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Fashion Labs - inovação na união entre moda, varejo e tecnologia

Veículo: Stylo Urbano

Seção: Inovação

“A moda não é algo presente apenas nas roupas“, disse Coco Chanel uma vez. “A moda tem a ver com idéias, a maneira como vivemos, o que está acontecendo.” Hoje, a afirmação de Chanel é particularmente evidente na intersecção crescente entre moda e tecnologia. Fashion Labs são uma junção de laboratórios de pesquisa tecnológica, espaços de cosewing e startups de moda para designers emergentes e empresas inovadoras. Funcionam da mesma forma que os laboratórios digitais conhecidos como Fab Labs mas com foco em moda.

Surgiu na Europa um casamento mais efetivo de coworking + mundo da moda, o qual foi batizado de cosewing (ou costura, em português) que é o utilizado nas Fashion Labs. Alguns espaços pelo mundo já estão engajados neste modelo, como o Nadewald e o Nähinstitutem em Berlim (Alemanha), The Sewing Cafe na Inglaterra e na Espanha temos o Teté Cafe Costura, Hecho por Mi em Madrid, o Café con Dedal em Bilbao, o Lantoki, Moda 22, Rosas Craft e Costuretas Social Club em Barcelona e o Sevilla de Moda em Sevilha. No Uruguai tem o Café Costura em Montevidéo.

Esses locais foram criados para empreendedores da moda que querem produzir suas coleções mas não tem condições financeiras para alugar um espaço físico e a maquinaria necessária. Um dos primeiros passos que conduziram à criação de espaços de coworking foram os Cybercafes (cafés de internet), que os freelancers começaram a frequentar a fim de escapar da solidão de trabalhar sozinho em casa. Da mesma forma, o cosewing começou com o chamado “sewing cafes” (café costura). Essas cafeterias permitem ao estilista alugar por hora uma máquina de costura e começar a trabalhar em seu projeto criativo. O cosewing assim como o coworking, giram em torno da comunidade. Ambos são alimentados pela colaboração, união e a criação de sinergias. Não é tudo de bom?

Pouco a pouco, o cosewing vêm ganhando popularidade em todo o mundo, muito provavelmente auxiliado por um desejo crescente de escapar da produção em massa do fast fashion (finalmente!) e um gosto restaurado para os produtos feitos à mão e a ascensão da forma de produção artesanal e customizada. Nas cosewings mais estruturadas os designers de moda terão de forma compartilhada, máquinas de costura para tecidos leves e pesados, manequins, mesas de corte profissional, máquinas de acabamentos, mesas de passar roupa, máquina de termocolagem, material básico de costura, salas de reunião além de todo o networking criativo que existe ao se aliar com mentes que pensam moda. É comum também espaços de cosewing se mesclarem a cafeterias, o que dá um ar mais informal e pode ser bom para insights criativos. As empresas de cosewing só oferecem a infra-estrutura tradicional de uma confecção e não tem foco em novas tecnologias como impressão 3D, impressão digital e tecnologia vestível como acontece com algumas Fashion Labs.

Essa nova onda do slow fashion veio para mudar as coisas no mundo da moda como é o caso da plataforma de e-commerce americana Etsy tem mais de 800.000 comerciantes e mais de 12 milhões de clientes em todo o mundo. O objetivo do Etsy era mudar a maneira com que economia global funcionava, dando oportunidade para as pequenas empresas, designers e artesãos, venderem suas criações globalmente e receberem diretamente dos compradores os produtos que compraram online, fazendo assim uma troca mais justa, sustentável e divertida. A julgar pelos resultados, parece que eles estão tendo muito sucesso. A tendência se tornou tão popular que após o Etsy surgiram outras plataformas semelhantes, como a alemã DaWanda e a francesa A Little Market.

