já que em 2015 a crise estancou os volumes nos mesmos patamares do ano anterior. A coleção será apresentada na loja­conceito da marca em São Paulo e distribuída para uma rede de mil estabelecimentos multimarcas em todo o país, com preços em média 10% a 12% superiores aos das linhas sem o princípio ativo.

A empresa também vai abrir uma loja virtual para reforçar as vendas e, com a propagação internacional da epidemia, pretende colocar os produtos em outros países, principalmente na América do Sul. Conforme Esteves, a fabricação das roupas da marca é totalmente terceirizada e a Megadose tem contrato de exclusividade com a Nanovetores para usar as nanopartículas de citronela em peças para gestantes por 12 meses, com possibilidade de renovação. O produto, adquirido do fornecedor sob a forma concentrada, é diluído e aplicado nos tecidos em uma tinturaria industrial que presta serviços para a empresa. A diretora técnica da Nanovetores, Betina Zanetti Ramos, explica que as partículas de citronela criam uma "aura de repelência" contra os insetos e protege também as áreas descobertas do corpo.

Apesar disso, é recomendável que o uso das roupas tratadas seja combinado com repelentes convencionais ou associados a cosméticos. O aroma é bastante suave para o olfato humano e se dilui aos poucos, mas a eficácia do princípio ativo permanece por 20 lavagens, afirma a farmacêutica, com doutorado em química. De acordo com Betina, a Nanovetores não faz testes com animais e já desenvolveu cerca de 300 princípios ativos naturais, a maior parte para cremes regeneradores, firmadores, anticelulite, antifúngicos, hidratantes, antioxidantes, antiacne e cicatrizantes, entre outros. No ramo têxtil, também fornece nanopartículas hidratantes aplicadas desde 2014 pela Malwee, de Jaraguá do Sul (SC), em roupas esportivas.

A empresa opera a 100% da capacidade instalada de duas toneladas diárias de insumos em uma incubadora próxima ao centro de Florianópolis. No mês que vem, vai se transferir para outro parque tecnológico, no norte da cidade, onde poderá produzir 20 toneladas por dia. Conforme a diretora, as novas instalações poderão abrigar a Nanovetores por dois anos, mas depois disso será necessário construir uma unidade própria, de maiores dimensões. "Estamos nos preparando para uma demanda crescente", diz Betina. A empresa também desenvolve produtos em parceria com marcas como Natura e O Boticário, que estão protegidos por acordos de confidencialidade.

A previsão da companhia é obter um faturamento de R$ 25 milhões neste ano, ante R$ 12 milhões em 2015, quando a receita deu um salto de sete vezes sobre 2014. As exportações correspondem de 8% a 10% das vendas e incluem mercados como Estados Unidos, América Latina, Espanha, França, Malásia e Tailândia.