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Moda ética: Logísticas sociais e sustentáveis para a indústria denim

Veículo: FashionMag

Seção: Notícias

O jeans carrega em sua história um pesado fardo: o de utilizar uma matéria-prima muito poluente, valer-se de processos deselegantes para com o meio-ambiente, necessitar de alta quantidades de recursos naturais para girar e, ainda, traz um passado marcado por práticas laborais prejudiciais aos trabalhadores.

Este foi um fato que se tornou evidente em sua linha do tempo, em especial nos anos 80 com a adesão em massa dos processos de lavagem com pedra e a criação da indústria de lavanderias.

Hoje vivemos em um cenário onde os gostos e preferências do consumidor de moda dependem da aprovação do currículo de um produto, desde a sua origem até o descarte, somado à uma crescente corrente que pensa a moda não como um detalhe novo na roupa, mas sim como novas maneiras de se produzir e formas mais conscientes de realizar negócios. 

Assim, para além do uso do algodão orgânico e dos beneficiamentos mais sustentáveis, a indústria do vestuário, em especial as marcas de jeans, tem também inovado em novos aspectos: criando novos desenhos para o ciclo de vida dos produtos, propondo novas formas de realizar negócios de moda e enobrecendo o processo de fabricação de suas peças, por meio da inclusão da mão de obra de cunho social. 

Em todas essas iniciativas, temos marcas internacionais, como a Mud Jeans, Re/Done e a JC Denim Co. Porém, na questão social, felizmente podemos mencionar ainda admiráveis iniciativas nacionais, explorando o fazer consciente de acordo com o nosso próprio contexto, como a Ton Âge e a grife slow fashion Mig Jeans.

Na intenção de expandir a criatividade dos leitores e impulsionar o experimentalismo em todos estes tópicos, o Guia JeansWear inicia aqui a primeira de uma séria de matérias, onde aponta algumas iniciativas de valor ético que têm ganhado visibilidade nos temas já mencionados. 

Redesenho do ciclo de vida dos produtos

Mud Jeans: Na logística desenhada pela companhia, o cliente compra o jeans, porém o algodão é considerado apenas 'arrendado' para o cliente. Isso quer dizer que a marca permanece com a responsabilidade pela trajetória da matéria-prima até o final.

Quando a peça torna-se ociosa no guarda-roupa do consumidor, ela pode e deve ser devolvida para a empresa, para que a própria marca se encarregue de encaminhá-la para o destino da reciclagem, por meio da fusão do algodão descartado com o algodão virgem, dando origem a um novo tecido. 

Re/Done: a Re/Done é uma marca que se apropria dos melhores vintages da Levi's e promove a atualização do fit destas peças, realinhando-as às tendências e transformando-as em itens modernos e atuais.

É uma grife que não fabrica jeans, apenas reformula itens de excelente qualidade, ociosos pelo estilo ultrapassado. Com isso, evita-se o descarte de tais peças, mantendo o culto às marcas de luxo. 

Mig Jeans: marca nacional criada em 2013, pelas amigas Isa Maria Rodrigues, Mayra Sallie e Luana Depp, enquanto faziam o curso técnico de produção de moda.

Caracterizada pela prática do upcycling e alinhamento ao slow fashion, a Mig Jeans se apropria de peças em denim descartadas para criar peças exclusivas para o público jovem. Para tanto, aplica customizações, desenvolve tingimentos e promove transformações reaproveitando o jeans e tecidos em geral. 

Novas práticas nos negócios de moda

Fashion Library: na Fashion Library as roupas são locadas, como um livro que se leva para a casa, se lê muitas vezes, e depois se devolve. Se o cliente realmente amar uma peça, ele pode comprar; mas a ideia principal é de um grande guarda-roupa coletivo, onde as peças são compartilhadas entre associados. Nesta linha de pensamento, a adesão ao sistema de locação de roupas substituiria as compras frequentes por peças novas.

Os membros têm acesso à todas as roupas da loja, que exibe ambiência de boutique, mas, ao invés de pagar com dinheiro, utilizam um cartão de associado. Cada item disponível vale um determinado número de pontos, variando de 25 a 100, e, dependendo do plano de sociedade adquirida, o cliente pode ter um valor maior ou menor de pontos revertidos em roupas, as quais podem ser levadas para sua casa.

A vantagem é que os membros podem estar sempre trocando as peças, respeitados os limites de pontuação definidos, assim como podem colocar temporariamente à disposição da Fashion Library algum item do seu próprio acervo pessoal. 

Mão de obra de cunho social 

JC Denim Co.: marca recente, mas que já possui uma legião de fãs em função da admiração pelo estilo das suas peças. No entanto, a companhia também cativa a atenção de qualquer um que se intere das suas práticas produtivas.

O jeans da JC é produzido em parceria com uma organização de combate à escravidão sexual e é enviado para prover suporte e treinamento às garotas resgatadas de tais condições, sendo que cada jeans é confeccionado manualmente por uma destas vítimas.

Ou seja, ao vestir um jeans da marca, você está ajudando a salvar e a sustentar uma ex-vítima de escravidão sexual. É sem dúvida uma forma de mudar o valor de um produto de vestuário, a partir do currículo que envolve sua confecção. 

Ton Âge: a Ton Âge é uma marca gaúcha que não enfatiza o jeans como produto principal, no entanto, reserva sempre um espaço importante para o mix em denim nas suas araras, com peças que chamam atenção pela presença de um minucioso bordado em pedrarias.

Este trabalho, que define o estilo das peças da marca, e também dos demais itens é feito dentro do presídio feminino, em um projeto que ensina um novo ofício às detentas, enquanto reduz a pena.

Se pensarmos que as confecções nacionais seguidamente declaram encontrar dificuldades para encontrar mão de obra para o desenvolvimento de peças trabalhadas, tal iniciativa nos faz pensar que novos olhares, para novas soluções, podem revelar que a realidade nem sempre corresponde à necessidade: basta livrar-se do caminho trivial.



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