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Crise de liderança

Veículo: Folha de S. Paulo

Seção: Colunistas - Pedro Luiz Passos

Com a recessão e o desemprego em alta, é natural que empresários e trabalhadores estejam ansiosos pela volta do crescimento, interrompido pelos sucessivos erros da política econômica dos últimos anos.

Esse dia chegará, é certo, mas, a meu ver, não virá em breve, o que significa que tempos muito difíceis nos aguardam. E ninguém pode antecipar se o crescimento, quando voltar, vai se apoiar em bases que nos aproximem dos melhores padrões predominantes em âmbito global.

No mundo empresarial, é justamente nas crises que mais devemos nos aplicar pela qualidade da produção. Isso também vale para a economia. Temos sido tolerantes com práticas erradas e políticas de pouca ou nenhuma eficácia, a exemplo do que acontece em campos fundamentais para o desenvolvimento econômico-social, como o educacional, o comércio exterior e a área fiscal.

Enquanto perdurou o contexto externo favorável às commodities e o mercado interno assegurou dinamismo ao emprego e à renda da população, sobretudo a de menor poder aquisitivo, as repercussões negativas de tais práticas não vieram à tona, o que já não se verifica.

Para não reproduzir mais uma vez o voluntarismo nas decisões de política econômica, é preciso definir o tipo de desenvolvimento que queremos e as mudanças estruturais para afiançar a trajetória de longo prazo.

São reformas importantes para melhorar de imediato as expectativas dos empresários e das famílias e, dessa forma, trazer de volta o crescimento econômico. E também para reconstruir a coesão parlamentar desfeita pelo acúmulo de fracassos, gerando um ambiente do tipo "onde falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão".

Nesse sentido, temas relativos a concorrência, competitividade, inovação, solidez fiscal e equacionamento da dívida pública assumem papel central e exigem compromissos com a qualidade da educação e da infraestrutura, além de incremento da capacidade inovadora e da produtividade das empresas.

A essa pauta de reformas deve-se incluir também medidas simplificadoras e modernizantes da estrutura tributária e da legislação trabalhista e prever a abertura responsável da economia, via aproximação com os países mais desenvolvidos e a necessária revisão tarifária.

A crise política é parte determinante da crise econômica. A solução desta pressupõe o endereçamento daquela. A situação atual é ruim pela ausência de liderança de governo capaz de guiar as decisões políticas que impactam a economia. A desarticulação tem sido a tônica da relação entre o executivo e a esfera político-parlamentar. O reordenamento político, portanto, é o primeiro passo para viabilizar o programa econômico que se faz imprescindível.

Alguns criticam a rapidez dos ajustes na economia e questionam se determinadas metas, como a fiscal, estão acima das possibilidades do país no momento. O debate é salutar, desde que não iniba nossa determinação em enfrentar os verdadeiros problemas e não nos iluda com soluções fáceis.

E mais: desde que processos já iniciados não sejam paralisados e não se caia novamente na armadilha de substituí-los por "pedaladas" e paliativos, que compuseram o rol das más políticas recentemente adotadas e que estão a cobrar um preço elevado à sociedade.

Uma vez reconhecidos os erros e aprendidas suas lições, creio que a política econômica a implementar se torna cada vez mais consensual. Mas o passaporte para um país com inflação controlada, competitivo, capaz de recuperar o ímpeto perdido do setor industrial e fomentar o setor externo, depende, fundamentalmente, da solução do imbróglio político em que se meteu. 



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