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Questão é quanto os juros vão subir

Veículo: Valor

Seção: Economia

Difícil ser mais claro: o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central caminha para aumentar a taxa básica de juros ­ salvo alguma surpresa de última hora ­ já na sua próxima reunião, marcada para os dias 19 e 20 janeiro de 2016. A questão é o tamanho do ciclo de aperto monetário. Na ata de sua mais recente reunião, de novembro, divulgada ontem, há duas mensagem muito típicas de intenção de apertar a política monetária.

Uma delas é dizer que "a maioria dos membros do Copom considerou monitorar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião para, então, definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária". A frase "monitorar a evolução do cenário macroeconômico para definir seus próximos passos" foi usada no passado, pelo menos três vezes, pouco antes de o Copom subir os juros.

A mais recente delas foi em março de 2013, antecipando o início de um ciclo de alta que, a rigor, sofreu duas pausas, mas ainda não terminou. Expressões semelhantes foram empregadas em 2008 e 2010, acrescentando que o Copom monitorava "atentamente" o cenário econômico. Em 2013, não havia o "atentamente", mas isso não impediu os juros de subirem já na reunião seguinte do Copom. Outra firme indicação da disposição de subir o juro é que "o Comitê adotará as medidas necessárias de forma a assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas". Nesse caso, a frase indica não apenas a intenção de subir os juros, mas também a disposição de repetir a prática adotada no início deste ano, quando o Copom agiu exatamente assim: subiu os juros o necessário para colocar suas projeções de inflação na meta.

Ontem, em evento em São Paulo, o diretor de assuntos internacionais do BC, Tony Volpon, falou em "agir e responder de forma contundente e tempestiva", reciclando palavras­chaves usadas no começo deste ano. Quanto os juros precisam subir? O Copom tem chamado a atenção para o fato de que, com a alta das expectativas de inflação, os juros reais caíram nos últimos meses, em relação aos percentuais de julho passado. Essa pode ser uma referência para a alta de juros. O percentual exato vai depender de como se comportam as projeções de inflação do BC em relação aos objetivos perseguidos pelo Copom. A ata define alvos um pouco mais explícitos: trazer a inflação o mais próximo possível do centro da meta de 4,5% em 2016 e assegurar a convergência da inflação à meta de 4,5% em 2017.

Até então, o Copom mencionava a intenção de cumprir os "objetivos do regime de metas" e fazer a inflação ir para a meta "no horizonte relevante da política monetária". Também está dito na ata que o objetivo é circunscrever a inflação "aos limites estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN)", ou seja, o Copom não quer deixar a alta de preços estourar o teto da meta em 2016. O que dizem as projeções oficiais de inflação do BC? No cenário de referência, com juros estáveis em 14,25% ao ano, a inflação projetada pelo BC está acima do centro da meta em 2016, mas não se sabe quanto. É provável que não ultrapasse o teto. Para 2017, o BC diz que se encontra no "em torno" do centro da meta.

Nas próximas semanas, sai o Relatório de Inflação, onde teremos uma indicação mais clara do cenário inflacionário e, talvez, de quanto os juros terão de subir. Mas será prudente entender esse ciclo de aperto como um processo em aberto, cuja duração e intensidade vão ser definidas ao longo do caminho. Será importante saber quanto o ajuste fiscal e a alta de tarifas vai afetar a inflação. Volpon também colocou entre os objetivos da ação do BC a ancoragem das expectativas de inflação e a disciplina no processo de formação de preços, algo que vai além de cumprir a meta.



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