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A moda entendida como cultura

Veículo: À Tarde

Seção: Notícias

Fortes ícones da cultura brasileira, como Guimarães Rosa, Lupicínio Rodrigues e Candido Portinari, já ganharam expressão na obra do estilista Ronaldo Fraga.

O rico processo criativo do mineiro é resgatado na nova edição do livro Caderno de Roupas, Memórias e Croquis. Nessa versão revista e ampliada em relação à original, de 2013, foram incluídos os mais recentes trabalhos de Ronaldo.

A publicação, lançada pela editora Cobogó,  insere o leitor nas incursões por temas nacionais, pesquisas de tecidos e exercícios visuais feitos pelo estilista durante a gestação das suas coleções.

O livro revisita clássicos trabalhos do mineiro como Carne Seca (inverno 2014), em que abordou o semiárido brasileiro, e Futebol (verão 2013/2014 ), no qual reinterpretou signos da paixão nacional. Em Quem Matou Zuzu Angel? (verão 2001/2002), Ronaldo prestou uma  homenagem à primeira estilista que usou a moda como discurso político no país.

Declarações pessoais de Constanza Pascolato e Regina Guerreiro apresentam o valor do encontro com o mineiro que estudou em Londres e Nova York, mas nunca largou a força do seu Brasil.

"A minha batalha nunca foi fazer a moda ser compreendida como arte. Sempre lutei para que a moda fosse entendida como cultura. Além de ser um vetor econômico poderoso, a moda é uma forma de estímulo à apropriação cultural e transformação social".

O livro é muito mais do que um exercício de memória gráfica de um estilista: são narrativas da cultura brasileira como fonte de inspiração para o desenho de moda.  "Eu falo que a moda está louca para se libertar da roupa porque ela  pode provocar mais. Pode agregar valor aos produtos de um país como a sua cultura".

Valorização do desenho

Ronaldo conta que a primeira edição da obra superou as expectativas e, o que seria uma coisa para durar cerca de oito meses nas livrarias, em 45 dias estava esgotada.

"Isso nos surpreendeu porque estamos num momento em que para ser designer não é preciso saber desenhar. O livro despertou desejo não só de pessoas ligadas à moda, mas também de interessados em artes visuais". 

Ronaldo acredita que, nesse momento, tem se dado maior valor ao desenho à mão livre "porque ele se transforma numa forma de assinatura do designer".

No início da sua carreira, o estilista não via valor nos cadernos de desenho. Ao fim do processo de desenvolvimento de cada coleção, ele oferecia  aquele arsenal imagético a um assistente ou jogava fora na primeira limpeza.

"Só que o meio acadêmico começou a me cobrar esse material porque é muito raro. Temos pouquissímas ou quase nenhuma publicação ligada a estilistas brasileiros e seu processo criativo. Por tanto, não poderia me furtar disso e acabei fazendo".

Recortes pessoais

No texto que abre o livro, Ronaldo fala sobre o dia em que o avô abandonou a família e comenta como isso impactou a vida do seu pai. Ele logo afirma que isso não tem nada a ver com moda.

"Eu não quis dar muita explicação. Mas, por mais que eu faça uma mistura de Noel Rosa com Portinari e saberes do fazer tradicional com Mário de Andrade, por exemplo, está aí posto o meu playground criativo. Os meus vestígios de memória inventada com memória real. Então, é como se eu falasse com uma geração do porvir sobre o quão  importante é ter um cuidado com a memória".

São exatamente essas observações mais pessoais de Ronaldo Fraga ao longo da publicação, inclusive na abertura de cada capítulo-coleção, que colocam o leitor ainda mais próximo da sua valorosa perspectiva de moda.



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