É essencial ter acesso a equipamentos básicos de escritório em espaços de coworking, mas no caso do cosewing, ter acesso às máquinas especializadas (com preços que um designer de moda iniciante provavelmente não pode pagar) gera um valor único para o usuário. Por esta razão, um espaço bem equipado como cosewing tem de ter um maior investimento inicial em equipamentos, e este investimento particular será diretamente proporcional ao número de usuários interessados ​​no espaço. Embora não existam muitos espaços comunitários no mundo (ainda) que estão seguindo o modelo de cosewing, há projetos muito interessantes em andamento. Alguns deles são considerados mais como um café de costura informal, enquanto outros são destinados diretamente para profissionais criativos. Estes espaços mais profissionais permitirão aos profissionais alugarem um espaço mensalmente e também fornecer uma comunidade integrada onde eles podem acessar os recursos, a fim de facilitar a comercialização de seus produtos.

Fashion Labs são criadas por universidades, profissionais da iniciativa privada ou parceria entre governo e empresas para desenvolver inovações em moda, varejo e tecnologia, criando um crescimento em inovação tecnológica, prosperidade econômica e criação de novos empregos. Nos mais recentes relatórios sobre tendências, vemos o surgimento de um novo ciclo tecnológico na qual o poder dos micro computadores estarão integrados em todos os tipos de objetos que serão utilizados pelos consumidores em suas vidas diárias. E um dos grandes nichos emergentes de mercado é o das tecnologias vestíveis (wearable tech). Analistas preveem que a indústria de tecnologias vestíveis movimentará US$ 10 bilhões em 2016. Esse ramo emergente de pesquisa tem grande potencial econômico e inovador para crescer cada vez mais.

Todas as indicações são de que a tendência da tecnologia incluem roupas e acessórios vestíveis de todos os tipos que vão possibilitar novas maneiras de se comunicar com outras pessoas no dia-a dia. Num setor que tem mantido seus processos de produção sem grandes mudanças nas últimas décadas, este campo vai dar origem a novos tipos de oportunidades de emprego e de negócios para qualquer empresa que tenha acesso às metodologias de projeto, ferramentas, conhecimento e interação que fazem a diferença contra seus concorrentes. Uma marca de moda famosa pelo uso da tecnologia vestível em suas coleções é a fantásticaCutecircuit, usada por várias celebridades e que não tem nenhuma outra concorrente no mercado que use essa tecnologia.

O fast fashion movimenta bilhões de dólares anualmente, mas sua cadeia de produção e abastecimento percorrem um longo e complexo processo logístico de fabricação deslocando a produção do país de origem para serem fabricados em outros lugares muito distantes com custos menores. O Fashion Lab segue a filosofia do Slow Fashion que busca desenvolver toda produção localmente com a utilização de novas tecnologias e meios mais sustentáveis. Através de um programa de treinamento e suporte que cobre as principais disciplinas de destaque no mundo da moda (impressão 3D para fabricação, incluindo sensores para gerar outros tipos de interação, o uso de novos materiais inteligentes), a Bilbao Fashion Tech Lab (Lab BFT) quer colocar as empresas inovadoras da cidade de Bilbao na Espanha, em uma posição competitiva comparável à de empresas semelhantes instalados nas principais cidades globais, tais como Nova York, Londres ou Paris, bem como atuando como um catalisador para áreas de potencial latente como:

I. Inovação de produtos: A Lab BFT é uma incubadora de projetos e tem atualmente 5 empresas do setor de moda. Os participantes tiveram total apoio personalizado com o objectivo de desenvolver uma peça de roupa ou acessório que incluísse tecnologia vestível interativa ou técnicas de fabricação digital. A BFT Lab também financiou parcialmente os custo dos protótipos.

II. Treinamento e atividades educacionais:

O programa inclui uma série de workshops práticos sobre metodologias concebidas do conceito “faça você mesmo” para profissionais de moda e estudantes de vários centros acadêmicos do setor de engenharia, design e artes plásticas. As oficinas abrangem os seguintes temas: novos materiais têxteis, design de interação e sensores, impressão 3D e fabricação digital.

O programa foi projetado para durar um ano e tem toda uma comunidade de tecnólogos, designers, empresas e organizações ligadas á indústria da moda. O objetivo é apoiar os novos designers da cidade de Bilbao para capacitá-los a se destacar neste ciclo de mudança tecnológica.

