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Corte recorde em emprego com carteira 'esconde' uma queda nas demissões

Veículo: Valor

Seção: Economia

O Brasil perdeu 1,5 milhão de empregos formais em 2015, pior resultado desde 1992 (ou mais, porque essa é a data do início da série). Apesar desse corte histórico de vagas, as empresas demitiram menos ao longo do ano passado do que em 2014. No ano de 2015 foram 19,2 milhões de demissões ­ 9,5% menos que em 2014. As empresas aproveitaram a rotatividade normal do mercado de trabalho e não repuseram todos os trabalhadores que saíram a pedido ou que tinham contratos temporários, por exemplo.

O Caged mostra que em 2015 foram feitas 17,7 milhões de contratações, 18% menos que em 2014. Apenas para reforçar a magnitude dessa queda nas demissões, em 2014 ­ quando houve saldo positivo de 396.993 empregos ­ os desligamentos aumentaram 1,4%. Naquele ano, as contratações tiveram queda de 2%. O fato de o corte de vagas ter sido provocado por uma menor rotatividade, contudo, está relacionado à estratégia das empresas (que com isso economizaram em custos trabalhistas embora possam ter perdido profissionais que gostariam de manter) e não permite minimizar o impacto desse corte de empregos sobre a vida das pessoas, sobre o consumo e sobre o futuro.

Ajustes desse tipo, tão profundos, têm reflexos estruturais. Uma indústria que demitiu 10% do seu quadro de pessoal, por exemplo, quando voltar a crescer, tende a contratar menos pessoas para voltar ao mesmo patamar de produção anterior. Ganha­se produtividade, perdem­se empregos. Vários setores fizeram um ajuste de pessoal bastante expressivo. No setor de material elétrico e de comunicações, 15 em cada 100 empregos formais foram cortados; em material de transporte, o corte foi de 14 em cada 100; no setor têxtil, 10 em cada 100. A indústria de transformação, na média, cortou 7,4% dos postos de trabalho com que começou o ano. Por trás do corte expressivo de vagas de 2015, contudo, há um dezembro melhor que o esperado. Na média, os analistas ouvidos pelo Valor esperavam uma redução de 655 mil vagas em dezembro, e o mês fechou com 608 mil vagas a menos.

É uma diferença pequena, mas em novembro o mês já havia surpreendido com uma redução menor de vagas (os analistas esperavam 167 mil empregos a menos e o Caged apontou queda de 130 mil empregos naquele mês). Reportagem publicada nesta semana pelo Valor, da repórter Tainara Machado, chamou atenção para o fato de que "um conjunto de indicadores preliminares, como a evolução da confiança e dos estoques na indústria e as vendas no varejo, parou de piorar nos últimos meses, o que pode apontar para certa estabilização da atividade em algum momento deste ano".

Os dados do Caged dos últimos dois meses de 2015 somam­se a essa lista de indicadores que surpreendem positivamente, embora ainda não indiquem reversão de tendência. A outra hipótese é que com resultados já muito negativos, as empresas tenham deixado para fazer mais demissões a partir de janeiro e assumir seus custos nos balanços de 2016. A conferir.



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