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Ibovespa sobe e dólar cai após ata do Fed e melhora da cena política

Veículo: Valor

Seção: Economia

SÃO PAULO -  Os mercados financeiros do Brasil operam com alívio nas tensões recentes, puxado pela ata do Federal Reserve (Fed, banco central americano) e pela melhora no ambiente político local. A busca por risco se reflete na queda do dólar, para as mínimas em uma semana, recuo das taxas de juros e alta do Ibovespa. A ata da mais recente reunião de política monetária do BC americano, realizada em outubro e divulgada ontem, mostrou que a maioria das autoridades do Fed apoia um aumento dos juros no encontro de dezembro, caso a inflação e a expansão do emprego permaneçam no rumo até lá.

No front local, contribui a melhoria do ambiente político em Brasília, especialmente depois de o governo ter conseguido uma série de vitórias no Congresso Nacional que permitiram o esvaziamento da chamada “pautabomba” ­ conjunto de medidas que poderia ter grande impacto fiscal nos próximos anos. Câmbio O dólar tem forte queda ante o real nesta quinta­feira, caindo às mínimas em uma semana. Profissionais atribuem o movimento a uma reação atrasada à sinalização do Fed de que aumentos de juros nos Estados Unidos serão bastante graduais, conforme ata da última reunião de política monetária do BC americano divulgada ontem. Às 13h34, o dólar comercial recuava 1,81% para R$ 3,7251.

Já o contrato futuro para dezembro cedia 0,95% para R$ 3,7440. A ata foi divulgado às 17h, horário de fechamento do mercado de câmbio à vista brasileiro. O dólar comercial terminou em baixa de 0,57% ontem. Já no mercado futuro ­ em que as operações se encerram às 18h ­, o dólar para dezembro caiu 1,29%. Isso explica por que hoje o dólar à vista cai mais do que a taxa do mercado futuro. No exterior, várias divisas emergentes seguem se recuperando, com investidores ajustando posições à ideia de que o Fed não tem pressa para promover novas altas de juros depois de dezembro. Mas a queda do dólar no plano doméstico segue também influenciada pelo alívio nas tensões políticas em Brasília, especialmente depois de o governo ter conseguido uma série de vitórias no Congresso Nacional que permitiram o esvaziamento da chamada “pauta­bomba” ­ conjunto de medidas que poderia ter grande impacto fiscal nos próximos anos.

Bolsa O Ibovespa tem mais um dia positivo, com alívio externo e interno. O índice subia 0,89% às 13h36, para 47.859 pontos. A ata do Fed de ontem ajuda nos ganhos dos mercados, dizem operadores. O prosseguimento do alívio nas questões políticas locais também impulsiona a alta do Ibovespa. O Bank of America Merrill Lynch diz, em nota de hoje, que a ata do Fed puxa os mercados ao mostrar que os membros do BC americano esperam uma alta de juros lenta. “Os membros do Fed assinalaram sua fé na força da maior economia do mundo, dizendo que pode se tornar apropriado elevar a taxa de juros de referência no próximo mês”, diz o banco em nota a clientes. “Eles concordam que qualquer aperto seria gradual”, complementa o BofA. E essa mensagem de gradualismo na alta favorece os mercados de risco, diz o economista­chefe do Modalmais, Álvaro Bandeira.

Ele comenta ainda que os mercados já embutiram o evento nos preços dos ativos e que o Ibovespa tem negociado, nos últimos meses, num canal “de lado”, entre 45 mil pontos e 48 mil pontos. No Brasil, novas vitórias do governo no Congresso favorecem o desempenho do Ibovespa. “O quadro político está mais suave, com menos discussões sobre impeachment, menos ruído, o que ajuda um pouco”, disse Bandeira. O Congresso manteve ontem à noite o veto presidencial ao financiamento empresarial de campanhas eleitorais. Dentre as matérias com maior impacto no orçamento, foram mantidos os vetos ao reajuste de todas aposentadorias pela variação do salário mínimo, o que custaria R$ 9,2 bilhões por ano à Previdência. No embalo das vitórias conseguidas no Congresso nos últimos dias, o governo encaminhou alteração à Lei Orçamentária de 2016 incluindo a receita com a CPMF na previsão de receitas.

O governo estima um impacto líquido positivo nas na arrecadação de R$ 24 bilhões. Após a fortíssima alta de ontem, alguns papéis de siderurgia ainda sobem. Caso de Gerdau PN (7,10%) e CSN (0,17%). As cotações das companhias de siderurgia reagem à possibilidade de aumento nas tarifas de importação do aço. Segundo informou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro, não há definição em relação ao nível de eventuais novas alíquotas. “Não tenho definição sobre isso. As atuais estão entre 8% e 14%, dependendo da família de produtos”, afirmou. Os papéis da Metalúrgica Gerdau viraram e passaram a cair.

A perda era de 4,37%, a pior do Ibovespa. Usiminas também devolve parte dos ganhos e cedia 2,48%. Vale PNA subia 1,59% e Vale ON ganhava 0,48%. Juros As taxas de juros futuros negociadas na BM&F registram queda firme nesta quinta­feira, pressionadas por fluxo estrangeiro e por desmonte de posições negativas em Brasil por parte de locais. No pano de fundo para esse movimento estão a sinalização do banco central americano de que a alta de juros por lá pode ser ainda mais gradual do que o esperado. E, no Brasil, o mercado segue reagindo positivamente a uma aparente trégua na crise política, que pode reduzir a ameaça ao ajuste fiscal. Ontem à noite, o governo enviou à Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO) texto alterando a receita da proposta orçamentária de 2016 para incluir a arrecadação com a CPMF. De acordo com o texto encaminhado, a previsão de arrecadação é de R$ 32,2 bilhões se a cobrança começar em abril.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, defendia a inclusão de receitas com a CPMF na proposta de Orçamento para 2016. Essas vitórias têm fortalecido Levy, recentemente alvo de intensas especulações de que deixaria o cargo. Em mais um sinal favorável ao ministro, o ex­presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva disse não fazer pressão para tirá­lo do cargo. Em entrevista à GloboNews, Lula afirmou que não quer nem tirar Levy do cargo nem defendê­lo, acrescentando que ele é um problema da presidente Dilma. Levy participa hoje de evento em Nova York. Os esforços agora parecem se concentrar na aprovação da CPMF. Ontem, o mercado voltou a considerar a aprovação do imposto após notícias de que o vice­presidente da República, Michel Temer, estaria se mostrando mais favorável à volta do imposto.

Também ajudando a aliviar a crise política, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB­RJ), teria dito a parlamentares em jantar que talvez não haja mais ambiente para impeachment de Dilma nem neste ano, nem no próximo. "Não se vê mais um cenário de ruptura. Essa é a grande mudança das últimas semanas. Mas também não se espera que o governo avance em questões mais estruturais", diz o estrategista da Coinvalores Corretora Paulo Celso Nepomuceno, que não vê justificativa para um alívio adicional dos juros longos.

Ainda na pauta doméstica, o IPCA­15 de novembro subiu 0,85%, em linha com o esperado, e a taxa de desemprego avançou para 7,9% em outubro, ante 7,6% em setembro. Às 13h38, o DI janeiro de 2017 recuava a 15,290% ao ano, ante 15,450% no último ajuste. O DI janeiro de 2018 cedia a 15,49%, frente a 15,670% no ajuste de ontem. O DI janeiro de 2021 tinha queda a 15,290%, contra 15,510% no ajuste da véspera.



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