Outro projeto de sucesso é a startup de moda, New York Fashion Tech Lab, que tem o patrocínio de grandes grupos de varejo para recrutar 8 empresas inovadoras em fase inicial de crescimento, dando-as acesso a renomados especialistas em varejo de moda que poderiam ter um impacto significativo sobre as perspectivas de crescimento das empresas e para que tenham sucesso duradouro. No mínimo, a empresa deve ter um protótipo do seu produto e pelo menos um membro na equipa técnica.

As empresas selecionadas para o laboratório devem estar sediadas na cidade de Nova York para a duração do programa. As áreas de interesse do projeto são os de impressão 3D, negócios inteligentes, logística, fabricação, infraestrutura, customização em massa, tecnologia vestível, ponto de venda, merchandising, comércio móvel para tablets e celulares, geo-localização entre outros.

Os Estados Unidos investem muito em inovação tecnológica como é o caso da prefeitura de Nova York que investirá US$ 3,5 milhões num novo epicentro da moda voltada para pequenas empresas chamado Manufacture NY, que será implementado num enorme galpão abandonado de 14.864m² no Brooklyn e vai abrigar tudo o que necessitam os empreendedores iniciantes para construir a sua marca e gerar renda e novas oportunidades de negócios em Nova York.

A ideia por trás do Manufacture NY é procurar os melhores fabricantes, modelistas e fornecedores que permitirão aos designers emergentes ficarem em Nova York, para juntos redesenharem a indústria da moda do século 21. O galpão terá espaço para indivíduos que desenvolvem marcas de moda, constroem aplicativos, hardware, processos de fabricação inovadores, tecnologia vestível e setores relacionados a design (por exemplo, acessórios, jóias, mobiliário, artigos para casa, interiores, etc). Haverá também máquinas industriais de tricô, impressão digital, impressão 3D e outras tecnologias.

Projetado para incentivar a fabricação local, criar empregos e apoiar novos designers e inventores, o novo espaços terá como objetivo abrigar de 20 a 30 empresas e até 50 designers. A criação do Manufacte NY pretende ser um sinal do compromisso da prefeitura de NY para apoiar a produção de moda na cidade ao incentivar a inovação e as parcerias entre os setores público e privado, segundo os organizadores. Além do ressurgimento da fabricação de moda na cidade e desenvolvimento econômico, a iniciativa destina-se a construir um centro de inovação em parceria com várias empresas de diferentes setores, incluindo os de tecnologia de ponta.

O Manufacte NY vai integrar técnicas de fabricação artesanal tradicionais com tecnologia e práticas de sustentabilidade incorporados para as áreas de vestuário, têxtil e tecnologia vestível além de uma variedade de serviços, incluindo um centro de treinamento e capacitação para que trabalhadores possam ganhar empregos bem remunerados, um centro de pesquisa e desenvolvimento para ajudar a criar novos conceitos de moda e inovadoras tecnologia vestíveis, uma pequena fábrica especializada em fazer pilotos através de processos automatizados para ser produzido em 30 minutos, espaço para 12 estúdios privados, espaço de sala de aula, salas de conferências, um laboratório de informática, uma sala de costura industrial, áreas de armazenamento e espaços de trabalho comunitário. 

O San Francisco Fashion Lab é outra startup de moda nos Estados Unidos para talentosos designers emergentes, aproveitando a herança e a criatividade empreendedora de San Francisco com 120 anos de história. Outros Fashion Labs muito interessantes existem pelo mundo servindo de incubadoras de novas ideias como a Fab Textiles de Barcelona, a Fashion Tech de Berlim e a Fashion & Technology Lab de Paris. Outro detalhe muito importante nessa nova etapa da moda, é o financiamento coletivo através da internet que está permitindo que novas startups de moda sejam criadas para combater a onda do fast fashion fabricado na Ásia, trazendo a produção de roupas e acessórios para mais perto de casa, graças aos pedidos mínimos, os fabricantes locais criam vestuário exclusivos e personalizados sem necessariamente seguir as tendências de moda.

