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Dólar sobe e rompe barreira dos R$ 4, a maior cotação da história

Veículo: Folha de S. Paulo

Seção: Mercado

O dólar atingiu nesta terça-feira (22) seu maior valor histórico em relação ao real com o mercado cético de que o governo terá êxito nas aprovações de novas medidas fiscais, necessárias para evitar que o país tenha sua nota de crédito cortada por agências internacionais de classificação de risco.

Às 13h (de Brasília), o dólar à vista, referência no mercado financeiro, tinha valorização de R$ 1,56%, para R$ 4,053 na venda. É o maior patamar da história, superando o recorde atingido na véspera de R$ 3,991. Já o dólar comercial, utilizado em transações de comércio exterior, avançava 1,75%, para R$ 4,052 —também o maior valor histórico, por ora, considerando cotações de fechamento.

É preciso considerar, no entanto, que o cenário econômico entre 1994, quando o Plano Real foi criado, e 2015 mudou drasticamente. O valor de R$ 4 naquela época, por exemplo, hoje valeria cerca de R$ 12,75, após correção inflacionária.

No mercado de ações, o principal índice da BM&FBovespa operava no vermelho. O Ibovespa recuava 2,38%, para 45.483 pontos. O volume financeiro girava em torno de R$ 2,5 bilhões. Por causa de uma falha no cálculo dos índices no Segmento Bovespa, a atualização e divulgação dos indicadores ficou paralisada entre 10h30 e 12h30. A situação já foi normalizada, segundo a administradora da Bolsa brasileira.

Além do cenário interno, a expectativa de aumento de juros nos Estados Unidos ainda em 2015, o que retiraria investimentos de países emergentes, como o Brasil, ampliava o clima de aversão ao risco entre os investidores. Entre as 24 principais moedas emergentes do mundo, 23 desvalorizavam-se em relação ao dólar às 13h. O dólar de Hong Kong se mantinha estável frente a moeda norte-americana.

CENÁRIO FISCAL

Está prevista para esta terça-feira a votação da chamada pauta bomba no Congresso, em que os parlamentares decidirão se derrubam ou não 32 vetos presidenciais de medidas que preveem o aumento dos gastos públicos. Se derrubadas, elas ampliariam o rombo nas contas do país.

As atenções também estão voltadas ao encontro do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e representantes da agência de classificação de risco Fitch Ratings.

No início do mês, a agência Standard & Poor's rebaixou a nota de crédito do país, retirando seu selo de bom pagador. O receio é que o Brasil também perca o chamado grau de investimento das agências Fitch Ratings e Moody's. Com duas classificações como essa, grandes fundos estrangeiros têm que remover suas aplicações do país pelo risco maior de calote.

No caso da Fitch, a nota brasileira ("BBB") está dois degraus acima do limite entre grau de investimento e especulativo, por isso mesmo que a agência resolva cortar a nota do país em um nível, o Brasil manteria o selo de bom pagador concedido pela agência.

Mauro Leos, responsável pela classificação da América Latina na agência de classificação de risco Moody's, avaliou que, sem a recriação da CPMF, o "cenário fica muito ruim". No curto prazo, a principal questão é o Orçamento do ano que vem, disse Leos. O analista afirmou que uma aprovação do imposto do cheque seria fundamental para evitar o terceiro ano consecutivo de deficit primário do Brasil.

CURVA DE JUROS

A alta do dólar tende a pressionar a inflação, já que encarece os produtos importados. O IBGE divulgou nesta terça-feira que o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15) desacelerou para 0,39% em setembro. O índice é considerado uma espécie de prévia da inflação oficial. No ano, porém, a inflação acumula avanço de 7,78% —o mais elevado para o período desde 2003 (8,46%).

Este cenário tem feito com que os investidores apostem em juros mais elevados nos próximos anos, também pela expectativa de que o Brasil terá de pagar taxas maiores para atrair investidores estrangeiros dispostos a bancar o risco de investir num país pouco confiável na avaliação das agências de risco.

As taxas de juros futuros negociadas na BM&FBovespa voltaram a subir nesta sessão. O contrato de DI para janeiro de 2021 apontava taxa de 16,120% perto de 13h, ante 15,810% na sessão anterior. O DI para janeiro de 2016 subia para 14,590%, ante 14,540%.

Na véspera, o Banco Central e o Tesouro fizeram uma ação conjunta para tentar conter a escalada do dólar e dos juros. O Tesouro informou que fará outra operação extraordinária nesta terça, sem detalhes.

AÇÕES

As ações preferenciais da Petrobras, mais negociadas e sem direito a voto, perdiam 5,61% às 13h, para R$ 6,89 cada uma. Elas estão no menor valor desde agosto de 2003. Já as ordinárias, com direito a voto, recuavam 3,71%, a R$ 8,30. Por ora, é a cotação mais baixa desde 30 de janeiro, quando estava em R$ 8,04, considerando preços de fechamento.

A estatal informou nesta terça que está em negociações finais com a japonesa Mitsui para a venda de 49% da Gaspetro, empresa que tem participação em 19 distribuidoras de gás canalizado. A Mitsui já é sócia da Gaspetro em distribuidoras envolvidas na transação e disputava o negócio com a chinesa Beijing Gas. A venda é parte do plano de desinvestimento da Petrobras, que tem por objetivo reduzir o elevado endividamento da companhia.

Também no vermelho, os papéis preferenciais da mineradora Vale cediam 4,33%, para R$ 15,02 cada um. O movimento acompanha a baixa nos preços do minério de ferro no mercado da China, que é o principal destino das exportações da companhia. As ações ordinárias recuavam 4,06%, para R$ 19,12.

Os bancos caíam e ajudavam a empurrar a Bolsa para baixo. Este é o setor com maior peso dentro do Ibovespa. O Itaú perdia 1,65%, enquanto a ação preferencial do Bradesco tinha desvalorização de 2,21%. O Banco do Brasil recuava 2,27%.

Em sentido oposto, as ações de exportadoras se beneficiavam da alta do dólar e lideravam os ganhos do Ibovespa às 13h. A Fibria subia 3,10%, enquanto a Suzano tinha ganho de 1,17%. 



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