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Com queda no setor, estilistas têm que usar a criatividade

Veículo: A Tarde

Seção: Cultura

As luzes que iluminam as vitrines e passarelas brasileiras estão cada vez mais esmaecidas. A crise financeira jogou a cena de moda nacional num redemoinho de perda de renda e retração econômica.

Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), de janeiro a maio o segmento de vestuário apresentou queda de 13,2%, enquanto que o setor têxtil caiu 9,0% (a base é o mesmo período de 2014).

Para Fernando Pimentel, diretor superintendente da Abit, esses números são fruto de um país que parou de crescer e apresenta um futuro opaco. "Tivemos queda de produção e de nível de emprego. Só não tivermos queda nos números de importação", detalha.  

Para se adequar a uma conjuntura mais enxuta de mercado e não deixar os produtos parados nas araras, os estilistas precisam criar uma nova dinâmica para materializar a sua criatividade fashion. 

O mineiro Ronaldo Fraga lembra que a crise pela qual passa o setor têxtil já estava acontecendo  por conta da entrada dos tecidos importados no país e, agora, ela fica mais evidenciada com a queda no consumo dos brasileiros. 

"Toda vez que uma crise foi deflagrada no Brasil, ou quando a inflação galopou para algum canto, o primeiro setor a ser imediatamente atingido é a moda. E, curiosamente, ele é o segundo que mais emprega no país", afirma.

Criatividade como meta

O estilista carioca Mario Queiroz, doutor em comunicação e semiótica pela  Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), acredita que a crise econômica que atinge o mundo é transformadora.

"Se as coisas estivessem correndo bem, manteríamos tudo como antes. Vejo a crise com bons olhos porque é a hora de as pessoas sacudirem. Ou você apresenta opções para o cliente ou  vai perdê-lo".

Ele aponta que o mercado têxtil brasileiro é muito pouco ousado e, por isso, caducou. "O setor reclama muito, mas não vai buscar novas soluções. Estamos lidando com tanta morte anunciada no noticiário. Isso faz com que as pessoas retenham a compra. Elas não vão comprar qualquer coisa".

Mario ressalta que cada vez mais o mercado de design vai ter que seduzir o consumidor com opções que ele sinta que não pode viver sem. "Quem não quiser  contratar designer e se mexer para o diferente, é melhor fechar as portas".

O consultor de moda e apresentador Arlindo Grund afirma que hoje existe uma preocupação dos estilistas em fazer roupas que não tenham um prazo de validade.

"As peças já não são feitas para durar seis meses. Os estilistas estão criando peças com conceito, texturas e cores diferenciadas, mas que durem muito mais no armário".

Há quatro anos a marca da estilista Juliana Jabour passa por reformulações. Com experiências em grandes semanas de moda como Fashion Rio e São Paulo Fashion Week, ela conta que reduziu sua distribuição e estrutura para focar cada vez mais no seu DNA.

"Hoje, dentro da marca, é tudo terceirizado. Não faço mais nada internamente, nem peça piloto. Enxuguei para fazer focar nas pessoas que realmente querem a marca Juliana Jabour e não ficar na preocupação louca com vendas".  

Segundo ela, moda é considerado elemento supérfluo no Brasil e, para que as marcas mais  conceituais na cena consigam se adequar a um formato focado em números, é necessário ter preço competitivo.

"Não somos marcas de luxo internacional, que brasileiro gosta tanto porque dá status, e nem marcas com volume de produção gigante em que é possível comercializar com um preço médio baixo. O foco agora é trazer produtos cada vez mais desejáveis e fiéis ao  DNA".

Identidade local

Na cena baiana, os entraves são ainda mais complicados. De acordo com Maria Eunice Habibe, presidente do Sindicato da Indústria de Vestuário de Salvador (Sindvest), não há  na Bahia uma política para o fortalecimento do vestuário.



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