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O que esperar de 2016

Veículo: Folha de S. Paulo

Seção: Colunistas -Pedro Luiz Passos

Indo direto ao ponto, sem rodeios: a crise que se abre no país não tem precedente tanto pela ótica da economia como da política. Ela é inusitada ao reunir problemas econômicos clássicos, como a recessão e o desemprego, ao resultado ainda somente parcial da Operação Lava Jato, mas que já explicitou um quadro de decomposição inimaginável.

Um ano que começara sob a regência de um ajuste mediano das contas fiscais do governo, envolvendo adiamento de gasto e aumento de alíquotas de alguns impostos, chega ao fim com elevado deficit e sem previsão sobre o Orçamento para 2016, dependente, além disso, da recriação da CPMF, e com as finanças dos Estados em situação precária —vários deles sem caixa para honrar a segunda parcela do 13º, seus fornecedores e os salários à frente.

É mais do que óbvio que estamos em meio a um cenário complexo, que se agrava à medida que a carga tóxica derramada pelas finanças públicas começa a corroer a solvência das empresas e famílias e sem que se vejam um sentimento de urgência e providências à altura.

A eficácia do Judiciário, ao afrontar com destemor a criminalidade incrustada no aparelho de Estado, não encontra correspondência no enfrentamento dos problemas da economia, que já não eram simples ao fim de 2014. Hoje, espalham-se como metástases a exigir cirurgias.

A expectativa de um biênio de recessão, na sequência da estagnação da economia verificada em 2014, não é algo para assistir nem com complacência nem tomado pelo pânico, mas com a consciência de que a postergação de reformas estruturais que, mais dia, menos dia, terão de ser feitas só vai agravar as sequelas da crise que aí está.

Tais efeitos já estão estampados na evolução do desemprego, que na pesquisa nacional do IBGE atingiu 8,9% em setembro (ante 6,8% há um ano), e na resistência da inflação. Ela começa a aparar o poder aquisitivo dos salários, apesar da taxa Selic de 14,25% ao ano, mais que o dobro de seu nível em 2013. Essa crise não é uma abstração.

O dramático é que os efeitos negativos da recessão, que sugere o porte de uma depressão, estão apenas no começo. Um terço das empresas avaliadas pela agência de risco Fitch já destina mais da metade de seu fluxo de caixa para o pagamento de juros. A relação era de 24% em 2013. Sem sinal de alívio dos juros (pelo Focus, a pesquisa semanal do BC, a Selic recuará a menos de 10% só no fim de 2020!), o que esperar de 2016? E de 2017?

O acolhimento do pedido de impeachment contra a presidente enfraquece ainda mais um governo já imobilizado e torna improvável um eventual consenso suprapartidário para blindar a economia e reverter o que vai avançado: a decomposição das relações sociais, econômicas e políticas.

Nesse cenário incerto, nossa ambição para a economia se retrai de forma que, em vez de uma meta ousada de superavit primário para 2016, como seria o ideal, pode ser aceitável um mínimo de equacionamento das contas públicas, suficiente, porém, para sinalizar uma nova direção.

Isso e o encaminhamento de algumas reformas que configurem a ruptura do desgastado padrão de acordos políticos, centrados na tal base aliada no Congresso, podem indicar a mudança que nos tire da beira do precipício e acene com outro equilíbrio de direitos e deveres, do público e privado.

Há muito a ser feito, mas prioritário, agora, é fazer prosperar com celeridade as definições no campo político para encerrarmos o próximo ano com expectativas melhores do que os fatos que a realidade nos impõe neste final de 2015. 



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