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Para indústria e sindicatos de Santa Catarina, MP do emprego resolve apenas parte do problema

Veículo: Notícias do Dia

Seção: Notícias.

A MP (Medida Provisória) anunciada pelo governo federal nesta terça-­feira (7) para permitir que empresas com dificuldades financeiras reduzam a jornada de trabalho e o salário dos funcionários por até um ano repercutiu no setor produtivo catarinense. O PPE (Programa de Proteção ao Emprego) propõe diminuir em até 30% as horas de serviço e 15% o salário pago pelo empregador.

Ao desonerar a folha das empresas e bancar os outros 15% da perda salarial dos trabalhadores, o governo espera, num cenário de crise, manter 50 mil empregos com salário médio de R$ 2.200. Clique na imagem para ampliar Para o presidente da Fiesc (Federação Catarinense das Indústrias), Glauco Côrte, a medida anunciada é melhor que a demissão e o seguro­desemprego, mas não é o ideal para estimular a economia em retração.

Em Santa Catarina, segundo Côrte, a indústria de transformação, que lidera o ranking nacional na geração de empregos, demitiu cerca de 5.000 trabalhadores em abril e maio, porém ainda tem saldo positivo de 12 mil vagas. “Em junho, quando fechar os dados, deveremos ter novas demissões”, disse o presidente, que não vê melhoras no cenário até o fim do ano. Já a CUT (Central Única dos Trabalhadores) em Santa Catarina se posicionou contra. A secretária­geral no Estado, Ana Júlia Rodrigues, disse que nada justifica a redução dos salários. “O governo, seja qual for, não pode colocar a conta da crise nas costas de quem trabalha”, criticou. Ao ser questionada sobre o apoio da CUT nacional e da Força Sindical ao projeto, Ana Júlia foi enfática: “Quem tem que dizer se a medida é boa ou não é o trabalhador”.

A lista dos setores que poderão aderir ao programa federal ainda não foi divulgada. O governo tem 15 dias para adequar a proposta. No entanto, se depender da queda na produção e nas vendas, indicadores de crise, os setores metalúrgico, metalmecânico, autopeças, máquinas e têxtil do Estado se enquadram. Sindicatos aguardam impactos Os setores da indústria têxtil, autopeças e máquinas e equipamentos no Estado também comentaram a medida.

Para o presidente Sintex (Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário) de Blumenau, Ulrich Kuhn, a ação do governo é paliativa, mas pode conter o avanço do desemprego. O executivo destaca, no entanto, que é necessário acordo entre os sindicatos para a viabilização. “Muitos outros fatores precisam ser resolvidos para proporcionar competitividade à indústria nacional e manter o nível de empregos a longo prazo”, destaca Kuhn. O presidente do Sindipeças (Sindicato Estadual das Empresas de Autopeças) na regional de Joinville, Hugo Ferreira, afirma que o setor ainda vai analisar o impacto da medida e se poderá atender às empresas do ramo. O setor, segundo ele, registra forte queda no faturamento para as empresas que dependem das montadoras, mas vai bem em relação às que exportam. Para indústria e sindicatos de Santa Catarina, MP do emprego resolve apenas parte do problema­. 

Já o presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Mecânica e de Materiais Elétricos de Jaraguá do Sul e região, polo no Estado, Célio Bayer, cujo setor amarga 25% de queda em relação a 2014, a medida é positiva. “Esperamos que atinja todos os segmentos, de modo geral, porque permite que as empresas mantenham seus quadros. Não é suficiente para melhorar a economia, mas impede a piora”, afirma.

ENTREVISTA

Divulgação Glauco Côrte, presidente da Fiesc :

Notícias do Dia ­ A medida é positiva para a indústria catarinense?

Glauco Côrte ­ O primeiro aspecto a ser considerado é que o governo está reconhecendo que estamos em uma crise, o que até então negava. Nos últimos dois meses, a taxa de desemprego aumentou no país, o que deve se repetir em junho. O segundo ponto é que a medida anunciada é melhor que o segurodesemprego, que desloca funcionários e onera as empresas. Reduzir a carga horária e o salário é melhor que demitir. O terceiro aspecto é que a medida não é a melhor para estimular a economia. Em vez de proteger o emprego, seria melhor que o governo anunciasse medidas para estimular a geração de novas vagas. Deveria criar uma agenda positiva para o país, que não temos até hoje. Há poucos dias, o governo tomou uma medida que favoreceu o desemprego, que foi a desoneração da folha de pagamento e menos de um mês depois lança essa outra. Isso mostra falta de coordenação do governo em relação às medidas econômicas.

:: ND ­ Que efeitos a indústria espera?

GC ­ Ainda não dá para saber, nem mesmo os setores que serão impactados. O que mostra até agora é que o governo está sentindo a retração da economia e está preocupado com o desemprego, que em maior número piora a crise.

:: ND ­ A indústria catarinense apresentou queda na produção e nas vendas nos primeiros meses do ano. Qual o cenário previsto?

GC ­ A indústria catarinense, sobretudo a de transformação lidera a geração de emprego no país. Em março fechamos o primeiro trimestre do ano com mais de 17 mil empregos. Abril e maio, tivemos queda de 5.000 vagas, então ainda temos um saldo de 12 mil e continuamos liderando. Mas a economia está parada, com dificuldade de reagir, o poder de compra das famílias também reduziu muito. Neste ano, teremos poucas oportunidades de reação, a tendência é de queda.

:: ND ­ Os setores em queda no Estado podem entrar no programa?

GC ­ As medidas visam, sobretudo, o setor automobilístico, o mais afetado pela atual crise e que emprega um contingente grande de trabalhadores. A BMW em Santa Catarina é mais recente e deve ter um quadro mais ajustado, sem necessidade de entrar no programa. Acho que antes de aderir, as empresas catarinenses devem mudar os turnos, quem tem três, passa a ter dois, provavelmente, e vão optar por outras medidas. É claro que a medida anunciada não deixa de ser uma alternativa para as empresas, porque é melhor que o desemprego. 



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