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Do outro lado da ponte, há bons negócios no Paraguai

Veículo: Textile Industry
Seção: Economia

Em 2008, o avanço das importações chinesas e a economia estagnada pela crise financeira internacional obrigaram as empresas brasileiras a se desdobrarem.

Para não quebrarem, muitas expandiram os negócios para o Paraguai em busca de mão de obra barata e uma carga tributária bem mais amena. Sete anos depois, no atual cenário econômico, tudo indica que uma nova onda de migração está se desenhando.

Somente neste mês de maio seis empresas brasileiras decidiram cruzar a fronteira para se instalar no país vizinho, diz Wagner Weber, diretor do Centro Empresarial Brasil-Paraguai (Braspar), que intermediou as negociações. 

Weber não revela o nome dessas companhias, que pedem sigilo, mas diz que são de médio porte - sendo duas multinacionais - e atuam nos segmentos de cosmético, equipamentos esportivos, óptico, brinquedo e de plástico.

O perfil das empresas que estão buscando o Paraguai agora é mais difuso do que era em 2008, quando a migração se concentrava no setor têxtil.

De certa forma, esse movimento mais abrangente mostra que a desaceleração da economia brasileira afeta a todos. “Um dos empresários decidiu expandir sua operação para o Paraguai na semana passada após receber a conta de energia elétrica, que veio com 60% de aumento”, conta Weber.

Esse empresário em questão é do segmento de plástico, uma atividade que demanda grande consumo de energia elétrica. E o Paraguai tem eletricidade de sobra (por conta de Itaipu), tanto que o país vende o excedente para Brasil e Argentina. O custo da energia por lá é 30% inferior ao do Brasil. 

Um ano antes, a brasileira X-Plast, também do segmento de plástico, já havia descoberto essa vantagem. A empresa inaugurou uma planta em uma área de 80 mil metros quadrados em Ciudad Del Este, na fronteira com Foz do Iguaçu, dando emprego a mais de mil funcionários paraguaios. 

O custo de um trabalhador no Paraguai é até 30% menor do que o de um brasileiro. Isso, apesar do salário mínimo paraguaio (R$ 850) ser maior que o pago por aqui (R$ 788).

Onde está então a lógica dessa conta? Ela está nos encargos trabalhistas. No Paraguai o empresário não  paga Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), contribuição sindical, sistema S, entre outras obrigações.

Além de barata e abundante, a mão de obra paraguaia é jovem. Mais de 70% da população têm menos de 40 anos. Entretanto, não é bem preparada. O conselho de empresários que buscaram o país é que os interessados em traçar o mesmo caminho reserve parte dos investimentos para capacitação dos funcionários. 

Ao cruzar a fronteira o empresário brasileiro se dá conta de que não terá mais de preocupar com o Imposto de Renda Pessoa Jurídica, nem com PIS, Cofins ou ICMS. A maior parte da arrecadação está concentrada em um único imposto, um IVA (Imposto sobre Valor Agregado).

A carga tributária do Paraguai representa 12% do Produto Interno Bruto (PIB), uma das menores do mundo. No Brasil, a carga equivale a 35% do PIB. 

APOSTA NA SIMPLIFICAÇÃO

 

Nem sempre foi assim tão simples a sistemática tributária paraguaia. Na década de 1990 o país convivia com 41 tributos. Uma reforma no sistema fez esse número cair para cinco. 

“No Paraguai pagamos 10% de Imposto de Renda pessoa Física e 10% de IVA. Não existe a mão pesada do fisco brasileiro”, afirma Rolf Buddemeyer, presidente da Buddemeyer, tradicional fabricante do setor têxtil de Santa Catarina. 

Rolf fez parte da primeira onda de empresários brasileiros que, ainda em 2008, migraram para o país vizinho. Hoje, 15% dos itens de cama, mesa e banho do seu grupo são produzidos pela subsidiária paraguaia e exportados para serem vendidos no Brasil.

Os anos de experiência no Paraguai faz Rolf chegar a algumas conclusões interessantes. Segundo ele, como o sistema tributário paraguaio é simples, os empresários não precisam perder tempo fazendo planejamento tributário (elisão), ou seja, encontrando brechas legais para pagar menos impostos. “Usamos esse tempo para produzir mais”, diz.

Além disso, diz Rolf, como se paga pouco imposto, a sonegação praticamente não existe por lá. “O prêmio da sonegação seria baixo, não compensa o risco”, diz, contrariando o imaginário popular de que o made in Paraguai é fruto de descaminho.

