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Preço de manufaturado cai no exterior e reduz efeito do câmbio

Veículo:  Valor

Seção: Economia

Os preços de importação de bens industrializados, em dólar, caíram em 15 de 22 setores na média de 2015, movimento que, ao lado da atividade em queda, tem atenuado o efeito da depreciação de cerca de 50% do real ocorrida no ano passado sobre os produtos domésticos. Em média, segundo cálculos da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), os preços de bens importados recuaram 11,2% no período. Em igual comparação, o Índice de Preços ao Produtor (IPP), do IBGE, subiu 8,84%, com alta em 21 dos 23 segmentos da indústria de transformação analisados.

Ao transformar a variação dos preços de importação de dólares em reais, porém, só o setor de derivados de petróleo, biocombustíveis e coque permanece com retração no ano, de 15,9%. O aumento médio de bens industriais importados na moeda brasileira foi de 30,2% em 2015 nos cálculos da 4E Consultoria.

Embora com influência mais visível no setor de petróleo, Júlio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), avalia que, sem a queda em dólares, a inflação de bens industriais no mercado doméstico poderia ser mais elevada. "O pior está sendo minimizado com esse processo de negociação dos preços de importação", diz Almeida, referindo­se não somente ao repasse cambial aos preço domésticos, mas também a uma redução mais expressiva da margem de lucro das empresas industriais.

Segundo cálculos da Confederação Nacional da Indústria (CNI), os custos estão subindo acima dos preços de produtos manufaturados, o que tem impacto negativo sobre a margem de lucro. De acordo com o Indicador de Custos Industriais da CNI, os custos industriais aumentaram 2,9% entre o segundo e o terceiro trimestres de 2015 (último dado disponível), enquanto os preços dos bens avançaram 1,7%. Para a entidade, esse quadro é reflexo da crise econômica, que reduz a demanda e, consequentemente, impede o repasse dos custos maiores aos preços finais.

De julho a setembro de 2015, a maior pressão sobre os custos de produção ­ que subiram 3,3% em relação aos três meses anteriores ­ foi a alta de 3,8% de insumos e matérias­primas, que chegou a 11% no caso de bens intermediários importados. Por outro lado, a CNI observa que a indústria brasileira está recuperando competitividade no mercado doméstico em função da escalada do dólar, uma vez que, enquanto os custos industriais avançaram 2,9% na passagem do segundo para o terceiro trimestre, os preços dos manufaturados importados em reais aumentaram 13,3%.

A melhora dessa relação, diz Almeida, do Iedi, está permitindo que alguns segmentos industriais se beneficiem da substituição de importações, movimento que, por sua vez, tem influência de baixa sobre os preços dos bens comprados no exterior. Como exemplo, ele cita o setor de confecção de artigos do vestuário e acessórios, em que os preços de importação aumentaram apenas 0,6% em 2015. "Há uma renegociação de preços." Para Bruno Lavieri, da 4E Consultoria, os preços menores das importações tiveram efeito mais forte de contenção de altas no setor de derivados de petróleo.

Apesar de os reajustes de combustíveis serem controlados, afirma o economista, se os preços externos estivessem em nível maior do que os domésticos, a Petrobras precisaria fazer uma correção da gasolina e do diesel nas refinarias. A situação hoje, no entanto, é inversa: segundo especialistas, a estatal começou 2016 vendendo gasolina 33,8% acima dos preços do golfo do México, e o diesel, 64,2%. Em média, pondera Lavieri, a forte desvalorização do real mais do que compensou a queda de preços industriais na divisa americana. "A influência dos preços de importação sobre o mercado doméstico é altista", disse.

No Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o impacto da alta do dólar não foi compatível com a magnitude da depreciação cambial vista em 2015, avalia Thiago Curado, da 4E. Os bens duráveis subiram apenas 3,27% em 2015, pouco acima do aumento de 3% registrado em 2014. Para Curado, além da queda dos preços de itens importados em dólares, o maior acúmulo de estoques por parte da indústria devido à queda da demanda permitiu a postergação dos repasses cambiais.



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