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Um Olhar Sobre o Futuro da Moda

Veículo: Portugal Têxtil

Seção: Notícias

Moda e tecnologia de mãos dadas

A moda e tecnologia devem aprender a comunicar, de forma a melhor estabelecerem parceria essenciais à criação de wearables e produtos mais inovadores, com recurso aos megadado, e artigos cada vez mais personalizados.

Burak Cakmak, reitor da Escola de Moda da Parsons School of Design, destacou as ações tomadas no sentido de integrar mais professores com formação na área tecnológica nos quadros docentes da instituição, para que estes possam ensinar os estudantes de moda a comunicar melhor com o sector.

A capacidade de comunicação entre ambos os sectores é essencial para que tecnologias como os wearables se tornem verdadeiramente dominantes: diversos oradores afirmaram que o baixo atrativo dos dispositivos wearables tem travado a progressão da indústria.

«O mercado constituído por indivíduos que se pretendem assemelhar a androides é muito reduzido. Se os wearables não forem bonitos, não serão algo que queiramos usar. Ninguém quer usar uma pulseira de borracha», explicou a consultora de moda Liza Kindred. As empresas de tecnologia e os designers devem unir-se desde a primeira fase do processo de desenvolvimento – ao invés do que frequentemente acontece. Algumas marcas estão já a tomar medidas nesse sentido, porém, enquanto consultora de moda e tecnologia, Rachel Arthur reconheceu que «atualmente, é apenas uma solução muito desajeitada. Ainda não assistimos efetivamente a uma colaboração entre a moda e a tecnologia desde o início do processo. Vemos, agora, a Intel a trabalhar com o Conselho de Designers de Moda da América (CDFA), no sentido de obter a perspetiva estética».

Quebrar a fabricação em escala

Ben Alun-Jones, fundador da start-up de moda Knyttan, discutiu o futuro dos tecidos e fabricação no palco do Fashion Summit. A Knyttan pretende transformar o mercado do vestuário de malha, recorrendo a tecnologia especialmente desenvolvida, que “transforma” teares industriais em dispositivos equivalentes a uma impressora 3-D para vestuário, que permite que os clientes desenhem e imprimam os seus próprios artigos de malha personalizados, confecionados com lã merino de qualidade superior.

«Este método está a transformar a fabricação de uma forma que é possível aplicar em escala», afirmou Alun-Jones, explicando como as novas tecnologias de fabricação digitais, como a que desenvolveu, poderão impulsionar uma revolução na fabricação física, disponibilizando a produção de fábrica mediante o clique de um botão, sem custos derivados da reduzida dimensão das encomendas. Embora a moda se tenha mostrado, tradicionalmente, relutante na adoção de novas tecnologias, Alun-Jones admite que o sucesso assinalado pela marca até ao momento – a Knyttan vai inaugurar a primeira loja no final deste mês – irá forçar a indústria a considerar seriamente a personalização em massa. «É uma produção única em escala industrial», referiu. «Tudo é produzido em função da procura, recorrendo ao poder da tecnologia para recuperar a individualidade e personalidade da roupa».

Há ainda um longo caminho a percorrer antes de alcançar a plenitude da sua proposta de mercado de massas, num momento em que cada camisola individualmente confecionada custa 200 libras esterlinas, mas Alun-Jones acredita que o futuro da fabricação de vestuário sustentável reside em permitir que as pessoas – e as marcas – imprimam as roupas por encomenda desta forma. «Nunca produziremos algo que ninguém quer, porque estaremos a produzir sob procura. Estima-se que 10% das peças de vestuário confecionadas em todo o mundo tenham como destino direto os aterros – o que é uma loucura», sublinhou. Alun-Jones espera que o envolvimento dos consumidores no processo de fabrico de vestuário os faça perceber a importância da qualidade, em detrimento da quantidade.

O stock da marca é integralmente digital. Os produtos vendidos através do website são convertidos em modelos virtuais, ao invés de serem efetivamente fabricados. Os arquivos digitais podem ser alterados on-line pelos clientes antes da fase de produção. «Encaramos o que fazemos, primeiramente, como um produto digital», confessou. «Procuramos digitalizar as roupas, de forma a que não sejam apenas um produto fixo – trata-se de um item dinâmico, que pode ser alterado e moldado à pessoa», esclareceu.

Megadados e desenvolvimento de produto

Os megadados, ou big data, estão a impulsionar o processo de desenvolvimento do produto. A fundadora do inovador retalhista de soutiens Third Love, Heidi Zak, revelou que a sua empresa recorre a esta informação como forma de melhorar o fit das peças produzidas. A marca continua a aprimorar o fit dos seus produtos, acompanhando as mudanças corporais das clientes. «Em média, uma mulher muda de tamanho de soutien seis vezes ao longo da sua vida e temos de garantir que disponibilizamos os produtos corretos», explicou.

Zak destacou a forma como os megadados são, atualmente, usados como uma ferramenta que permite conhecer os clientes de um dado retalhista, citando a Timberland como exemplo. A marca de calçado assumiu que o seu cliente era sobretudo um consumidor de outdoor mas, observando os dados, apercebeu-se que a base de clientes era efetivamente constituída por um consumidor urbano, adepto em paralelo do outdoor. Posto isto, a empresa alterou a forma como se promovia, de modo a apelar ao consumidor urbano. Isto impulsionou a marca, propagando a sua diferenciação. «Podemos utilizar o cliente em nosso benefício», afirmou Heidi Zack.

O analista de dados da Google, Olivier Zimmer, revelou que o gigante da tecnologia recorre a dados de busca para ajudar os seus clientes a tomarem melhores decisões face às tendência de moda. Observando os padrões de pesquisa da procura, dados geográficos e comportamento de co-busca, o Google tem a perceção sobre quais as tendências que estão a ganhar popularidade.

«Observamos pequenas mudanças de comportamento e, em seguida, vemos como se relacionam, representando mudanças mais amplas no comportamento do consumidor. Por exemplo, assistimos ao aumento do interesse pelos produtos de athleisure, e, em seguida, testemunhamos um aumento da popularidade do segmento de alimentação saudável e exercício físico, e tudo o que se encaixa na tendência macro de uma maior predisposição para o que é mais saudável», aponta. Embora os megadados sejam, cada vez mais, incluídos no design de produto, Zak e Zimmer não acreditam que as equipas de design possam vir a ser substituídas, num futuro próximo, por máquinas. «O núcleo da marca tem de ser uma pessoa real, reconhecida pelo consumidor. A marca não existe sem personalidade – não pode ser, simplesmente, proveniente dos dados», advogou Zak. Por seu lado, Zimmer acrescentouque «trata-se de tomar decisões melhores e mais informadas».



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