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Alta do dólar pressiona empresas brasileiras endividadas na moeda

Veículo: Folha de S. Paulo

Seção: Mercado

A valorização do dólar superior a 50% em 2015 está levando a uma melhora nas contas externas do Brasil.

O país está importando menos e enviando menos dólares ao exterior via remessas de lucros e gastos de turistas.

Com isso, o deficit externo em conta corrente deve cair dos US$ 104 bilhões do ano passado para cerca de U$ 65 bilhões neste ano.

Essa melhora, no entanto, pode ser revertida no futuro em função do impacto que o dólar vem tendo sobre empresas brasileiras endividadas em moeda estrangeira.

Esses compromissos crescentes também tendem a manter aguerrida a recusa do setor empresarial em aceitar mais impostos para melhorar a situação fiscal do país.

Segundo a Austin Rating, levantamento entre 811 empresas em 2011 mostrava que as dívidas em dólar dessas companhias equivaliam a 28% do seu patrimônio líquido. Em 2014, outra amostra (com 633 empresas) revelou que o endividamento em dólares saltou para 52%.

O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, diz que a alta do dólar encolhe consideravelmente a possibilidade das empresas de buscar créditos no mercado. Tanto para rolar as dívidas vencendo como para investir.

Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria, alerta para o fato de que na quinta (24) o prêmio cobrado pelo mercado para vender seguro ("hedge") a empresas brasileiras endividadas em dólares atingiu o mesmo patamar do auge da crise de 2008.

Segundo ele, há uma percepção cada vez maior dos credores dessas empresas de que elas terão dificuldades em obter dólares em um mercado pressionado como hoje.

"O mercado de câmbio no Brasil neste momento, apesar das reservas de US$ 375 bilhões do Banco Central, volta a lembrar as crises dos anos 1980 e 1990. É um mercado de uma ponta só: a compradora", afirma Blanche.

Uma consequência do dólar em alta e sua pressão exercida sobre a inflação é que o governo acaba recebendo uma ajuda na contenção de sua dívida pública.

O próprio presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, admitiu isso. "A inflação não é ruim para o setor público consolidado. É positiva", disse, segundo relato ao "Valor Econômico".

Tombini vocalizou o que muitos acreditam que o governo fará para reduzir seu deficit. Com a inflação, o Estado aumenta a arrecadação tributária nominal mensalmente enquanto paga suas despesas com defasagem, às vezes apenas uma vez por ano, como nos reajustes a servidores e aposentados.



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