“Aquela imagem que temos da fronteira não condiz com a realidade do País”, diz o empresário.

Claro que um sistema tributário mais simples e com carga tributária tão baixa tem seu preço. A arrecadação não é suficiente para o governo paraguaio resolver os problemas de saneamento, infraestrutura, moradia, entre outros tantos existentes.

Mas a aposta é que a arrecadação do país cresça qualitativamente à medida que as vantagens tributárias atraiam mais e mais empresas, o que geraria mais emprego, aumentando poder de compra e o consumo.

O raciocínio parece estar funcionando. O Paraguai está entre os países que mais atraem investimentos estrangeiros. Em 2013, segundo dados do Banco Mundial, a economia daquele país cresceu 14,2%. Nos últimos 4 anos ela cresce, em média, quase 8% ao ano.

Por outro ângulo, as empresas vão para o Paraguai porque o país possibilita um bom retorno para o investimento, que em média é de 23%, e porque os custos para os empresários são baixos. Comparados aos do Brasil são, no mínimo, 25% menores, diz Weber, da Braspar.

O Paraguai tem os melhores índices de clima econômico da América Latina, com o indicador batendo os 127 pontos pelo último levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) agora em maio. O índice do Brasil marca 49 pontos, o pior em 26 anos.

O advogado tributarista Cristiano Yazbek, do escritório Amaral Yazbek advogados, lembra que o sangue empreendedor corre nas veias do atual presidente paraguaio Horacio Cartes.

“Ele é dono da maior indústria de tabaco do Paraguai (a Tabesa), e é um dos maiores exportadores do produto para os Estados Unidos”, diz o advogado, que tem intermediado a negociação de empresas brasileiras interessadas no país vizinho.

“Neste ano já instalamos no Paraguai players do setor automotivo, metal-mecânico e de materiais elétricos”, diz.

O PESO BRASILEIRO

 

Empresas de todo o mundo passaram a buscar o Paraguai nos últimos anos: argentinas, norte-americanas, uruguaias, espanholas.

Mas as brasileiras ganharam peso na economia paraguaia na última década. Hoje, cerca de 30% do PIB paraguaio tem participação brasileira.

Existem 87 empresas estrangeiras que operam no Paraguai como “maquiladoras” (maquiadoras, em português) e que se beneficiam de um regime especial, oriundo da lei Maquila. Essa lei permite às empresas importarem insumos e bens de capital isentos de impostos, desde que exportem o produto final. Dentro desse grupo, 65 são empresas brasileiras.

É assim que opera a maior parte das companhias brasileiras instaladas por lá. A Buddemeyer, por exemplo, importa matéria-prima da China e da Índia, produz no Paraguai e exporta basicamente para o Brasil. 

Em 2014 o Brasil importou US$ 1,2 bilhão do Paraguai, o dobro do valor de 2008, que foi de US$ 657 milhões, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). 

Este ano a tendência é de que essas importações cresçam ainda mais. Até abril, os dados do ministério mostram que elas já alcançaram US$ 347 milhões. Há grande peso de produtos ligados ao agronegócio nessas importações. Mas produtos manufaturados, como roupas, autopeças, itens de cama, mesa e banho também possuem representatividade.

MERCADO INTERNO

 

Embora se tornar “maquiladora” ainda seja o principal objetivo das empresas que buscam o Paraguai, começam a surgir grandes oportunidades para aquelas que não pretendem exportar a produção.

O mercado de consumo paraguaio está muito distante de ter o porte do brasileiro, isso é fato. Entretanto, para alguns segmentos, com o da construção civil e o imobiliário, há uma mina de ouro esperando para ser explorada no país vizinho.

O setor da construção civil cresce 18% ao ano no Paraguai. O governo atual anunciou recentemente investimentos de US$ 1,4 bilhão para adequar a infraestrutura urbana do país, que deixa muito a desejar. 

Além disso, está acontecendo a duplicação de uma das principais rodovias paraguaias, que liga Ciudad Del Este a Assunção. Também, na área metropolitana de Assunção começam as obras do chamado Metro Ligero – um metrô de superfície.

Somente para a área de transportes o governo paraguaio pretende investir US$ 5,5 bilhões nos próximos 10 anos. Prédios residenciais de alto padrão começam a ser levantados, redes de transmissão de energia estão sendo ampliadas ao custo de US$ 2,5 bilhões.

As oportunidades estão do outro lado da ponte. 



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