Notícias

Importações da China caem pelo 9º mês

Veículo: Valor

Seção: Economia

A economia da China começou o segundo semestre de forma negativa, divulgando dados de comércio e de preços industriais desapontadores em julho em meio a pressões da escassez de demanda no mercado interno e internacional. As exportações de julho caíram 8,3% em relação a um ano antes, revertendo o ganho de 2,8% de junho, revelaram dados divulgados no fim de semana. As importações caíram pelo nono mês consecutivo, recuando 8,1% depois da queda de 6,1% em junho.

E ontem o governo divulgou que os preços industriais em julho ampliaram o declínio que já dura mais de três anos, com o índice de preços ao produtor registrando seu maior recuo em relação ao ano anterior em quase seis anos. Embora existam alguns pontos positivos no cenário comercial, como os ganhos de volume nas importações de algumas commodities importantes, os dados foram quase todos piores que o esperado e ressaltaram problemas futuros no já combalido setor exportador da China. "Nós podemos ver pressões relativamente fortes nas exportações do terceiro trimestre", informou o escritório geral de Alfândega do país numa nota que acompanhou os dados.

O setor exportador chinês foi um grande contribuinte para o crescimento nos últimos anos. Mas ultimamente ele tem sido um obstáculo à expansão econômica. O crescimento econômico da China no segundo trimestre foi de 7% em relação a igual período do ano anterior ­ melhor que o esperado, mas bem abaixo dos níveis dos últimos anos. O governo espera obter crescimento de 7% no ano todo, mas ainda assim seria o pior desempenho em mais de 20 anos, reflexo de uma combinação de excesso de capacidade nos setores tradicionais, um setor imobiliário debilitado e pouca ajuda das exportações.

O Conselho de Estado da China, principal órgão do governo, informou em julho que daria alta prioridade ao setor comercial do país, fornecendo subsídios fiscais e reduzindo a burocracia e as taxas de importação. O governo acelerou um amplo leque de projetos de infraestrutura para impulsionar a demanda doméstica. O banco central também cortou os juros quatro vezes desde novembro em uma tentativa de ajudar as enfraquecidas empresas chinesas a obter crédito mais barato.

As exportações nos primeiros sete meses do ano caíram 0,8% em dólar ante o mesmo período do ano anterior, enquanto as importações recuaram 14,6% no mesmo período. "Não há uma reversão rápida em vista", diz Liu Yaxin, analista da China Merchants Securities. Ela prevê que as exportações serão afetadas pela demanda em queda assim como pelas comparações com os totais relativamente fortes de 2014 nos próximos meses. Para complicar o problema dos exportadores, a moeda chinesa está relativamente valorizada ante um dólar flutuante, o que fez com que o yuan se valorizasse mais de 10% em relação ao euro. "O fortalecimento do yuan [contra o euro] tem sido um obstáculo ao crescimento estável das exportações no mercado europeu", afirma Chen Jie, gerente­geral da Weida International Shoe Trade Company, de Wenxhou, no leste da China, região considerada centro das indústrias leves, como roupas e calçados. "Nós teremos que expandir nosso negócio doméstico se as coisas não melhorarem logo, mas isso também não será fácil", diz ele.

As exportações para a União Europeia caíram 12% em julho ante o mesmo período do ano anterior, recuaram 13% para o Japão e 1,35% para os Estados Unidos. Até o momento, o banco central da China não está mostrando sinais de reduzir a pressão sobre a moeda e permitir uma desvalorização do yuan ­ apesar dos pedidos de ajuda dos exportadores. "A pressão está se intensificando no banco central para deixar a moeda se desvalorizar, mas eu não acho que cederão à pressão", prevê o economista Tim Condon, do ING de Cingapura. A combinação de exportações fracas e importações ainda menores deixou o país com um superávit comercial de US$ 43 bilhões em julho, menor que os US$ 47 bilhões de junho.

A fraqueza das importações também é um reflexo do forte declínio dos preços de matérias­primas nos mercados globais, além da pálida demanda chinesa. Mas em volume os sinais são encorajadores para a demanda futura, com as importações de cobre e minério de ferro subindo no mês. As importações de soja e petróleo bruto também saltaram de forma expressiva. Os minguados preços globais de commodities desempenharam um papel na queda de preços da indústria da China em julho.

O índice de preços ao produtor caiu 5,4% em julho ante um ano atrás, ampliando a queda de 4,8% registrada em junho, e superando as previsões do mercado. A inflação ao consumidor também subiu em julho em relação ao mesmo mês de 2014, para 1,6%, ante 1,4% em junho, embora o resultado ainda esteja bem abaixo do teto do governo para 2015, de 3%. Analistas dizem ver mais sinais de esperança para a economia com a aceleração de gastos em projetos de infraestrutura pelo governo para manter o crescimento perto da meta do de 7% para todo este ano. "O governo agora está acelerando os investimentos em infraestrutura", diz Yang Zhao, economista da Nomura. "Eu acredito que o governo será mais proativo nos seus gastos fiscais nos próximos meses", prevê ele. (Colaboraram Grace Zhu, Rose Yu e Lilian Lin.)



Compartilhe:

<< Voltar

Nós usamos cookies em nosso site para oferecer a melhor experiência possível. Ao continuar a navegar no site, você concorda com esse uso. Para mais informações sobre como usamos cookies, veja nossa Política de Cookies.

Continuar