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Ocupação encolhe e desemprego entre jovens chega a 18,6%, aponta Pnad

Veículo: Valor

Seção: Economia

A geração de emprego medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua desacelerou pelo quinto trimestre consecutivo e cresceu 0,2% de abril a junho, na comparação com o mesmo intervalo do ano passado ­ o menor percentual desde o início da série, que começa em 2012. O desempenho mais fraco foi puxado principalmente pelo desligamento de trabalhadores mais jovens ­ nos grupos daqueles entre 14 e 17 anos e de 18 a 24 anos, a ocupação encolheu 6,4% e 3,8%, na mesma comparação.

A taxa de desemprego em ambas as faixas avançou mais de três pontos percentuais sobre o segundo trimestre do ano passado, atingindo 24,4% e 18,6%, nessa ordem ­ níveis bastante superiores ao da média do país, que passou de 6,8% no segundo trimestre de 2014 para 8,3% ­, mas foi contida, de certa forma, por uma procura menor por novos postos de trabalho do que aquela observada entre outros grupos de idade. No segundo trimestre, a parcela da força de trabalho que tinha 18 e 24 anos cresceu apenas 0,1% no confronto com o segundo trimestre de 2014, contra aumento de 1,8% na média do país, de 4,2% entre aqueles que tinham de 40 a 59 anos e de 8,2% entre os com mais de 60 anos de idade.

A população não economicamente ativa também permaneceu praticamente estável naquela faixa no período, indicando que a grande maioria dos jovens até então inativos ­ 7,1 milhões ­ também não voltou ao mercado de trabalho naquele intervalo. Assim, dos 488 mil novos desocupados na faixa entre 18 e 24 anos registrados entre o segundo trimestre de 2014 e o mesmo período deste ano, 478 mil deixaram de fato o emprego no período ­ demitidos ou desligados a pedido. A tendência, portanto, é que a taxa de desemprego entre os jovens fique cada vez mais pressionada, à medida em grupos que hoje estão fora do mercado de trabalho passem a buscar uma vaga, pondera Bruno Campos, da LCA Consultores. O economista faz um paralelo com o cenário observado no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que monitora apenas o mercado formal.

Os saldos negativos apurados em seis dos sete primeiros meses do ano pelo registro foram resultado especialmente de um desaceleração forte das contratações, mais do que por um aumento significativo das demissões. Quando elas começarem a crescer, diz, a situação tende a ficar pior. Conforme os dados apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 1,5 milhão de pessoas ficaram desempregadas entre o segundo trimestre de 2014 e o mesmo período deste ano, aumento de 23,5%. A Pnad Contínua abrange quase 3,5 mil municípios e deve substituir a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) ­ atualmente o indicador oficial, que engloba seis regiões metropolitanas ­ a partir do próximo ano. "Quem está voltando para o mercado de trabalho agora são os mais velhos", pondera o professor da FEA­USP Hélio Zylberstajn. Entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano, ele destaca, a força de trabalho ganhou 609 mil pessoas ­ 454 mil apenas nas faixas entre 40 e 59 anos (267 mil) e com mais de 60 (187 mil).

Como a economia não consegue gerar vagas em volume suficiente para acomodar os novos entrantes, parte deles tem de recorrer a categorias mais frágeis do emprego, como aquele por conta própria ­ que aumentou 4,7% em relação ao segundo trimestre de 2014. "A mudança no mercado de trabalho tem se dado tanto do lado quantitativo, com o aumento da taxa, quanto do qualitativo, o que é muito ruim", ressalta Zylberstajn. A economista­chefe da Rosenberg Associados, Thais Zara, ressalva que a queda forte nos inativos entre 25 e 39 anos, de 3,2%, pode não ser explicada apenas por um retorno de trabalhadores dessa faixa etária ao mercado de trabalho, já que, nesse grupo, a população em idade ativa (PIA) também caiu no período, 1,1%. "Simplesmente as pessoas estão ficando mais velhas [e migrando, assim, para outros grupos de faixa etária]", completa.

Olhando para os setores, Campos, da LCA, chama atenção para o comportamento da indústria, que entrou em terreno negativo pela primeira vez desde o início do ano passado. A queda de 0,3% na ocupação em relação ao segundo trimestre do ano passado, para ele, indica que o "enfraquecimento no setor está mais espraiado do que em 2014, tendo chegado aos subsetores produtores de bens de consumo semi e não duráveis". Na PME, que cobre apenas seis regiões metropolitanas ­ e onde, portanto, segmentos como o automotivo têm um peso ainda maior na composição do emprego industrial ­, a população ocupada no setor encolheu 2,8%, também na comparação entre os trimestres. O desemprego cresceu em todas as regiões e em 24 das 27 unidades federativas em relação ao segundo trimestre do ano passado. "Vivemos um período similar ao que vimos em 2003, com aumento da taxa de desocupação, estabilidade na população ocupada e aumento dos trabalhadores por conta própria", comentou Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento do IBGE.

Do levantamento, ele destaca o corte expressivo de vagas formais, de quase um milhão ­ retração de 2,6% sobre igual trimestre de 2014 ­ e o desempenho do Estado de São Paulo, onde o contingente de desocupados cresceu 30,1%, levando o desemprego de 7% para 9%.



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