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IPCA encosta em 8,5% e adia 'alívio' para 4º tri

Veículo: Valor

Seção: Economia

A coleção de aumentos de tarifas públicas no início do ano continua e, aparentemente, espalha efeitos pelos preços, o que levou a inflação de maio a surpreender ­ negativamente ­ os analistas de mercado, ao mostrar alta de 0,74% na passagem mensal, o que já significa 8,47% nos doze meses encerrados em maio. Diante dos números, as expectativas agora são de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) só deve começar a desacelerar no último trimestre de 2015.

Sem sinais consistentes de perda de força e bem acima da média esperada pelos analistas ouvidos pelo Valor Data, que era de 0,58%, o IPCA de maio esquentou o debate em relação à extensão do ciclo de aperto monetário em curso pelo BC tende a esquentar. Para analistas, o cenário mais provável ainda é de um último aumento de 0,25 ponto na próxima reunião, já que o aperto das condições monetárias tem efeito defasado sobre a economia e cada indicador de atividade divulgado reforça a avaliação de que o país está em recessão.

Por outro lado, dizem, é essencial restringir o choque de preços administrados a 2015 e, por enquanto, os sinais são de que esses reajustes estão sendo em alguma medida repassados para os preços. Em maio, boa parte da surpresa com o IPCA ficou concentrada no aumento da tarifa de energia elétrica, no reajuste de jogos de azar e no repique dos preços de alimentos e bebidas.

Ainda assim, os núcleos, que excluem itens mais voláteis e dão indicação da tendência, ainda subiram 0,68% no mês passado. Para Fábio Romão, economista da LCA Consultores, a crise hídrica e o aumento de custos influenciaram significativamente no comportamento dos alimentos em maio. O grupo voltou a subir mais do que 1% no mês passado, com alta de 1,37%, após avanço de 0,97% em abril.

Os alimentos in natura, que costumam ter deflação no período, ficaram 5,8% mais caros. "A crise hídrica influenciou nessa dinâmica, não só pela escassez de água em si, mas também por causa da redução de confiança que esse fato gera. Há sinais de que os produtores de hortifruti reduziram mão de obra, o que acaba afetando a produtividade", diz. Junho deve continuar a ser um mês de alta expressiva de alimentos, com variação de 0,75%, estima a LCA. No mesmo período de 2014, o grupo teve deflação de 0,11%.

Romão avalia que, além da crise de abastecimento de água, os preços de alimentos e bebidas também estão sendo contaminados pela alta de custos com energia elétrica, com frete e com transporte público, por exemplo. "Esses fatores impedem que os alimentos desacelerem, a despeito do comportamento favorável da safra e das commodities no mercado internacional". Para o ano, o economista estima alta de 9,3% desse grupo, que tem peso de aproximadamente 25% no índice oficial de inflação, mais do que o aumento de 8% no ano passado. Além da pressão em alimentos, os preços administrados continuam a puxar a inflação. Sozinha, a alta de 2,8% da tarifa de energia elétrica elevou o IPCA em 0,11 ponto percentual em maio.

O índice de maio veio bem acima da estimativa de 0,60% do Besi. Boa parte da surpresa ficou concentrada em preços administrados e alimentação e bebidas. O reajuste de jogos de azar também levou o grupo despesas pessoais a acelerar de 0,51% para 0,74% na passagem mensal. "Era esperado algum alívio dos preços administrados no segundo trimestre, mas tivemos alguns reajustes não antecipados que mantiveram esses itens pressionados", observa Flavio Serrano, economistasênior do Besi Brasil. Em maio, os preços monitorados por contrato subiram 1,22%.

Ainda que a surpresa com o IPCA tenha ficado concentra em dois grupos, é difícil amenizar o resultado divulgado pelo IBGE, diz Serrano. A média dos núcleos subiu 0,68% em maio, um número ainda elevado. "E esse dado ruim tem potencial para afetar negativamente as expectativas", diz. O economista deve elevar sua estimativa de IPCA de 8,5% neste ano, mas manter a alta de 5,4% esperada para 2016. "A resposta dos preços à política monetária vem com defasagem grande e só a partir de outubro que a taxa de juros passou para campo contracionista", diz. Romão, da LCA, avalia que a inflação só vai desacelerar no último trimestre.

Até lá, o índice oficial de inflação deve alcançar 9,2% em agosto, para só então começar a ceder gradativamente para 8,8% ao fim de 2015. A projeção anterior era de aumento de 8,6% no ano. "O processo de desinflação é mais difícil diante dessa pressão de custos, com a qual vamos ter que conviver ainda durante um bom tempo. Essas pressões só devem se diluir no fim do ano, até porque as quedas do PIB e da renda vão tornar mais difíceis os repasses para o consumidor". A inflação mais alta observada neste ano também dificulta a convergência da inflação para o centro da meta em 2016.

Romão revisou de 5,1% para 5,2% sua estimativa para o IPCA no ano que vem em função do resultado divulgado hoje pelo IBGE. A evolução das estimativas de inflação para 2016 deve ser central para ditar os próximos passos da autoridade monetária, em um momento em que atividade está muito fraca, mas a inflação corrente não dá grandes sinais de desaceleração, comenta Serrano, do Besi. Por enquanto, o economista projeta alta de 0,25 ponto da Selic na próxima reunião do Copom, encerrando o ciclo de alta de juros.

No entanto, se a projeção do BC para IPCA em 2016 no próximo Relatório Trimestral de Inflação não convergir para algo entre 4,5% e 4,6%, ainda não estará claro se o ciclo de aperto termina em julho. De qualquer forma, diz Serrano, é pouco provável que o Banco Central eleve a Selic para além de 14,5%, até porque altas adicionais de juros no fim do ano só terão efeito sobre a dinâmica inflacionária de 2017. 



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