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Bolívia quer 78% de aumento no preço

Veículo: Valor

Seção: Economia

Os novos preços de renovação do contrato de fornecimento de gás da Bolívia para o Brasil já preocupam distribuidoras quatro anos do vencimento do contrato em 2019. No próximo dia 10 o ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Luis Alberto Sánchez, se reunirá em Brasília com o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia (MME), Luiz Eduardo Barata.

Virão também funcionários da estatal Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos (YPFB), e é provável que a Petrobras tenha representantes. Segundo informa a imprensa boliviana, o governo de Evo Morales quer aumentar em 78,25% o preço de venda do gás. O preço atual é de US$ 5,7 por milhão de BTU (sigla em inglês para Unidade Térmica Britânica, que mede o poder calorífico do gás) e o novo preço pretendido é de US$ 10,16. 

Para efeito de comparação, a média de preço do gás boliviano vendido pela Petrobras, já incluindo a tarifa de transporte pelo Gasbol, é de US$ 6,16 por milhão de BTU, segundo o Boletim Mensal de Acompanhamento da Indústria de Gás Natural do MME. O contrato de suprimento de gás (Gas Supply Agreement conhecido pela sigla GSA em inglês) foi firmado entre Petrobras e YPFB na década de 90 e começou com endosso dos governos do Brasil e Bolívia. Ele prevê a entrega de 31 milhões de metros cúbicos por dia ao Brasil por 20 anos a partir de 1999. 

Um aumento do preço dessa magnitude traria aumento de 10% do gás veicular e 10% do gás encanado, gerando um impacto de 0,04 ponto percentual no Índice de Preços ao Consumidor (IPC), segundo cálculo do superintendente adjunto para inflação do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas, Salomão Quadros. "Se os aumentos forem de 50%, o impacto seria então de 0,2 ponto percentual. O gás natural também é usado em algumas atividades industriais como a produção de cerâmica. Os aumentos de preços nestas atividades produziriam impactos indiretos no IPC, de difícil mensuração mas provavelmente de menor intensidade que os dois efeitos diretos (veicular e encanado)", explicou Quadros. 

Em declarações recentes mencionadas por jornais da Bolívia, o ministro Sanchéz disse esperar que o novo contrato com o Brasil tenha preços maiores que os atuais. Não é a primeira vez que a Bolívia tenta negociar aumentos mas agora as declarações preocupam as distribuidoras de gás, que já enfrentam alta dos preços do insumo desde que a Petrobras retirou os descontos. "Existe preocupação com relação aos preços do gás os volumes que serão renovados e também quanto à garantia da oferta de gás", afirma Augusto Salomon, presidente da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás). Salomon explica que a garantia dos volumes preocupa as distribuidoras que utilizam o gás boliviano. A paulista Comgás, maior do Brasil, tem no gás da Bolívia 40% do seu suprimento. As outras são dos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. 

Os clientes dessas distribuidoras já começam a procurar a companhias para saber entender os impactos no preço dos contratos. Paulo Pedrosa, presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia (Abrace) considera o pleito boliviano inaceitável. "A fase do brasil generoso e transferindo renda para os vizinhos acabou. Nossa expectativa é de redução do preço do gás, já que a queda do preço do petróleo é consistente e aponta para um prazo bastante confortável e de fôlego", afirma Pedrosa, lembrando que a ampliação da oferta de GNL no mundo favorece a redução na renovação do contrato. O objetivo manifestado pelo governo boliviano é equiparar os preços do gás vendido para a Petrobras previsto no GSA ao preço de venda para a térmica de Cuiabá, no Mato Grosso do Sul, que é mais caro por ter curta duração. 

Essa planta foi alugada pela Petrobras e em outubro de 2014 ela fechou com a Bolívia um acordo temporário de suprimento de 2,24 milhões de metros cúbicos até 2016 para que a planta voltasse a operar. Em fevereiro deste ano essa térmica foi comprada por uma holding de investimentos da família Batista, que controla o JBS. Ao assinar o acordo de suprimento para essa térmica a Petrobras aceitou pagar à Bolívia US$ 434 milhões retroativos, pelo consumo do chamado "gás rico" como são chamados os componentes mais nobres do gás. A decisão causou surpresa, já que o contrato original não faz menção ao "gás rico", estipulando apenas o valor calorífico do gás enviado para o Brasil. A Petrobras mencionou como uma troca favorável na negociação o contrato adicional para Cuiabá em um momento de déficit de energia e alta dos preços no mercado "spot".



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