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Cenário se deteriora para varejo de moda

Veículo: Valor

Seção: Economia

O inverno mais frio e chuvoso de 2015 e as liquidações antecipadas não foram suficientes para atrair mais consumidores às redes de varejo de moda. O aumento da inflação e do desemprego e a consequente deterioração da renda das famílias causaram deterioração ao varejo de moda. Mesmo as maiores companhias do setor ­ C&A, Renner, Riachuelo, Pernambucanas e Marisa ­ sofrem os efeitos da retração econômica. A expectativa é que as companhias de capital aberto apresentem resultados mais fracos no segundo trimestre por conta desse cenário.

Os indicadores sinalizam a piora. De acordo com os dados do IBGE, a produção de vestuário e acessórios tem queda de 13,2% no acumulado de janeiro a maio. As vendas do varejo de moda até abril têm queda acumulada de 4,2%. Analistas do Citi Research calculam que, em média, as famílias destinam 8% da sua renda para compra de artigos de moda e tendem a reduzir esses gastos se há piora nos ganhos. Até maio, a taxa de desemprego no país ficou em 6,7%. O rendimento médio real habitual das pessoas ocupadas ficou em R$ 2.117,10, o que representa uma queda de 5% em relação a maio de 2014.

Pelos cálculos de economistas do Bradesco, o consumo das famílias dentro do Produto Interno Bruto (PIB) apresentará uma queda de 2% no segundo trimestre frente ao primeiro. Mesmo mantendo uma taxa de inflação de 1,39% no primeiro semestre, contra um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 6,17%, o varejo de moda enfrenta dificuldades. O ambiente negativo chegou até a Renner, que costuma apresentar resultados acima da média de seus competidores. Em uma apresentação recente a analistas de mercado, o presidente da Renner, José Galló, disse que a varejista manteve no segundo trimestre ritmo de crescimento de dois dígitos nas vendas em mesmas lojas (unidades abertas há mais de um ano), mas já adiantou que o desempenho financeiro apresentado no primeiro trimestre pode não se repetir. O executivo da Renner também disse que esperava nos próximos resultados um aumento nos níveis de inadimplência e um cenário mais desafiador na segunda metade do ano. A equipe do Citi Research estima para a Renner uma desaceleração no desempenho de vendas em mesmas lojas no segundo semestre, com a deterioração da economia.

Os analistas estimam uma desaceleração da taxa de crescimento em mesmas lojas, para uma média no ano de 8,8%. Guilherme Assis, analista da corretora Brasil Plural, estima para a Renner ganhos de participação de mercado e crescimento em mesmas lojas ainda acima dos 10% no segundo trimestre. Mas observa que o cenário não apresenta indicativos de melhora para o varejo de moda na segunda metade do ano. "Não vejo melhora no curto prazo. As indefinições políticas, a inflação alta e o aumento do desemprego levaram à perda na confiança do consumidor para ir às compras", afirmou Assis.

A Riachuelo, segunda maior varejista de moda na BM&FBovespa, também já anunciou que espera uma piora nos níveis de inadimplência, que no primeiro trimestre estavam em 6,5%. Em apresentação recente, Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, disse que essa taxa deve chegar a 7,5% até o fim do ano. Rocha considerou, no entanto, que o segundo trimestre do ano passado foi fraco para o varejo de moda devido aos feriados da Copa do Mundo. Como a base de comparação é baixa, o desempenho de vendas da companhia tende a apresentar resultados mais favoráveis.

A presença mais forte da Riachuelo e da Renner em shopping centers também ajuda as companhias no momento. Segundo pesquisa da Serasa, as vendas do varejo para o Dia das Mães caíram 2,6%. Nos shopping centers, houve um incremento nas vendas entre 0,5% e 1%. A notícia foi um alento para empresas como Renner, com 93% das unidades em grandes centros comerciais, Restoque (85%), C&A (84%) e Riachuelo (82%). Fora da bolsa brasileira, a C&A deu sinais de que enfrenta dificuldades, mesmo com forte presença em shopping centers. A varejista fechou neste mês sua loja no Shopping Anália Franco, em São Paulo, e a loja no BarraShoppingSul, em Porto Alegre (RS). A rede está devolvendo as lojas alugadas aos shoppings. Queda no desempenho de vendas em mesmas lojas teria levado a companhia a essa decisão. A empresa disse que, apesar disso, mantém o plano de expansão de longo prazo de 30 lojas por ano, em média. Os shoppings que a C&A deixou passaram a ser ocupados pela rival Forever 21. A varejista americana entrou no Brasil no ano passado, com um plano agressivo de expansão, com meta de chegar a 35 lojas até o fim deste ano.

Mas a rede também enfrenta dificuldades. Desde sua chegada ao país, a Forever 21 manteve os preços dos produtos e opera com prejuízo. Em função do desempenho abaixo do esperado, a Forever 21 reduziu o plano de expansão e prevê agora fechar o ano com 26 lojas no país. De acordo com Guilherme Assis, a Marisa também deve apresentar desempenho fraco no segundo trimestre, devido ao seu foco na classe C, que anda com o bolso mais vazio neste ano.

E Hering ainda terá o desempenho prejudicado pela dependência em relação às franquias, que têm uma postura mais conservadora nos períodos de crise. A Hering tem 729 franquias e 79 lojas próprias no Brasil. Juntas, as franquias respondem por 38% do faturamento da companhia.



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