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Dólar atinge R$ 3,50 e recua, mas fecha no maior patamar em 12 anos

Veículo: Folha de S. Paulo

Seção: Economia

O dólar fechou cotado a R$ 3,49 nesta quarta-feira (5), o maior patamar em 12 anos, afetado pelo agravamento das tensões entre governo e Congresso. Dados piores do que o esperado de emprego no setor privado dos Estados Unidos ajudaram a conter uma alta maior da moeda americana, segundo analistas.

O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou com alta de 0,41%, para R$ 3,494. É o maior nível desde 10 de março de 2003, quando a moeda encerrou a R$ 3,527 —R$ 5,40, corrigido pela inflação. O dólar comercial, usado em transações no comércio exterior, encerrou o dia com avanço de 0,72%, para R$ 3,490. Foi o mesmo nível de 11 de março de 2003. Corrigida pela inflação, a cotação dessa data equivaleria hoje a R$ 5,39.

O Ibovespa, principal índice do mercado brasileiro, subiu 0,46%, para 50.287 pontos, com a ajuda das ações da Vale.

O embate entre Congresso e governo voltou a influenciar o mercado financeiro. Na noite de terça-feira, a Câmara decidiu votar o primeiro item da chamada "pauta-bomba". Trata-se da PEC 443, que equipara salários da AGU (Advocacia-Geral da União) e de delegados aos do Judiciário. A proposta cria custos extras para a União e também para Estados e municípios.

"A questão política volta a se sobrepor ao noticiário externo. O [presidente da Câmara, Eduardo] Cunha tem sinalizado que vai dificultar a vida do governo eadotou medidas como a que deixa o PT fora da CPI que ele instaurou", afirma Ignácio Rey, economista da Guide Investimentos.

Além disso, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), indicou que deve barrar o projeto da revisão da desoneração da folha de pagamento, sob o argumento de que haveria aumento na taxa de desemprego.

"A Câmara vem se mostrando bastante hostil ao governo, com a votação de pautas-bombas. As notícias envolvendo a Operação Lava Jato só agravam a situação e pioram o humor do mercado com a instabilidade política", avalia Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.

O Banco Central deu continuidade às intervenções no mercado cambial, vendendo até 6.000 contratos de swaps cambiais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro).

E a tendência para o dólar continua de alta, avalia Fabiano Rufato, gerente de câmbio da Western Union no Brasil. "O BC indica que não vai intervir no câmbio. A moeda hoje testou R$ 3,50 e deu sinais de que não voltaria ao patamar anterior. Não há nada que aponte para um cenário diferente", afirma.

Por isso, a recomendação para quem vai viajar para o exterior é começar a comprar a moeda, ressalta Rufato. "É preciso calcular em reais quanto o turista poderá gastar lá fora e depois fazer a conversão para saber quanto isso representa em dólares", diz.

EUA

Dados de emprego no setor privado mais fracos nos EUA ajudaram a conter a valorização da moeda americana. De acordo com o Relatório Nacional de Emprego da ADP, os empregadores privados no país contrataram 185 mil trabalhadores em julho, o menor aumento desde abril.

A informação reduziu as expectativas de leitura forte no relatório de emprego do governo que será divulgado na sexta-feira. O dado de julho do setor privado foi revisado para baixo, a 229 mil novos postos, ante 237 mil originalmente relatado.

Além disso, declarações de Jerome Powell, diretor do Federal Reserve (Fed, banco central americano), lançam dúvidas sobre o aumento de juros nos EUA já em setembro. Segundo ele, as autoridades do Fed ainda não decidiram se vão elevar a taxa. Ele acrescentou que dados do mercado de trabalho podem ser particularmente importantes para esta decisão.

Para Ignácio Rey, da Guide, os fatos não significam que o aumento dos juros nos EUA esteja mais distante. "Ainda que nem todos os dados sejam positivos até setembro, isso não quer dizer que o Fed vá postergar a alta".

O aumento dos juros nos EUA deixaria os títulos do Tesouro americano -cuja remuneração acompanha essa taxa e que são considerados de baixíssimo risco- mais atraentes do que aplicações em emergentes, como o Brasil, provocando uma saída de recursos dessas economias. Com a menor oferta de dólares, a cotação do dólar seria pressionada para cima.

BOLSA

Dados positivos de China trouxeram alívio aos mercados nesta quarta-feira. A atividade no setor de serviços no país cresceu em julho no maior ritmo em 11 meses, mostrou nesta quarta-feira a pesquisa Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) do Caixin/Markit, compensando parcialmente a pressão sobre a segunda maior economia do mundo advinda da fraqueza do setor manufatureiro.

O resultado impulsionou as ações da Vale, que subiram também ajudadas pela alta dos preços do minério de ferro. Os papéis preferenciais da mineradora fecharam em alta de 3,92%, para R$ 15,39. As ações ordinárias tiveram avanço de 5,03%, para R$ 19,01.

Empresas siderúrgicas também se beneficiaram da melhora na China. Papéis da Gerdau subiram 3,48%, enquanto os papéis ordinários da Usiminas fecharam em alta de 0,55%.

As ações da Petrobras, que abriram em alta, encerraram o dia em baixa. Os papéis mais negociados da petrolífera tiveram baixa de 1,67%, para R$ 10,01. As ações ordinárias perderam 1,08%, para R$ 10,99.

Apesar da alta, a Bolsa deve continuar oscilando de acordo com os rumos políticos do país, avalia Newton Rosa, da SulAmérica Investimentos. "Os investidores dificilmente têm montado posições de longo prazo na Bolsa. O quadro de incertezas políticas continua pesando", ressalta.



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