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Os banqueiros vestem Hering

Veículo: Isto é Dinheiro

Seção: Notícias

Conselheiro da Totvs desde o ano passado, o banqueiro Pedro Moreira Salles tem feito reuniões periódicas com os novos trainees da empresa de tecnologia. Na mais recente delas, realizada em outubro, Moreira Salles, que é presidente do conselho e um dos principais acionistas do Itaú Unibanco, afirmou aos 14 jovens presentes no encontro que “nas crises surgem diversas oportunidades.” Um dia antes, ele fizera jus ao seu conselho. A gestora de investimentos Cambuhy, que cuida da fortuna pessoal do banqueiro, adquiriu 6,1% do capital da varejista têxtil Hering, cujas ações estão em um momento de baixa.

Enfrentando dificuldades nos últimos anos, a Hering viu seu valor de mercado despencar de R$ 7,5 bilhões, em 2013, para R$ 2,4 bilhões neste ano. O acionista que comprou R$ 1 mil em ações da empresa em outubro de 2012, tem hoje R$ 366. É justamente essa queda que explica o interesse de investidores como o Moreira Salles na companhia. Indagado pela reportagem da DINHEIRO após dar palestra num evento da revista The Economist, em São Paulo, na semana passada, ele não comentou o negócio.

Ele não foi o único a apostar recentemente na empresa, conhecida por suas camisetas básicas. Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Gávea Investimentos, havia comprado 5,3% da Hering em agosto. O fundo não retornou os contatos da DINHEIRO. Os investimentos ajudaram as ações da companhia a subir 35% nos últimos três meses. “Os investidores estão pensando na Hering em longo prazo”, afirma Eugênio Foganholo, diretor da Mixxer Desenvolvimento Empresarial, consultoria especializada em varejo. “Ela tem uma estrutura sólida para voltar a ser bem-sucedida.”

A estratégia adotada por Gávea e Cambuhy é conhecida como PIPE (do inglês, investimento privado em ações públicas). Ela ocorre quando fundos, acostumados a investir em empresas de capital fechado, veem oportunidades de se associar a companhias de capital aberto que passam por dificuldades e estão com as ações baratas. No alvo, estão geralmente empresas com bom potencial de mercado, mas que apresentam resultados negativos por motivos que fogem ao seu controle, como uma crise financeira ou do seu setor de atuação. É o caso da Hering.

“Hoje, o papel dela é muito barato”, diz Douglas Carvalho, sócio da Target Advisor, consultoria de fusões e aquisições especializada em varejo. “É uma empresa com diversos atrativos, mas que está sofrendo com a crise, como praticamente todo o setor.” Até dois anos atrás, comprar as ações da Hering significava um retorno certo do investimento. A empresa, que faturou R$ 2 bilhões no ano passado, era sempre colocada como uma das “queridinhas” do mercado. Mas, com o início de 2013, chegaram os problemas.

A desaceleração econômica e o mau momento do segmento têxtil trouxeram desafios. A Hering, por sua vez, não vinha fazendo a lição de casa. Atrasos nas reposições de roupas, dificuldade em atender a demanda, franqueados insatisfeitos com a pouca atenção que vinham recebendo da diretoria e preços elevados para roupas simples estavam afastando clientes. Os equívocos começaram a ficar evidentes nos balanços, que faziam as suas ações despencarem. Os resultados do terceiro trimestre, divulgados na quinta-feira 29, ainda mostram que a empresa não conseguiu se recuperar totalmente.

Sua receita líquida caiu 2,8%, a R$ 353 milhões. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortizações e depreciações), importante medida de geração de caixa, recuou 26%. Como alento, o lucro líquido subiu 37,9%, para R$ 97,7 milhões e a sua principal operação infantil, a Hering Kids, manteve suas vendas estáveis. Os investidores apostam que este será um dos últimos resultados negativos. Suas esperanças estão apoiadas em uma série de atrativos. Os principais são a abrangência nacional, um histórico positivo de crescimento e preços ainda convidativos para boa parte da população.

A Hering, assim como a Havaianas, deixou de ser uma marca restrita às classes mais baixas para fazer parte do guarda roupa até dos mais abastados. “É uma empresa que vai se recuperar nos próximos três anos”, diz Carvalho. Para isso, no entanto, ela terá de promover melhorias na cadeia de vendas, atendendo de forma mais personalizada os franqueados e demais canais de vendas, e convencer o consumidor de que seus produtos, mesmo os pretinhos básicos, ainda que um pouco mais caros, são melhores do que os da concorrência.



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