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Real acentua distância de moedas emergentes

Veículo: Folha de S. Paulo

Seção: Mercado

O real deixou de acompanhar as moedas emergentes e acelerou suas perdas em relação ao dólar desde que o governo praticamente zerou a meta fiscal, em 22 de julho.

A distância entre a cotação da moeda brasileira e a de uma cesta de divisas emergentes (como as de China, África do Sul e Rússia) está no maior patamar desde o início do ano, o que mostra que não são apenas as turbulências externas que afetam o real, mas também a recessão e as dificuldades do governo para cumprir o superavit.

O recorde anterior era de março, quando parte das dificuldades atuais já era conhecida.

As dificuldades do câmbio pioraram na semana passada também porque a agência de classificação de risco S&P ameaçou rebaixar a nota brasileira, o que tiraria do país o chamado grau de investimento, espécie de selo de bom pagador da dívida pública.

A expectativa de votação das chamadas pautas-bombas pelo Congresso, que podem elevar o gasto público e aprofundar a crise, também acentuou o pessimismo, levando o dólar a subir nesta quarta (5) pelo quinto dia seguido até bater em R$ 3,50.

Desde a mudança na meta fiscal (de 1,1% do PIB para 0,15%), o dólar passou de R$ 3,2269 para R$ 3,4854 no câmbio à vista, referência do mercado financeiro.

O real perdeu 24,2% de seu valor em relação ao dólar neste ano. A maioria das moedas dos grandes países emergentes se desvalorizou menos de 10%, com exceção do peso colombiano (19,5%), da lira turca (16,8%) e do rublo (12,5%).

A cesta de moedas emergentes compreende divisas de dez países, sendo que só a Rússia não tem o grau de investimento. Essas moedas seguem basicamente a variação dos preços de commodities, além da perspectiva de alta dos juros nos EUA, prevista para a partir de setembro.

"Estamos nos distanciando do grupo de países emergentes com uma situação mais estável, conforme o quadro econômico vai se deteriorando e a crise política não parece arrefecer", disse Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.

"Estamos no lado ruim dos emergentes, mais próximos de Turquia e Rússia e cada vez mais distantes dos países que têm perspectiva melhores de crescimento."

Para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, a taxa de câmbio brasileira passou a espelhar mais os negócios com CDS ("credit default swap", em inglês), um "seguro" para cobrir eventuais calotes e que mede o risco do país.

O CDS brasileiro de cinco anos, que começou o ano em 200 pontos, atingiu nesta quarta 307. Há duas semanas, estava em 275 pontos. Isso significa que quem compra proteção para um título do Brasil de US$ 10 milhões paga US$ 300 mil por ano ao vendedor do CDS. Em julho de 2014, pagava US$ 140 mil.

"Nós estamos mais para submergentes que para emergentes. Nossos títulos já são negociados como "junk" [alto risco]. Mesmo a desvalorização cambial não consegue impulsionar a competitividade do país, com exceção da exportação de matérias-primas, como papel e celulose, que têm os custos todos em real", disse Vieira.



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