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Setores industriais sofrem com importações

Veículo: Valor

Seção: Economia

Para permitir o ingresso, principalmente de bens manufaturados, e estimular o mercado interno, o governo brasileiro manteve ao longo dos últimos anos uma política de valorização do real frente ao dólar, que chegou a US$ 1,67 em 2011; Essa situação gerou perda de competitividade em alguns setores da indústria nacional, em especial de vestuário, calçados, eletroeletrônicos e máquinas e ferramentas, que hoje lutam para se reerguer e se adequar aos novos tempos. "A política de sobrevalorização do real por um largo período foi um suicídio econômico, já que ao mesmo tempo houve uma alta da tributação das indústrias", diz Thomaz Zanotto, diretor do departamento de relações internacionais e comércio exterior da Fiesp.

Em alguns setores, ocorreram situações em que o governo foi obrigado a intervir em situações anti­dumping. No final de 2009, foi instituída uma sobretaxa de US$ 12,38 para cada par de calçado importado da China, valor que foi reajustado para US$ 13,85 em 2010 e ainda em vigor. "A importação desenfreada de calçados chineses causou a perda de 45 mil postos de trabalho, que só foram repostos após 2011", afirma Heitor Klein, presidente da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados). Apesar da sobretaxa, o problema persiste, diz Klein. "Para driblar a fiscalização, a China passou a realizar triangulações com a Malásia e a Indonésia, enviando partes de calçados, que são montados aqui, obtendo vantagem na alíquota, que é de 18% enquanto a do calçado é 35%".

Lançada em agosto, pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) feita com 2.146 empresas, revelou que a concorrência chinesa é sentida por 28% das indústrias nacionais, sendo que 57% delas perderam participação no mercado doméstico. Os setores mais atingidos foram metalurgia (39%), vestuário (36%), informática, eletrônicos e óticos (35%) e máquinas e materiais elétricos (32%). Segundo Renato da Fonseca, gerente­executivo de pesquisa e competitividade da CNI, além do câmbio desfavorável até 2012, faltou ao Brasil executar um planejamento que permitisse mais competitividade ao setor nacional. "Pecamos pela falta de mão de obra qualificada e por manter uma política tributária cumulativa. Já os chineses fizeram a lição de casa ao sair de um modelo intensivo de exportações para produtos com mais tecnologia, o que gerou uma forte dependência em setores como eletroeletrônicos".

Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), admite a dependência no setor de componentes, mas critica a postura do governo ante o avanço chinês. "Não houve nenhuma medida do governo para proteger a indústria nacional e evitar que ficássemos expostos à concorrência chinesa", lamenta. Já o setor de máquinas foi mais afetado, segundo revela estudo da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Em 2003, a participação chinesa no mercado doméstico era de 6,6% e, no ano passado, alcançou 16,6%. Para Klaus Curt Müller, diretor de comércio exterior da Abimaq, a maior entrada dos produtos chineses, aliada à retração econômica, em provocado uma queda no nível de emprego, hoje na faixa de 334 mil empregos. Há três anos, eram 380 mil postos.



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