Num Fashion Lab pode-se explorar o futuro dos têxteis, com particular incidência na mistura das ricas tradições do artesanato com as novas tecnologias. Pode-se criar dispositivos eletrônicos impressos sobre têxteis que tenham inúmeras utilidades tanto estéticas como médicas. Pode-se experimentar com uma vasta gama de fibras, fios e tecidos, incluindo os materiais tradicionais, como lã e algodão, bem como fibras de metal e fios, plásticos, papéis, fusíveis e resinas. Explorar técnicas como feltragem, corte a laser, tricô, impressão digital, bordado e impressão digital. O céu é o limite!

As startups de moda fornecem uma alternativa para a produção em massa para as massas. Pequenas startups online não estão preocupadas em produzir quantidades comparáveis ​​aos grandes varejistas, mas em vez disso atender a uma procura crescente de vestuário personalizado e exclusivo. O conceito destas novas startups de moda é simples e semelhante aos sites de financiamento coletivo Kickstarter e Indiegogo.

Os estilistas independentes sabem que eles operam em um setor altamente competitivo e precisam desenvolver suas próprias vantagens inovadoras e singulares para permanecerem relevantes. Métodos de fabricação, tais como a impressão 3D fornecem as ferramentas ideiais para ajudar os designers a fazerem pequenas quantidades a baixo custo. A moda feita através de financiamento coletivo se adapta bem aos tempos atuais devido a uma emergente tendência global de preferir a personalização e exclusividade.

O Trampery London Fields, localizado no bairro moderninho de Hackney, em Londres, é um descolado projeto de espaço compartilhado para trabalho de moda. Como o primeiro de seu tipo a especializar-se na indústria da moda, The Trampery London Fields foi criado para dar suporte a pequenas empresas de moda emergentes que não dispõe de recursos vitais. Dessa forma, a empresa pode oferecer vários espaços de trabalho para startups e designers independentes, com todo o equipamento necessário por uma taxa mensal acessível.

A empresa não só oferece espaço de trabalho compartilhado e estúdios individuais, mas também oferece um grande salão onde desfiles e lançamentos de produtos pode ser realizados. Em breve, um laboratório de moda estará disponível para permitir a experimentação de novas tecnologia de design em impressão digital e impressão 3D para completar a rica oferta da empresa. Muitas empresas emergentes criativas acabam falindo em menos de 5 anos por ter problemas de marketing, produção e posicionamento de marca, por isso as Fashion Labs são tão importantes.

E no Brasil, temos algo parecido com uma Fashion Lab? Por enquanto não mas será inaugurado o primeiro cosewing de moda do Brasil em São Paulo no final de julho de 2015 chamado Lab Fashion que está localizado na Rua Dona Antônia de Queiroz, 474 sala 16, num raio de 3km de escolas como FASM, IED e FAAP, e pretende ser um espaço para que profissionais insatisfeitos com o sistema atual, possam cocriar novos “caminhos”. No Lab Fashion os profissionais da área de moda poderão trocar experiências acerca da indústria têxtil e suas possibilidades além de ser um local de aprendizado onde serão propostos encontros, oficinas palestras e eventos que elucidem as questões do universo da moda, desde a costura e modelagem até comportamento. O espaço é dedicado a estudantes de moda, consultoras, editoras, figurinistas, modelistas e produtoras.

Outra iniciativa legal foi a primeira edição do Startup Weekend Fashion Tech no Brasil que ocorreu em São Paulo e contou com 87 participantes, 36 ideias e 13 projetos desenvolvidos em 54 horas. O evento que já aconteceu nas principais capitais de moda do mundo chegou a São Paulo para estimular essa nova geração a empreender e levar tecnologia e capital intelectual a moda brasileira. No time de mentores tinham 20 nomes de peso, entre empreendedores, influenciadores e grandes atores da área de tecnologia, negócios e moda, e na banca de jurados Felix Scheuffelen (Rocket Internet), Paulo Renato (Tropos Lab/ Instituto Inovação), Luiz Moraes (Grupo Nohda), Anderson Birman (Arezzo) e Marco Oliveira (Google). Agora só falta surgirem mais empreendedores para montar Fashion Labs e cosewings pelo Brasil. Mão a obra pois criadores precisando desse tipo de espaço existem.



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