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Produção industrial recua 0,7% em outubro, o 5º mês seguido de queda

Veículo: Folha de S. Paulo

Seção: Mercado

A produção industrial teve queda maior do que o esperado em outubro, de 0,7% na comparação com o mês anterior. É a quinta baixa consecutiva, informou o IBGE nesta quinta-feira (3).

Com o resultado, o setor se encontra 17% abaixo do nível recorde alcançado em junho de 2013. E regride a praticamente o mesmo patamar de março de 2009.

Para Ricardo Macedo, coordenador adjunto do curso de economia do IBMEC-RJ, o resultado reflete a renda em queda devido à alta do desemprego, o câmbio desfavorável, pouco crédito, inflação em alta e cenário político instável.

Quando comparada com o mesmo mês do ano passado, a produção industrial caiu 11,2%, a vigésima taxa negativa seguida, e a maior desde abril de 2009 (-14,1%).

A retração apontada pela PIM-PF (Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física) superou a expectativa de economistas consultados pela agência internacional Bloomberg, de queda de 0,1% em outubro comparado com o mês anterior, e de 10,4% na comparação com o mesmo mês de 2014. No acumulado do ano, a perda foi de 7,8%.

"A tendência é de que o pessimismo aumente, com o cenário político instável e notícias do Banco Central de que o centro da meta de inflação só seráatingido em 2017 ", diz Macedo.

Para ele, a ausência de sinais positivos corrói a confiança do mercado em investir, o que deve atrasar a retomada da indústria e pode piorar as projeções para o PIB deste ano.

Economistas consultados pelo Banco Central estimam em 7,50% a queda da produção industrial em 2015 e em 2,30% em 2016. Há quatro semanas, esperava-se retração de 7%.

Do total de vagas fechadas no acumulado de janeiro a outubro, 41% foram na indústria de transformação (-336.437), segundo dados do Ministério do Trabalho.

André Macedo, que coordena a pesquisa do IBGE, destaca também os altos estoques, a concorrência de mercadorias estrangeiras e a baixa confiança das famílias como fatores para a retração. "A confiança doméstica retrai junto com o mercado de trabalho."

Quando considerado um período de 12 meses, o único de 26 setores que teve alta na produção foi o das indústrias extrativas, que inclui, por exemplo, mineradoras e madeireiras e teve alta de 6,5%. A indústria de transformação como um todo teve queda de 9%.

CATEGORIAS

A retração entre setembro e outubro atingiu todas as categorias pesquisadas. Essa comparação desconta, por exemplo, o efeito da diferença do número de dias entre os meses.

O setor de bens de capital, aquele que fornece as máquinas que serão usadas por outras indústrias em sua produção, teve recuo 1,9%, mais do que o dobro da média de 0,7%. A variação anula a alta de 1,3% em setembro.

Para Nelson Marconi, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas, a queda é um indício de que o real desvalorizado não está bastando para trazer alta dos investimentos, apesar de aumentar a competitividade da mercadoria brasileira.

"Quando há uma incerteza muito grande em relação ao futuro, ninguém investe em produção". Para ele, o país acaba de deixar um período de real forte, e o patamar baixo precisa se manter para que os empresários o vejam como estável e invistam para exportar.

Ele também destaca a alta capacidade ociosa como um dos fatores para a falta de investimento.

Entre os bens de consumo, a queda mais acentuada foi dos duráveis, o que inclui, por exemplo, carros e geladeiras. O recuo foi de 5,6%, enquanto a produção de bens de consumo semiduráveis e não duráveis, categoria que inclui aqueles comprados cotidianamente no supermercado, caiu 0,6%.

Para Marconi, esse setor ainda vai começar a sentir mais fortemente a deterioração da economia.

"Ele é o último a sofrer impacto, que tende a chegar com o aumento do desemprego", diz.

Dos 24 ramos que compõem cada uma dessas categorias maiores, apenas 15 tiveram alta em outubro comparado com setembro.

André Macedo, do IBGE, destaca o resultado negativo da produção de veículos automotores, reboques e carrocerias, com queda de 3%.

Também estão entre os que mais contribuíram para o recuo no mês indústrias extrativas (-2,0%) e o setor de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-9,4%).

Após ter alta de 3,4% entre agosto e setembro, o setor de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis teve queda de 2,7% entre outubro e o mês anterior. 



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