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Real é uma das moedas mais vulneráveis a freio da China

Veículo: Valor

Seção: Economia

O real é uma das moedas atreladas a commodities mais vulneráveis a uma desaceleração mais forte da China. Apesar da recuperação recente do mercado acionário no país asiático, a preocupação com a segunda maior economia do mundo segue no radar dos investidores e é um fator de risco adicional para a divisa brasileira. Segundo analistas, a vulnerabilidade brasileira se dá não só do lado comercial, dado que a China é o segundo principal destino das exportações do país, atrás da União Europeia, mas também porque há fatores domésticos que impedem a adoção de medidas para limitar esses efeitos.

O principal índice da bolsa chinesa, o Xangai Composite Index, acumula baixa de 23,15% desde o pico registrado em 12 de junho. Apesar de o governo chinês ter anunciado uma série de medidas para limitar a queda, restringindo, por exemplo, a venda de ações, analistas veem risco de contágio para outros setores da economia ­ o que poderia ter forte impacto sobre os preços das commodities. Na semana passada, o preço do cobre atingiu o menor nível desde 2008, enquanto o minério de ferro chegou ao menor nível em dez anos. Na América Latina, Chile e Brasil são os países mais expostos às variações desses produtos. A queda das commodities afeta os termos de troca, o que traz uma pressão maior de desvalorização para o real para ampliar a competitividade das exportações, lembra Alberto Ramos, diretor de pesquisas macroeconômicas para a América Latina do Goldman Sachs.

A receita do Brasil com as exportações de minério de ferro, um dos principais produtos da balança comercial brasileira, desabou 49% entre janeiro e junho. A queda do preço do minério de ferro afetou outras moedas de países exportadores da commodity, como o dólar australiano, que alcançou na semana passada o menor nível em seis anos. Para o economista­chefe para a América Latina do banco ING, Gustavo Rangel, as moedas na América Latina mais vulneráveis à queda do preços das commodities são o peso colombiano e o real. "O real estava com uma performance melhor que os seus pares, apesar de o Banco Central ter reduzido a rolagem dos contratos de swap cambial que estão vencendo.

Mas o aumento da aversão a risco devido à preocupação com a China afetou o preço das commodities e impactou negativamente o real", diz. Para ele, as medidas de intervenção do governo chinês trouxeram um certo alívio, mas há, de certa forma, dúvidas sobre o quanto é sustentável essa recuperação. "Há um artificialismo nos preços das ações e isso não quer dizer que estamos confiantes de que haverá uma recuperação, pois a situação do mercado continua muito fragilizada e os preços das commodities podem cair mais", afirma.

O economista do Standard Chartered, Italo Lombardi, acredita que o movimento de aversão a risco na China parece estar restrito ao mercado de ações e, por isso, vê impactos limitados para a economia real no país asiático. Se isso se confirmar, os preços das commodities metálicas podem ter uma recuperação, o que beneficiaria as moedas atreladas a esses ativos. Lombardi afirma que, apesar de o Chile ser o país da América Latina com maior exposição à China, com a economia asiática respondendo por 23% das exportações chilenas, o governo tem espaço para adotar medidas anticíclicas para atenuar esses efeitos. "O Chile tem colchão para amortecer os choques externos. A taxa de juros real no país é negativa e a política fiscal tem espaço para se tornar mais expansionista", diz.

No caso do Peru, apesar da grande exposição a commodities, Rangel, do ING, lembra que o banco central vem intervindo no mercado e limitado uma desvalorização maior da moeda. Já no Brasil, Lombardi afirma que há uma combinação de fatores domésticos, como incerteza no cenário político e em relação ao ajuste fiscal, além de baixo crescimento, que intensifica os efeitos da aversão ao risco. Por isso, o economista do Standard Chartered vê um cenário mais pessimista para o real, prevendo câmbio a R$ 3,40 no fim do terceiro trimestre e R$ 3,20 no fim do ano. Ontem, o a moeda fechou cotada a R$ 3,1309. O Morgan Stanley segue com uma visão negativa para moedas atreladas a commodities como o dólar australiano, dólar neozelandês, dólar canadense e o rand sul­africano, além do real. O banco destaca que o rand é uma das moedas emergentes mais expostas à desaceleração do crescimento na Ásia, dado que mais de 50% das exportações são de metais e de base mineral e mais de 10% estão atreladas à China.

A queda do petróleo, com o preço do barril tipo Brent acumulando recuo de 7,8% no mês, ainda afetou moedas como o peso colombiano, o rublo da Rússia e dólar canadense. Segundo Ramos, do Goldman Sachs, países com fundamentos macroeconômicos fracos e alto déficit em conta corrente tendem a ser os mais vulneráveis nesse cenário de aversão a risco. Na América Latina, ele destaca que, apesar de a Colômbia ter um déficit em conta corrente maior que o do Brasil, alcançando 7% do PIB no primeiro trimestre, a economia está crescendo, tendo registrado avanço anualizado de 2,8% no primeiro trimestre. "O Brasil está com um déficit de 4,39% do PIB, com uma economia que está em recessão."



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